Ainda quando era candidato, Jair Bolsonaro (PSL) levantou a bandeira de um novo jeito de fazer política, apesar de ele mesmo ter quase três décadas de vida pública. Empossado presidente, o discurso de oposição à velha política ganhou força, mas ao mesmo tempo enfrenta resistências, sobretudo no Congresso. Em três meses de governo, Bolsonaro queimou parte do capital político conquistado na eleição, como aponta a queda da aprovação de seu governo, com picuinhas e confusões com outros políticos.
A crise derivada da postura intransigente do presidente é agravada por outro aspecto do governo: a falta de experiência política do time de líderes escalado para ajudar o presidente na articulação com deputados e senadores.
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Os principais atritos de Bolsonaro estão acontecendo na relação com a Câmara dos Deputados. E é justamente ali que seu time de líderes teria mais força. Um dos principais articuladores do governo não está no Parlamento, mas é deputado desde 2003: o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que tem entre as atribuições a ligação entre Planalto e Congresso.
Ele é o veterano da turma, que ainda tem Delegado Waldir (PSL-GO), deputado desde 2011 e líder do partido na Câmara; e os deputados novatos Major Vitor Hugo (PSL-SP), líder da bancada do PSL na Casa; e Joice Hasselmann (PSL-SP), líder do governo no Congresso. Esse trio é bastante contestado dentro do próprio partido.
Articulador de primeira viagem
O apoio de Lorenzoni a Bolsonaro vem desde 2017, quando eram colegas na Câmara e compartilhavam do mesmo perfil conservador para determinadas pautas e crítico ao PT. Ainda em 2018, ele sacramentou a aliança ao contrariar o próprio partido, que havia fechado aliança com o PSDB, e atuou na campanha do capitão. Comandou a equipe de transição e conquistou a Casa Civil – derrubando militares que queriam atuar esse ministério para si.
O problema é que Lorenzoni não é uma unanimidade entre os parlamentares e essa é a primeira vez que atua do lado do governo – só havia sido oposição até então. No começo do ano, o ministro protagonizou o primeiro bate-cabeça do novo governo, no episódio da confusão sobre a elevação do IOF – uma disputa entre a Casa Civil e o ministério da Economia, tocado por Paulo Guedes.
Na eleição para o comando da Câmara, ele não apoiou de imediato o nome do correligionário Rodrigo Maia (DEM-RJ), que venceu a disputa para a presidência da Casa – os dois nunca se deram muito bem. E seu partido tem peso: conquistou também a presidência do Senado, com Davi Alcolumbre (DEM-AP), em uma manobra costurada pelo chefe da Casa Civil.
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Na última semana, marcada por uma crescente troca de farpas entre integrantes do Planalto e do Congresso, Lorenzoni reconheceu que houve erros na articulação política e se reuniu com parlamentares para tentar melhorar a relação do governo. A promessa é de mais diálogo.
Embora o papel de articulador principal do governo seja de Lorenzoni, outros ministros estão ocupando esse lugar. É o caso do próprio Guedes, que assumiu o protagonismo da articulação da reforma da Previdência, e de Sergio Moro, da Justiça, que se reuniu diretamente com Rodrigo Maia para apaziguar desentendimentos e tratar da tramitação de seu pacote anticrime.
Caldeirão da Câmara
A trinca de deputados nos cargos de liderança tem algo em comum: é contestada por integrantes do próprio partido. O líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo, não é nem chamado para reuniões de liderança. Foi assim no dia em que os demais líderes costuraram um acordo para colocar na pauta do dia a PEC do Orçamento impositivo – que foi aprovada na casa no mesmo dia, também graças a um acerto entre as lideranças.
O major tem a confiança de Bolsonaro, mas patina na relação com os colegas deputados. Já foi alvo de uma rebelião, mas tem tentado contornar a situação apostando em mais encontros com os demais parlamentares do partido. A estratégia pode estar funcionando para ele, mas afeta outra liderança: Delegado Waldir, responsável por liderar o partido na Casa.
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Ele acabou assumindo a liderança após Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, abrir mão da função, para evitar conflitos de interesse com o pai. Agora, está com a faca no pescoço. Ele chegou a dizer que nem o próprio PSL está convencido da necessidade da reforma da Previdência, uma das grandes bandeiras da eleição de Bolsonaro – e sem consultar a bancada.
Nesta semana, o partido fechou questão e os 54 deputados estão a favor da reforma. A bancada ‘enquadrou’ o delegado, que terá de seguir um tipo de manual de conduta para continuar na função, sob pena de perder o comando perante os demais colegas.
Joice Hasselmann, por outro lado, ocupa um cargo em teoria menor – liderança do governo no Congresso, que deve orientar os casos de votações que envolvem as duas casas –, mas também arruma confusão. As críticas começaram dentro do PSL: a deputada já bateu boca com alguns colegas em conversas de WhatsApp que acabaram divulgadas. Para parte da turma, ela não tem capacidade para conduzir o diálogo na Câmara.
Recentemente, ela discutiu pelas redes sociais com Kim Kataguiri (DEM-SP), expoente do MBL, que foi chamado de “oportunista”. Também criticou deputados de outros partidos, inclusive favoráveis à reforma, o que provocou a ira de outros parlamentares. Mas foi Joice a primeira líder a mudar de postura, adotando um tom mais conciliador. Foi ela quem intermediou o encontro que selou a paz entre Sergio Moro e Rodrigo Maia.
Senado ainda dormitando
No Senado, a dupla não foi muito acionada para a articulação de fato. A liderança do partido ficou a cargo de Major Olímpio (PSL-SP). Eleito senador pela primeira vez nas eleições de 2018, ele havia sido deputado federal por um mandato.
O pesselista, no entanto, aparenta estar perdido assim como parte de seus correligionários. Ao falar da aprovação da PEC do Orçamento impositivo na Câmara, com apoio passivo do próprio partido, demonstrou perplexidade e chegou a pedir ao ministro da Economia, Paulo Guedes, mais contato – seja por meio de reuniões ou pelo envio de notas técnicas para ajudar os parlamentares na tomada de decisões.
Já o cargo de líder do governo na Casa é o único ocupado por um político que não faz parte do partido do presidente: Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). Senador desde 2015, Bezerra Coelho chegou a ser ministro do primeiro governo de Dilma Rousseff (PT) e substituiu Romero Jucá como líder do governo de Michel Temer no Senado durante as eleições de 2018.
Sua indicação foi vista como uma forma de trazer o partido, dono da maior bancada no Senado, para perto do governo. O emedebista tem alguma experiência na Casa, mas parece que ainda não se comprometeu de fato com a agenda do Planalto.
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