Era 12 de junho. Fazia apenas três dias que o presidente Michel Temer (PMDB) havia vencido o processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que poderia tirá-lo do cargo. A executiva do PSDB se reuniu e decidiu ficar no governo. Não sem a oposição de parte expressiva de deputados tucanos mais “novatos”, sem tanta voz e prestígio na cúpula, mas preocupados com a reeleição em 2018.
Agora, um mês depois, o partido já admite o desembarque do Planalto. Resultado da “rebelião” do baixo clero – uma onda de deputados contrários aos caciques que se repete em outros partidos da base de Temer. E que pode custar-lhe a cadeira presidencial.
O governo percebeu a revolta e o risco de que ela afete a votação na Câmara que pode tirar-lhe do Planalto. Agora, corre para estancá-la. Pela força. E recorreu justamente aos líderes. Quer que partidos deixem claro que podem impor punição a quem votar contra. Quatro siglas da base aliada já seguiram esse rumo: o próprio PMDB, o PP, o PR e o PSD.
A indecisão tucana
Em junho, a continuidade da aliança do PSDB com Temer era defendida pelos principais tucanos com mandato: o governador paulista Geraldo Alckmin, o prefeito paulistano João Doria, o senador José Serra, entre outros. No último fim de semana, Alckmin e Doria mudaram o discurso e começaram a dizer que o compromisso do PSDB é com as reformas e não exatamente com o governo Temer.
A cúpula do tucanato foi abalada pela insatisfação dos chamados tucanos de cabeça preta (os deputados mais novos, que têm cabelos escuros e não grisalhos, típicos dos mais “experientes”). E o PSDB agora admite entregar os cargos na Esplanada e votar pelo afastamento de Temer.
“O PSDB não é um partido de comando único. A posição de cada um é respeitada”, diz o deputado paranaense Luiz Carlos Hauly, explicando a divisão interna. Para ele, a posição da sigla vem mudando porque o cenário político nacional “está numa dinâmica muito grande”. Segundo Hauly, a bancada tucana está dividida com relação ao afastamento de Temer.
A fissura peemedebista
A revolta interna no PSDB contra a posição de suas principais lideranças está ocorrendo em outros partidos – inclusive no PMDB de Temer. O relatório do deputado Sérgio Zveiter (PMDB-RJ) a favor da abertura de ação contra o presidente (e seu consequente afastamento do cargo) expôs a fratura interna no partido.
A própria nomeação de Zveiter para a relatoria do caso, pelo presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCI) da Câmara, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), foi outro golpe sentido pelo Planalto vindo de dentro da sigla. O governo queria que o cargo ficasse com Alceu Moreira (PMDB-RS), Jones Martins (PMDB-RS) ou Laerte Bessa (PR-DF) – que, na avaliação governista, fariam um relatório favorável ao presidente.
Para evitar que a fissura interna cresça, a cúpula do partido ameaçou expulsar Zveiter – num recado claro a toda a bancada. Ainda assim, a maioria da bancada na Câmara não entrou em campo para defender o presidente abertamente. Dos 63 deputados peemedebista, apenas dois já declararam voto contra Temer no plenário. Mas mais da metade (34) não diz, ao contrário, votar a favor: 18 não responderam às enquetes feitas pela imprensa e 16 dizem estar indecisos. Os que afirmam que vão votar a favor de Temer são 32.
Saiba mais: a posição de cada deputado federal sobre o afastamento de Temer da Presidência
O deputado João Arruda (PMDB-PR) está na lista dos que não declaram o voto a favor ou contra. Ele prefere ter prudência diante da possibilidade de que fatos novos possam surgir e o obrigue a modificar uma declaração dada anteriormente. Mas Arruda diz que, hoje, a tendência é que a maior parte da bancada vote a favor de Temer.
“Nojento” e “corno”
Pelo menos outros dois partidos – PR e SD – também expuseram publicamente a divisão interna sobre o apoio a Temer. E em ambos os casos o motivo foi o mesmo: a substituição deles como integrantes da CCJ por colegas mais favoráveis a Temer.
No PR, o deputado Delegado Waldir (GO), após ter sido substituído na comissão, chamou o governo de “nojento”, “bandido” e “lixo”. Foi um caso semelhante ao do deputado Major Olímpio (SD-SP), também trocado na CCJ pela cúpula de seu partido. Ele disse ter sido tratado pela sua sigla como o “corno” – o último a saber da mudança.
Delegado Waldir chegou a recorrer ao Supremo Tribunal Federal nesta terça-feira para tentar voltar à comissão, mas o pedido foi rejeitado pela presidente da Corte, Carmen Lúcia. Ela alegou que a mudança na CCJ é uma questão interna da Câmara e não cabe ao Supremo decidir como os deputados devem se organizar.
Retaliação
Tanto no PR como no SD há deputados dispostos a votar contra Temer. Bem como em outros dois partidos importantes que fazem parte do governo: o PP e o PSD.
Receoso de perder mais votos, o Planalto articula com as siglas aliadas que determinem a todos seus deputados que votem a favor de Temer – caso contrário, poderão sofrer represálias. PMDB, PP, PR e PSD já seguiram a orientação do Planalto.
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