Os caixas “oficial e não oficial” da Odebrecht foram utilizados em doação às campanhas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, segundo relato do patriarca da empresa, Emilio Odebrecht. A informação consta na “megadelação” da empresa à operação Lava Jato e na petição remetida à Justiça Federal de São Paulo, pelo ministro Edson Fachin.
Relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Fachin despachou para São Paulo os documentos em que Emilio detalha a relação da empreiteira com FHC, que remonta aos anos 1970, quando o político era suplente de Franco Montoro no Senado.
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O pai de Marcelo Odebrecht também confirma o uso de dinheiro ilícito para financiar as campanhas de Fernando Henrique à Presidência da República e ao Senado Federal. “Teve ajuda de caixa oficial e não oficial. Se ele soube ou não, eu não sei. Tanto que eu também não sabia”.
Emilio dá a entender que esta falta de conhecimento é relativa aos detalhes operacionais do pagamento. “Ele [Fernando Henrique] indicava quem era e eu (...) falava com o Pedro Novis ‘fulano de tal vai lhe procurar’”. Novis foi presidente da Odebrecht entre 2002 e 2009, entre as gestões de Emilio e Marcelo.
Detalhes técnicos
Durante o depoimento, os procuradores questionam Emílio sobre a falta de detalhes técnicos sobre o repasse do suposto dinheiro ilegal. Um deles chega a dizer que os fatos relatados “não têm relevância pro nosso caso”, se “o senhor não tratou com ele diretamente pagamento de valores ilícitos”.
Outro integrante do Ministério Público pede que o empreiteiro identifique quem foram “as pessoas que pediram [caixa dois] por ele”, Fernando Henrique.
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É aí que Emilio detalha: “Ele me pediu! (...) pediu ‘Emílio, você pode me ajudar no programa da campanha?”. Logo depois, o ex-presidente da Odebrecht confirma que o pagamento foi tanto para as campanhas presidenciais (1994 e 1998) quanto para o Senado Federal (em 1986).
Questionado se FHC falou em valores, Emilio deu risada, e perguntou se os procuradores “conhecem a figura”, referindo-se ao ex-presidente. “Ele jamais iria falar comigo alguma coisa de valor. Não fala! Não fala...”.
Odebrecht não quis dizer o nome de quem foi a pessoa indicada para receber a suposta propina. Por não ter certeza de quem era, e também porque o nome que lhe veio à memória é de uma pessoa já falecida, cuja memória ele disse não querer manchar.
Influência na gestão
Emilio também falou da relação da Odebrecht com a gestão de FHC à frente da Presidência. Ele não falou em valores pagos sob forma de propina, mas em “contribuições” aos debates do governo.
Teria sido o caso da Lei de Concessões, de 1995, e da quebra do monopólio nas telecomunicações, também naquele ano (a Lei Geral das Telecomunicações, que instituiu as regras para o setor, é de 1997).
As conversas não eram “simplesmente visando os nossos interesses”, mas para “ajudar no crescimento quantitativo e qualitativo” do país, garante Emilio.
FHC desconhece conteúdo
Em vídeo publicado em sua conta no Facebook, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comenta que “nunca chegou a meu conhecimento” nenhuma referência a “eventuais gastos de campanhas” feitas “pelo senhor Emilio Odebrecht”, das quais ficou sabendo por publicações da mídia.
FHC ressalta ainda que as informações a que teve acesso são vagas, e que vai ver “com calma do que se trata”. O político ainda ressaltou a importância da Lava Jato em “colocar as cartas na mesa” da política brasileira.
Confira o trecho do depoimento em que Emilio Odebrecht detalha o caixa dois:
Assista ao vídeo publicado por FHC em resposta às acusações:
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