O pedido de demissão da presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, em meio a pior crise do governo de Michel Temer, não transmite um bom sinal aos defensores do ajuste fiscal e do rigor com as contas públicas. O Palácio do Planalto afirma que ainda não há substituto em vista para o posto. Na avaliação de assessores da Presidência, ela não é a única executiva no país à altura do cargo e poderá ser substituída.
Em carta aos funcionários, Maria Silvia alegou “motivos pessoais”, mas pessoas com trânsito junto à diretoria do banco afirmam que a presidente teria se desgastado com funcionários do BNDES recentemente, por causa das recentes acusações sobre a atuação de servidores do banco junto a JBS.
Nesta semana, os funcionários cobraram de Maria Silvia uma defesa “forte e contundente do corpo funcional benedense e dos critérios utilizados pela instituição para cumprir seu papel de fomentadora do desenvolvimento nacional”, ao conceder operações de crédito para o grupo JBS. Na segunda-feira (22), os funcionários fizeram manifestação em apoio a colegas que foram alvo de condução coercitiva pela Polícia Federal.
A saída de Maria Silvia arranha a política econômica construída por Temer no início de seu governo. Ao lado de Pedro Parente (presidente da Petrobras) e Henrique Meirelles (ministro da Fazenda), Silvia era muito elogiada por Temer. O presidente inclusive recorreu a ela em seu segundo pronunciamento para se defender da delação de Joesley Batista. “O BNDES mudou no meu governo. A presidente Maria Sílvia moralizou o BNDES. Botou ordem na casa. E tem meu respeito e meu respaldo para fazê-lo! Assim como Pedro Parente o fez na Petrobras. Estamos acabando com os velhos tempos das facilidades aos oportunistas. E isso, meus amigos incomoda muito. Há quem queira me tirar do governo para voltar aos tempos em que faziam tudo o que queriam com o dinheiro público e não prestavam contas a ninguém. Quebraram o Brasil e ficaram ricos”, afirmou Temer no sábado (20).
Condução coercitiva
O desgaste entre Maria Silvia e os benedenses (como os funcionários se chamam), está se arrastando desde o dia 12 de maio, quando ocorreu a condução coercitiva na sede do banco. Os servidores criticaram, em ato, o pronunciamento do presidente Michel Temer, no qual elogiava a presidente Maria Silvia por ter “moralizado o BNDES e colocado ordem na casa”.
Os funcionários afirmaram que a “Associação dos Funcionários do BNDES quer destacar que a presidente do banco, Maria Silvia Bastos Marques, não poderia ter ‘moralizado’ o BNDES porque não se ‘moraliza’ uma instituição que, desde a sua fundação, em 1952, sempre atuou com ética, espírito público, excelência e compromisso com o desenvolvimento”.
Nesta sexta-feira (26), o presidente Temer divulgou nota sobre a saída de Maria Silvia. “O presidente manifesta seu profundo agradecimento a Maria Silvia Bastos Marques, que presidiu o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social de forma honesta, competente e séria por pouco mais de um ano. Seu trabalho honrou o governo e moralizou um setor estratégico para o país, despolitizando a relação com o setor empresarial e elegendo critérios profissionais e técnicos para a escolha de projetos a serem contemplados com financiamentos oriundos de recursos públicos. Deixará como legado um modelo a ser seguido em toda máquina pública”.
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