Desde a divulgação das delações premiadas feitas a procuradores da Lava Jato, há duas semanas, os irmãos Joesley e Wesley Batista, do grupo JBS/Friboi, caíram em desgraça. Seus nomes chafurdaram num mar de lama. Seus negócios, movidos a propinas bilionárias, definharam. Cidadãos indignados com as falcatruas e os termos do acordo firmado com a Procuradoria-Geral da República, que os salvou da prisão e lhes garantiu uma vida próspera nos Estados Unidos, ao menos por ora, clamam por Justiça nas redes sociais.
Mas, enquanto Joesley e Wesley vivem seu “inferno astral”, o irmão mais velho da dupla, passou ao largo das turbulências. Embora tenha comandado os negócios da família por 25 anos, entre 1980 e 2005, José Batista Júnior, mais conhecido como Júnior Friboi, não caiu na “malha fina” da Lava Jato até o momento nem teve de negociar sua liberdade com procuradores federais, como os irmãos. Tido como o menos esperto dos três, Júnior parece, ironicamente, ter se dado melhor que eles agora, apesar de ser difícil prever se conseguirá se manter ileso.
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Como os irmãos, Júnior também está nos Estados Unidos, com outros familiares. Há dez dias, foi fotografado em Nova York, ao entrar no prédio em que Joesley tem apartamento, na Quinta Avenida. Aparentemente, porém, ele não corre o risco de ir para o xadrez, caso fique comprovado que eles lucraram com a alta do dólar e a baixa das ações, por uso de informação privilegiada, e os acordos com o Ministério Público sejam revistos.
Júnior está afastado das empresas da família desde 2013. Segundo informações da área de comunicações do grupo, ele vendeu sua participação na J&F, a holding dos negócios familiares, então dirigida pelo atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
O lote foi repassado para os dois irmãos, o patriarca José Batista Sobrinho, conhecido como Zé Mineiro, fundador da JBS/Friboi, e as três irmãs, que nunca trabalharam nas empresas da família.
Candidatura
Em troca, Júnior recebeu vários ativos e um valor em dinheiro não revelado e foi cuidar de seus negócios e se dedicar à política, uma obsessão que alimentava há anos. Hoje, suas empresas, reunidas na holding JBJ, têm faturamento superior a R$ 2 bilhões por ano.
Considerando que a fortuna da família, de acordo com a revista Forbes, é estimada em US$ 1,9 bilhão (R$ 6,1 bilhões hoje), Júnior teria recebido o equivalente a US$ 300 milhões (R$ 990 milhões). Como tudo na família costuma ser dividido entre os seis irmãos e o pai, o seu quinhão seria equivalente a 1/7 do total.
A rigor, Júnior já havia se afastado do dia a dia dos negócios da família desde 2005, quando decidiu tentar a candidatura ao governo de Goiás, seu estado natal. Na época, passou a integrar o Conselho de Administração da JBS e deixou a gestão para os irmãos. Considerado o mais político dos três, Júnior, hoje com 57 anos, continuou a lhes dar apoio, segundo um ex-executivo da empresa. O patriarca da família, José Batista Sobrinho, de 83 anos, também lhes dava suporte. Mas quem passou a tocar mesmo os negócios desde então foram Wesley, hoje com 46 anos, e Joesley, 44.
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Apesar de seu afastamento, é possível imaginar que Júnior tenha tido conhecimento do propinoduto montado por Wesley e principalmente por Joesley, para subornar políticos e obter vantagens bilionárias para os negócios da família − ou “famiglia”, como diz um ex-assessor, em referência aos grupos mafiosos da Itália. Também é possível que o esquema tenha se iniciado nos tempos em que Júnior comandava a JBS, ainda chamada de Friboi. No entanto, com base nas informações disponíveis, não é possível afirmar isso.
Isenções
Agora, não dá para deixar de reconhecer que Júnior é um empresário controverso e sua sobrevivência à derrocada dos irmãos pode ter sido um golpe de sorte. O próprio Wesley revelou em sua delação que, desde o primeiro mandato de José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, no Mato Grosso do Sul, no final dos anos 1990, a empresa participou de um esquema de pagamento de propina em troca de isenções fiscais − e seu presidente na época ainda era Júnior.
No final de 2005, ele foi pivô de um escândalo em que um grupo de frigoríficos pretendia controlar os preços da carne. Em gravações, Júnior admitia operar como cartel com pelo menos mais três frigoríficos. O caso foi parar no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que condenou o Friboi a pagar multa de R$ 13,7 milhões. Os demais frigoríficos tiveram de pagar uma multa de 5% sobre o faturamento de 2004.
Em 2015, logo depois de Júnior ter apoiado a reeleição do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), a JBS conseguiu reduzir uma dívida tributária de R$ 1,3 bilhão para R$ 320 milhões. As novas regras, aprovadas em tempo recorde e questionadas por diversos analistas, permitiam isenção de juros, multas e correção monetária, para as empresas que quitassem 40% das dívidas à vista, com parcelamento do restante em cinco anos.
O progressivo afastamento de Júnior dos negócios familiares teve início com o primeiro flerte com a política, em 2005. Foi quando ele se filiou ao PSDB com expectativa, ao final frustrada, de disputar a eleição ao Palácio das Esmeraldas, em Goiás, no ano seguinte. Depois, migrou para o PTB, com a intenção de tentar mais uma vez a candidatura. Novamente, acabou não dando certo. Em seguida, trocou o PTB pelo PSB, do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pré-candidato presidencial em 2014, antes de morrer num trágico acidente de avião, em Santos (SP).
Presente
Em 2013, estimulado por Lula, de quem se diz admirador, que não queria um palanque de oposição no estado, Júnior migrou de novo de partido, desta vez para o PMDB. Sua ficha de filiação foi abonada pelo então vice-presidente Michel Temer, que considerou seu ingresso no partido “um presente”.
A ideia era lançar Júnior ao governo estadual, o ex-governador Íris Resende ao Senado e o petista Antônio Gomide à prefeitura de Goiânia. Ele chegou a contratar o marqueteiro Duda Mendonça, por R$ 30 milhões, para fazer sua campanha. Mas, outra vez, deu tudo errado. Resende acabou se lançando ao governo estadual. Em retaliação, Júnior declarou apoio a Perillo e depois das eleições foi expulso do PMDB. “O Júnior não serve para política, porque, quando alguém o trata mal, ele fica triste”, afirma um ex-colaborador.
Depois do episódio, Júnior anunciou que voltaria a se dedicar em tempo integral aos próprios negócios. Ao contrário do que havia anunciado três anos antes, que não iria atuar no mesmo ramo da JBS, mudou de ideia e arrematou o frigorífico Mataboi, com capacidade para abater até 2 mil cabeças de gado por dia.
Em setembro de 2016, quando Wesley e Joesley foram impedidos de exercer cargos executivos pela Justiça, no âmbito da operação Greenfield, que investiga a corrupção promovida para favorecer a Eldorado, a empresa de celulose do grupo, Júnior foi indicado pelos irmãos para assumir interinamente a presidência da JBS. Mas sua permanência no cargo não durou mais que um dia, com a celebração de acordo judicial com os irmãos.
Se Júnior conseguir se segurar em pé, sem ser pego pela Lava Jato, talvez herde a missão de reconstruir a JBS e demais empresas do grupo nos próximos anos. Mas, desta vez, dificilmente poderá contar novamente com a injeção de bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para tentar salvar o que restar dos negócios da família.
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