Não importa o que se pense do presidente Michel Temer, de sua política econômica ou da consistência das acusações contra sua chapa. Se ele for cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a tendência é de turbulência no mercado financeiro e de um novo resfriamento na economia “real”, que mal e mal conseguiu reagir após quase três anos de recessão.
Se o sucessor conseguirá impulsionar a atividade econômica é outra história. A questão é que, até que se escolha o novo presidente e se tenha uma ideia do que ele pretende fazer, a economia ficará em compasso de espera. As poucas empresas que estavam em meio a decisões de investimento tendem a congelar seus planos até ter certeza do que vem pela frente.
AO VIVO: Acompanhe o julgamento que pode cassar Temer
Esse ambiente de incerteza remete ao que perdurou entre novembro de 2015 e maio de 2016, nos seis meses que se passaram entre o início do processo de impeachment de Dilma Rousseff e seu afastamento pelo Senado. A diferença é que havia uma nítida antipatia do setor produtivo e do mercado financeiro em relação à então presidente, ao passo que Temer é bem visto por esses segmentos. Reservadamente, alguns de seus integrantes chegam a relevar eventuais deslizes do presidente em nome do bem do país.
Economistas ouvidos pela Gazeta do Povo consideram pouco provável que Temer seja cassado nas próximas horas. A maioria acredita que o julgamento será postergado por um pedido de vista de um dos ministros, pela ampliação do prazo para defesa ou por algum recurso criativo.
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Nem por isso a defesa do presidente parece tranquila. Para além das questões jurídicas, tem sustentado publicamente que o TSE precisa considerar os impactos que a cassação teria sobre a economia.
Incertezas
Há uma chance não desprezível de o modo “stand by” persista por um bom tempo após o eventual afastamento do peemedebista, pois no momento não há certeza nem sobre qual será a forma de eleição do novo presidente – se direta, pelo voto popular, ou indireta, pelo Congresso.
“O grau de incerteza da economia já é muito elevado, e acrescentar incertezas seria muito ruim. Quem assumiria o poder? De que força política? E, muito mais do que isso, com que projeto econômico? Todas essas dúvidas e incertezas deixariam os empresários ainda mais temerosos de investir, piorando atividade econômica e desemprego”, avalia o economista Marcelo Curado, professor da UFPR.
Para a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Marzola Zara, é difícil estimar quais seriam os efeitos e médio e longo prazo, que dependeriam muito das condições em que se daria a cassação e dos candidatos que despontassem na sequência. “Mas nos primeiros dias haveria muita intranquilidade”, prevê.
Dólar e Bolsa
No mercado financeiro, a consequência mais provável, pelo menos nos primeiros dias após a cassação, é de aumento do risco-país, acompanhada de alta do dólar e dos juros futuros. A Bolsa de Valores tende a cair.
“O investidor não tem medo de crise. Ele tem medo do incerto, do desconhecido”, diz Adeodato Volpi Netto, estrategista-chefe da Eleven Financial. “Qualquer que seja o movimento do TSE, o importante é que haja clareza sobre qual será o próximo passo. Caso contrário, teremos uma pressão muito negativa sobre a Bolsa, porque os resultados das empresas dependem do ambiente macroeconômico.”
Reformas
A questão é que juros, câmbio e ações foram “precificados” nos últimos meses com base na expectativa – alguns diriam esperança – de que o governo aprovaria reformas para melhorar o ambiente de negócios e equilibrar as contas públicas. Sem Temer, acredita-se, a agenda reformista iria por água abaixo.
“O afastamento traria para hoje a discussão da eleição de 2018. O país para. Se pelo menos isso servir para os candidatos apresentarem estratégias e programas de governo, tudo bem”, diz Nelson Marconi, professor da Fundação Getulio Vargas em São Paulo. “Um interino pode até tentar encaminhar as reformas, mas parece improvável que consiga. O clima ficaria muito conturbado.”
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