Escolhida pelo presidente Michel Temer (PMDB) para chefiar a Procuradoria-Geral da República (PGR), Raquel Dodge envolveu-se recentemente numa polêmica envolvendo a Lava Jato e travou uma discussão ríspida com o atual procurador-geral, Rodrigo Janot. A subprocuradora Raquel Dodge é vista no Ministério Público Federal (MPF) como opositora do grupo de Janot.
O embate entre Raquel e Janot ocorreu em 24 de abril, durante reunião do Conselho Superior do Ministério Público. Ela havia apresentado uma proposta de resolução para limitar em 10% o número de procuradores de cada estado que poderia ser cedido a operações especiais – como a Lava Jato. Segundo a subprocuradora, a ideia é que as unidades do MPF não ficassem desfalcadas para poder desempenhar outras atividades importantes.
O procurador-geral criticou a proposta de Raquel Dodge, afirmando que a resolução iria afetar a operação que investiga o petrolão. E a discussão começou. Confira como foi:
O bate-boca
Janot – Esse discurso de que [a proposta de limitar a cessão de procuradores] não vai afetar a Lava Jato é um discurso que tem de ser recebido com muita ponderação. Porque, na verdade, a não ser aqueles que participam da investigação, ninguém conhece a complexidade, o alcance e a dimensão do que representa essa investigação.
(...)
Raquel – Estou apenas querendo dizer que tomei o cuidado de examinar qual seria o impacto examinando, não exatamente quantas, mas quais as pessoas que integram, qual a sua lotação, visto que essa resolução regulamenta o percentual considerando a lotação dessas pessoas.
Janot – Mas a pergunta sobre impacto não foi feita, quero deixar isso bem claro.
Raquel – Foi feita, especificamente. (...) Consultei tanto o coordenador da força-tarefa da Lava aqui na PGR, o promotor de Justiça Sérgio Bruno...
Janot – A senhora não consultou o procurador-geral? Que é o coordenador-geral da força-tarefa da Lava Jato?
Raquel – Eu estive no seu gabinete duas vezes...
Janot – Estranho, estranho
Raquel – Não, não... Eu tentei consultar...
Janot – Eu estou disponível, conselheira.
Raquel – Então eu não tive o retorno de seu chefe de gabinete, o dr. Eduardo Pelella.... Porque estive lá várias vezes pedindo essa reunião.
Janot – O grupo de trabalho da Lava Jato perante o Supremo [Tribunal Federal] é sob a minha coordenação.
Raquel – É verdade, senhor procurador-geral. Eu nem estou limitando isso...
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Resolução adiada
Após a discussão, uma proposta contemporizadora foi apresentada: o limite de cessão de 10% seria mantido, mas apenas para as forças-tarefas constituídas a partir de janeiro do ano que vem – preservando operações como a Lava Jato. Essa proposta teve o apoio de oito dos dez conselheiros do MPF. Mas a resolução não foi aprovada em definitivo porque Janot pediu vista e adiou a decisão final.
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