| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

Milhões de trabalhadores brasileiros ganharam um dinheirinho extra neste ano, após sacarem o saldo das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). De acordo com informações da Caixa Econômica Federal, foram resgatados cerca de R$ 44 bilhões entre março e julho, por 25,9 milhões de pessoas. E onde foi parar todo esse dinheiro?

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Embora não seja possível rastrear e determinar com precisão como as pessoas que receberam esses recursos usaram de fato o dinheiro, há indicadores que ajudam a dar uma ideia da destinação dessa grana. O relatório de setembro da Instituição Fiscal Independente (IFI), do Senado, destaca que a liberação dos saques deu um impulso que ajudou na expansão do PIB no segundo trimestre, alavancada sobretudo pelo consumo das famílias.

O relatório compara duas pesquisas realizadas neste ano. Em julho, mês em que acabou o prazo de saques do FGTS, o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) fizeram uma pesquisa* que indicou que 47% dos brasileiros usaram ou pretendiam usar esses recursos para consumir, mesmo que aproveitassem o dinheiro para cobrir as despesas do dia a dia. Em março, o levantamento da FGV de sondagem do consumidor apontava que cerca de 10% dos entrevistados pretendia usar esse dinheiro para compras. Além disso, o indicador de comprometimento de renda das famílias com dívidas também recuou nesse período.

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Ricardo Figueiredo, economista e consultor do programa Vida Investe, da Funcesp, diz que esses dois cenários – pagamento de dívidas e consumo – são os mais apontados pelos indicadores econômicos do período, principalmente com o consumo das famílias puxando a retomada do PIB. Os recursos extraordinários foram alocados para consumo, como apontam os indicadores de varejo. E a recuperação econômica não veio como a dos sonhos – com investimentos fortes em infraestrutura e melhoria de produtividade, mas sim pelo consumo.

“A gente vem colhendo melhorias nos indicadores a partir de remédios pontuais, de situações atípicas como o FGTS, e agora com a entrada de recursos do PIS/Pasep. É o voo de galinha a que já estamos acostumados, mas queremos algo que venha depois e seja estrutural: melhora no emprego, com geração de vagas, renda média do trabalhador crescendo de maneira saudável para não pressionar a inflação”, diz Figueiredo. Segundo ele, para alcançar esse patamar é preciso aproveitar o cenário externo que está favorável e cobrar a boa vontade dos políticos em avançarem com as reformas e outras políticas que farão bem para o país.

Consumo versus inadimplência

Figueiredo pondera que o volume de dinheiro recebido por trabalhador com as contas inativas do FGTS não é tão alto – e em menor escala será o que vai acontecer com o PIS/Pasep. Nesses cenários, os indicadores apontam que as famílias de mais baixa renda aproveitaram o dinheiro extra para colocar as contas em ordem. “Conforme o poder aquisitivo das famílias aumenta, uma parte disso vai para o consumo”, diz.

A pesquisa do SPC e CNDL apontou que, até a segunda quinzena de julho, os setores do comércio e serviços já receberam R$ 16,2 bilhões que vieram das contas inativas do FGTS. A expectativa é de que o consumo movimentasse ainda mais R$ 500 milhões nos meses seguintes.

Quem optou pelo pagamento de dívidas foram os inadimplentes. “Uma coisa é você ter uma dívida que está carregando e em dia. Outra é a inadimplência. Para esses, o dinheiro do FGTS chegou em boa hora”, avalia. Na opinião do economista, poucas pessoas que possuem crediários, empréstimos ou financiamentos optaram por negociar e adiantar esse pagamento. “O racional seria isso: vai no credor, negocia a antecipação do pagamento, com retirada de juros e até um desconto para tirar esse peso do orçamento do mês”, argumenta.

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Ainda de acordo com essa mesma pesquisa, a estimativa das entidades é que R$ 13,7 bilhões dessas contas inativas foram usados para o pagamento de dívidas. A expectativa é de que outros R$ 380 milhões tenham esse mesmo destino.

*A pesquisa do SPC e CNDL foi realizada em 12 capitais das cinco regiões brasileiras. Foram ouvidas 800 pessoas. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais e a margem de confiança é de 95%.