As diferenças entre as notas gringas e as nacionais passam despercebidas pelos menos atentos| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Muito provavelmente poucas pessoas percebem detalhes nas notas de R$ 2 que passam pelas mãos diariamente. Itens como número de série, letras gravadas na cédula e empresa de fabricação passam despercebidos. Por isso, é provável que muita gente não tenha notado que esteve ou está com uma nota de R$ 2 “estrangeira”. A leva de 100 milhões de cédulas produzidas na Suécia, pela empresa Crane AB, já está em circulação e, segundo especialistas, é bem comum de ser encontrada.

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Entenda: saiba identificar as cédulas gringas

A importação do dinheiro é desdobramento de uma Medida Provisória (MP 745/2016) que acabou se tornando a Lei 13416/2017. O texto final autoriza o Banco Central a comprar, sem licitação, papel moeda e moeda metálica de Real fora do país e produzido por empresa estrangeira. A condição para a compra é que haja uma situação de emergência.

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Problemas técnicos para a compra emergencial

Para a aquisição das 100 milhões de cédulas de R$ 2 o Banco Central do Brasil (BCB) desembolsou R$ 21,17 milhões. A situação de emergência, de acordo com a assessoria do BCB, é “em razão de problemas técnicos e operacionais relatados pela Casa da Moeda do Brasil, resultando na fundada incerteza quanto ao atendimento de 27% do Programa Anual de Produção de Cédulas de 2016”.

Descubra: as notas gringas valem mais?

Segundo a Casa da Moeda do Brasil (CMB), de fato houve incerteza quanto a produção. A empresa reforça porém, que cumpriu o Programa Anual de Produção antes mesmo do prazo determinado, 31 de dezembro de 2016, e que tem “capacidade de produzir todo o meio circulante nacional [cédulas e moedas]”.

Soberania

Especialistas em numismática que já encontraram as notas circulando enxergam a medida como curiosa, “boa” para a numismática, por não acontecer com regularidade, mas ruim por afetar na soberania da CMB na produção nacional. Na ocasião da aprovação da lei, os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também fizeram o alerta para o fato de o texto ferir a soberania nacional. Ambos criticaram também a falta de critério para a autorização da importação.

Como identificar os R$ 2 “estrangeiros”?

Para reconhecer o Real “gringo” é preciso ficar atento aos detalhes. A primeira particularidade são as letras DZ, seguidas de um número sequencial, gravadas na nota sueca. A letra D indica o ano de fabricação e, como 2016 foi o quarto ano de produção de notas de R$ 2, ele leva a quarta letra do alfabeto. A segunda letra indicaria o mês de produção da cédula (A para janeiro, B para fevereiro e assim por diante). No caso da nota importada foi usada a letra Z, que, obviamente, não corresponde ao mês. Rogerio Bertapeli, especialista em numismática, acredita que a opção foi feita justamente para mostrar que a nota não é produzida aqui.

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Sequência começando com DZ na nota “gringa” 

Outra diferença está em números que quase ninguém sabe que existem. Próximo ao escrito “Deus seja Louvado”, gravado na nota, ficam marcadas uma sequência de letras e números que indica o valor de face da cédula e a posição dela na folha de impressão. Em notas de R$ 1 a sequência sempre inicia com a letra A, as de R$ 2 com a letra B, R$ 5 com C e assim por diante. No caso da nota fabricada fora do país, a letra que inicia a série é Y.

Série iniciada com Y, que foge do “padrão brasileiro” 

Por fim, uma diferença ainda mais sutil é o nome da empresa em que a nota foi produzida. Nas notas brasileiras está escrito sempre Casa da Moeda do Brasil. Já na nota importada está grafado o nome Crane AB, que foi a empresa responsável pela produção.

Detalhe da nota produzida pela Casa da Moeda do Brasil 
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Detalhe da nota produzida pela empresa Crane AB, da Suécia  

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As notas “gringas” valem mais do que R$ 2?

Bertapeli explica que dois fatores fazem cédulas serem compradas por altos valores: raridade e estado de conservação. Portanto, dentro dessa lógica a nota “estrangeira”, apesar de curiosa, não está valendo muito dinheiro, já que foram produzidas 100 milhões e elas ainda estão em circulação. “Vai ser relativamente fácil tirar uma novinha no caixa eletrônico. Ela por enquanto é bem comum. Notas raras tem tiragem bem menor que 1 milhão”, explica. “Claro que quem as queira pode pagar um pequeno ágio”, completa.

Histórico de importações

Essa não é a primeira vez que o Brasil manda produzir dinheiro em outros países. A primeira ocasião foi em 1994 na implantação do Plano Real, por causa da mudança de moeda e pela necessidade de uma produção em uma escala muito grande. Na primeira importação, foram produzidas notas de R$ 5 na Alemanha, pela empresa Giesecke & Devrient GmbH, de R$ 10 na Inglaterra, pela Thomas de La Rue & Company Limited, e de R$ 50 na França, pela François-Charles Oberthur Fiduciaire (FCO). No caso das notas de 1994 o valor é de fato maior para colecionadores, não só por terem sido produzidas em outros países, mas principalmente pela raridade e por não estarem em circulação há um bom tempo.