O novo chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, 51, foi uma indicação pessoal do escritor Olavo de Carvalho, pensador conservador que é um dos gurus do bolsonarismo.
Olavo, que vive nos Estados Unidos e tem milhares de seguidores na internet, recomendou em suas redes sociais o artigo “Trump e o Ocidente”, que Araújo escreveu para a revista de Política Externa do Itamaraty no segundo semestre de 2017.
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No artigo, o diplomata celebra o “pan-nacionalismo” do presidente americano, Donald Trump, que compara a Ronald Reagan e Winston Churchill. E prega um resgate aos valores fundamentais do Ocidente, com a revalorização da pátria, da família e de Deus, contra o chamado “globalismo”.
“Sim, vivemos em um mundo onde falar dos heróis, dos ancestrais, da alma e da nação, da família e de Deus é, para grande parte da ideologia dominante, uma indicação de comportamento fascista”, escreve Araújo. “O problema estará com Trump ou estará com essa ideologia contra a qual ele se insurge? Os capangas de Stálin, os de Mao Tsé-Tung e os de Pol Pot também chamavam tudo de fascista.”
Em nota divulgada nesta quarta-feira (14), o futuro chanceler celebrou o presidente eleito, Jair Bolsonaro. “Bolsonaro com amor e com coragem! - Este é o lema do candidato em quem sempre acreditei, junto com milhões de brasileiros”. E acrescenta: “A mão firme do presidente Bolsonaro nos guiará”.
Na nota, ele diz que irá proclamar “Itamaraty com amor e com coragem. Amor pelo Brasil. Amor infinito por esta nação gigante. Amor a Deus, para aqueles que creem”.
Escolha é vitória de Eduardo Bolsonaro
O artigo na revista do Itamaraty foi também a ponte entre Araújo e Filipe Martins, secretário de assuntos internacionais do PSL, que viajará com Eduardo Bolsonaro para Washington no dia 27 de novembro. Martins enviou o artigo de Araújo a várias pessoas do entorno do presidente eleito, e elogiou-o no Twitter como melhor escolha para chanceler.
A nomeação de Araújo foi uma vitória de Eduardo e da ala que pregava uma escolha mais heterodoxa e mais jovem para o ministério.
Martins chegou a dizer em rede social que era “necessário recorrer a um repertório de quadros e ideias que estejam fora do establishment e ignorar a aprovação da mídia para evitar a continuidade de uma política externa terceiro-mundista e sem traços distintivamente brasileiros”.
“Um embaixador jovem, mas com 29 anos de experiência e com grande capacidade intelectual, além de uma grande identificação com os valores e os princípios do presidente, parece uma excelente escolha e uma ótima forma de renovar o Itamaraty, que, nos últimos anos se tornou uma espécie de representação da ONU no Brasil em vez de uma representação do Brasil junto à ONU e ao mundo”, disse Martins à reportagem.
No artigo escrito para a revista, o futuro chanceler desenvolve algumas das ideias nacionalistas que pautam o bolsonarismo.
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“Não por acaso o marxismo cultural globalista dos dias atuais promove ao mesmo tempo a diluição do gênero e a diluição do sentimento nacional: querem um mundo de pessoas ‘de gênero fluido’ e cosmopolitas sem pátria, negando o fato biológico do nascimento de cada pessoa em determinado gênero e em determinada comunidade histórica”, diz.
Araújo recomenda a leitura de René Guénon, “importante influência de Steve Bannon, ex-estrategista-chefe da Casa Branca e ainda central no movimento que levou Trump à Presidência”, que acreditava que “somente o cristianismo, e especificamente o catolicismo” poderia salvar o Ocidente. Araújo é católico praticante. E volta ao tema ao dizer que “somente um Deus poderia ainda salvar o Ocidente, um Deus operando pela nação”.
O diplomata serviu entre 2010 e 2015 na Embaixada do Brasil em Washington e atualmente tinha o cargo de diretor do Departamento de Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos.
Sua experiência nos Estados Unidos é considerada essencial para a política externa de Bolsonaro, que deve ser muito afinada com o governo de Donald Trump.
Espera-se alinhamento em votações relacionadas a Israel, por exemplo, e uma ênfase na integração comercial com os EUA. Também deve haver menos foco em políticas identitárias e defesa de minorias em foros multilaterais.
Antes dos EUA, Araújo serviu no Canadá, na Alemanha e na Bélgica. É ávido leitor de obras sobre história militar e fã de futebol americano. Gaúcho muito reservado, é considerado bastante afável.
É casado, tem uma filha de 12 anos e dois enteados.