Depois de ser flagrado pela Polícia Federal (PF) recebendo uma mala de dinheiro com R$ 500 mil em uma pizzaria em São Paulo, o ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) foi preso na manhã deste sábado (3) pela Polícia Federal, em Brasília.
A linha de defesa de Rocha Loures pode determinar não apenas o seu futuro depois do escândalo revelado pelas colaborações premiadas de executivos da JBS, mas também o futuro do presidente Michel Temer (PMDB), de quem Rocha Loures foi assessor especial até pouco tempo.
Logo que o vídeo de Rocha Loures carregando uma mala de dinheiro ganhou repercussão nacional, o presidente se apressou em tentar descolar sua imagem da do parlamentar. Segundo Temer, ele não era “tão próximo assim” de Rocha Loures e mantinha com o parlamentar apenas um relacionamento “institucional”. O presidente disse, ainda, que Rocha Loures deve ter sido “seduzido” pela corrupção praticada pela JBS.
O deputado teria dito a aliados que Temer não tem envolvimento no caso da mala de dinheiro e que ele teria agido sozinho. Rocha Loures também alegou que não sabia que havia dinheiro na mala. Na versão do parlamentar, ele teria se aproximado de Joesley por interesses comerciais, já que ele também é empresário do setor de alimentos.
A maneira como Rocha Loures responder aos questionamentos sobre sua participação no esquema pode sepultar de vez o governo Temer. A relação entre os dois vem desde 2010. Rocha Loures foi assessor da vice-presidência, auxiliou Temer na transição do governo depois do impeachment da ex-presidente Dilma, e seguiu como assessor especial de Temer até a nomeação do deputado Osmar Serraglio (PMDB) para o Ministério da Justiça. Como era suplente de Serraglio, Rocha Loures optou por voltar à Câmara e atuar na vice-liderança do governo na Casa para ajudar a garantir a aprovação das reformas.
Veja quais são os principais pontos que, dependendo de como forem esclarecidos pelo deputado, podem complicar a vida de Temer:
Emissário de Temer
O deputado foi responsável por agendar o fatídico encontro entre Joesley e o presidente, no dia 7 de março, no Palácio Jaburu. No encontro com Temer, o empresário fez a gravação que veio à público na semana passada e complica a situação do presidente, já que ele dá a impressão de dar o aval para a compra do silêncio do ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB), preso na Lava Jato, além de concordar com uma série de crimes cometidos por Joesley, como a compra de um procurador.
Em um encontro com Joesley um dia antes, no dia 6 de março, Rocha Loures é gravado pelo empresário contando sobre sua atuação no governo. “As vezes quando ele [Temer] precisa apertar um parafuso entre a equipe, ele não fala diretamente. Eu falo”, disse o deputado. Na conversa, o parlamentar disse ser um “emissário” de Temer.
Pessoa de estrita confiança
Nos depoimentos a colaboração premiada, os executivos da JBS contam que Rocha Loures foi indicado pelo próprio presidente para tratar de assuntos de seu interesse, já que o parlamentar seria uma pessoa de sua “estrita confiança”.
Em uma gravação feita por Joesley Batista em sua casa, no dia 13 de março, Rocha Loures se compromete a ajudar o empresário em assuntos da holding J&F – que controla a JBS – junto ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), a CVM (Comissão de Valores Imobiliários) e à Procuradoria –Geral da Fazenda Nacional. Em troca, a JBS pagaria uma mesada de R$ 500 por semana para Rocha Loures por 20 anos – totalizando uma propina de R$ 480 milhões. A PGR suspeita que Temer seria um dos destinatários do dinheiro.
Dois dias depois de receber a mala com R$ 500 mil da JBS em uma pizzaria, Rocha Loures viajou com o presidente Michel Temer para Paulo. A entrega da mala foi realizada no dia 28 de abril, por Ricardo Saud. No mesmo dia, cerca de uma hora depois do encontro com o executivo da JBS, Rocha Loures entrou em contato com o cerimonial de Temer para confirmar sua presença no voo com o presidente, no dia 30.
Posições chaves
Além de interceder pela JBS em um processo administrativo no Cade, em outro encontro com Joesley Rocha Loures oferece ao empresário cargos na Receita Federal, no Banco Central e outros órgãos. Joesleu menciona que algumas “posições chave” nos órgãos que precisam de pessoas “que sejam capazes de resolver seus problemas”. Rocha Loures, então, oferta a possibilidade de levar algum nome indicado por ele ao conhecimento de Temer.
Onde está o dinheiro?
Nesta terça-feira (23), Rocha Loures devolveu à PF a mala com dinheiro entregue pelo executivo Ricardo Saud na pizzaria em São Paulo. Só há um detalhe: a PF informou que a mala entregue pela defesa do deputado continha R$ 465 mil – e não os R$ 500 mil mencionados pelo empresário Joesley Batista na colaboração premiada. Segundo o comunicado feito pela PF de São Paulo, eram 9,3 mil cédulas de R$ 50. Não há registro do que aconteceu com o restante da quantia – nem se originalmente eram mesmo R$ 500 mil.
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