O coronel aposentado João Baptista Lima Filho, um amigo e auxiliar de Michel Temer há mais de 30 anos preso na Operação Skala, é um dos personagens que mais podem complicar a vida do presidente. Os dois têm uma relação próxima desde que Temer foi secretário de Segurança em São Paulo, cargo que assumiu em 1984 e no qual teve Lima como seu assistente policial-militar.
Ao longo dos anos, os dois desenvolveram uma relação de confiança. O coronel Lima foi coordenador de campanhas de Temer e chegou a atuar como uma espécie de “conselheiro conjugal” no primeiro casamento do presidente. Essa amizade, segundo depoimentos e provas colhidas na investigação da Polícia Federal, parece ter ajudado a prosperarem os negócios do coronel, sócio da construtora Argeplan. Ele é apontado como intermediário de Temer e sua empresa é suspeita de ter lavado dinheiro de propina.
Num contundente depoimento, o ex-executivo da J&F Ricardo Saud, que tinha a missão, entre outras, de fazer os pagamentos até em dinheiro para os políticos próximos do chefe Joesley Batista, contou um pouco dessa relação de confiança entre Temer e o coronel. O policial militar aposentado teria sido a pessoa indicada pelo então vice-presidente para receber o valor de R$ 1 milhão, em dinheiro vivo.
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Impressiona certa naturalidade e detalhes da confissão premiada de Saud: o encontro com Temer em frente ao seu escritório, num bairro nobre em São Paulo; o bilhetinho com nome do coronel entregue por Temer; o nome de Florisvaldo, funcionário de Saud, quem foi conferir o endereço e descobriu funcionar lá a Argeplan, que tem o militar como sócio; a queixa de Saud com Temer, depois do dinheiro entregue, que o coronel Lima é uma pessoa grossa.
Lima é dono de fazendas. Uma delas, de nome Esmeralda, em Duartina, interior paulista, já foi invadida quatro vezes por movimentos sociais, entre os quais o MST, que a associam o imóvel a Temer. Acham que estão invadindo uma propriedade rural do presidente da República.
O coronel Lima tem 74 anos e recebe aposentadoria na PM de R$ 23 mil. É sócio da Argeplan, uma construtora. Ele é casado com Maria Rita Fratezi, que é arquiteta e responsável pela reforma numa casa adquirida por uma das filhas de Temer, Maristela. O terrento da casa, na capital paulista, tem 350 metros quadrados. A Polícia Federal investiga esse caso. Segundo reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, fornecedores chegaram a receber R$ 100 mil em dinheiro para serviços na obra, pagos por Maria Rita, mulher e sócia do coronel na empresa.
O terreno foi adquirido em 2011 e a reforma se deu em 2014. Em buscas e apreensões feitas na Argeplan, a PF encontrou documentos relacionando o coronel Lima pagamentos da obra.
Em outro capítulo da investigação, Lima é acusado de ser o intermediário no recebimento de propina pela redação da MP dos Portos, que permite a prorrogação de alguns contratos em até 70 anos, tendo como um dos beneficiários a empresa Rodrimar.
Seu nome também foi citado pelo doleiro Lúcio Funaro em sua delação premiada. Ele diz que o coronel foi intermediário de Temer no recebimento de propina pela construção de Angra 3. Esse caso não está sendo investigado no inquérito dos portos. A Argeplan seria usada para lavar o dinheiro da propina, em um esquema que teria participação também de José Yunes, advogado amigo de Temer e também preso na Operação Skala.
Michel Temer já confirmou, em nota, a relação que vem de longe com o coronel Lima, diz que ele cuidava de suas campanhas eleitorais, mas nega que tenha recebido, direta ou indiretamente, dinheiro ilegal. O presidente afirma que toda contribuição se deu por ordem bancária e foi registrada na Justiça Eleitoral. O Planalto também já informou que a obra da casa foi paga pela própria Maristela.
Ao longo da investigação do esquema de propina no Porto de Santos, o coronel Lima se recusou a prestar depoimento por questões de saúde. Para sua prisão, os policiais o levaram de ambulância para um hospital.
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