| Foto: R. R. Rufino/Arquivo Gazeta do Povo

Há pelo menos dois anos, desde a ascensão de Michel Temer à Presidência da República, circulam na internet boatos de que o governo quer privatizar o Aquífero Guarani, o maior manancial de água doce subterrânea do mundo. Apesar de ser impossível entregar a exploração dessas reservas ao poder privado, na última semana voltaram a circular informações sobre o tema, forçando a Coca-Cola e a Nestlé – apontadas como as principais interessadas no negócio – a convocar seu time de executivos e especialistas de comunicação para mais uma vez rebaterem as informações. 

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À Gazeta do Povo, a Nestlé informou que não possui nenhuma fonte oriunda do Aquífero Guarani. A Coca-Cola informou que tem a outorga de quatro fontes do Aquífero Guarani e duas delas, usada para engarrafamento de água mineral, serão abertas à comunidade. 

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O momento escolhido por sites de oposição a Temer para trazer à tona o boato, que inflamou movimentos sociais, foi a realização em Brasília do 8º Fórum Mundial da Água. Dois dias antes do início do evento, um link para o que seria uma suposta consulta pública sobre o assunto no Senado, que indicaria a intenção do governo em vender a reserva de água, voltou a ser divulgado em redes sociais e grupos de WhatsApp. A reboque, sites relembraram notícias antigas de que Temer teria se reunido com os presidentes das duas empresas, que querem ter acesso ao aquífero .

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A Nestlé teve de publicar posicionamentos em seu site nacional e mundial. Também colocou seus executivos, que estavam no Brasil para participar de eventos relacionados ao Fórum, para rebater as informações e divulgou documento com perguntas e respostas sobre o tema, em inglês em seu site global. A empresa também compartilhou notícias de agências internacionais que conferiam peso ao que informou à imprensa ao combater as “fake news”. 

“A Nestlé não extrai água de qualquer parte do Aquífero Guarani na América do Sul, inclusive no Brasil. Não temos planos para extração no aquífero e nem discutimos esse assunto com as autoridades brasileiras”, divulgou a empresa. 

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A Coca-Cola também teve de escalar seus porta-vozes para rebater as informações. O presidente da empresa no Brasil, Henrique Braun, se pronunciou sobre o assunto em evento do Fórum, e a equipe de comunicação teve de divulgar nota sobre o tema – a mesma que já havia sido publicada anteriormente, quando o boato surgiu. “Não, isso não é verdade. A The Coca-Cola Company não está negociando com nenhum governo de nenhum país a exploração do Sistema Aquífero Guarani”, afirmou a empresa. 

A Secretaria de Comunicação da Presidência da República também teve de combater a notícia falsa. Em documento informativo sobre o Fórum, o órgão negou a intenção de privatizar a reserva.  “Para que o governo federal concedesse a exploração de águas subterrâneas à iniciativa privada, seria necessária a aprovação de uma emenda constitucional pelo Congresso Nacional. Não há nenhuma proposta de emenda à Constituição nesse sentido em tramitação”, informou o Palácio do Planalto.

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MST protesta em unidades das multinacionais, com invasões e depredações 

A divulgação da informação falsa eme sites e redes sociais de esquerda serviu para justificar atos conduzidos pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e outros movimentos similares, na semana em que ocorria, em Brasília, os eventos do Fórum Mundial da Água. 

No dia 20, um grupo de aproximadamente 600 mulheres ligadas ao MST, invadiu uma fábrica de água mineral da Nestlé, na cidade de São Lourenço, no Sul de Minas Gerais, em protesto contra “a entrega das águas às corporações internacionais” e às “negociatas que ocorrem no Fórum Mundial das Águas”. Houve depredação nas instalações. 

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Na madrugada do dia 22, cerca de 350 pessoas ocuparam o parque industrial da Coca-Cola nos arredores de Brasília. Os manifestantes pertenciam ao Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Levante Popular da Juventude, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e MST. Eles depredaram as instalações da indústria e justificaram os atos como sendo contrários à “tentativa de espoliar os bens naturais do país, particularmente as águas”. 

Os atos aconteceram na mesma semana em que a Coca-Cola Brasil anunciou a abertura de fontes de água mineral para as populações vizinhas às fontes, gratuitamente. Até o fim do ano, estarão disponíveis para a população oito fontes da marca Crystal em São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Minas Gerais e Alagoas.