O Brasil assumiu a sétima posição entre os países com maior geração de energia eólica no mundo, segundo dados do Ministério de Minas e Energia. De toda a capacidade instalada brasileira de geração de eletricidade, 7,2% correspondem às usinas eólicas.
Os ventos vêm ajudando a suprir parte da demanda do país, evitando ter de usar mais usinas térmicas – que produzem uma eletricidade cara – neste momento em que o país atravessa uma crise hídrica que compromete a capacidade das hidrelétricas. Mas ainda há grandes problemas no setor eólico, como atrasos em obras, dificuldade de expansão da oferta para o mercado livre e incertezas para o financiamento desses usinas.
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São 11 GW de potência eólica no país hoje. Em termos de energia produzida, a fatia da energia eólica na matriz do país cresce forte, com evolução de 33% em um ano. Dados de julho mostram que a eólica atende a 9,2% da produção total (contra 65% da geração hidráulica e 25% de térmicas). Ainda é uma grande diferença, mas essa energia tem ajudado a suprir a demanda, principalmente no Nordeste.
Em um dia, dos 65 mil MW médios consumidos no Brasil, entre todas as fontes, a eólica supre 3.651 MW médios, ou 5,58%. No Nordeste, onde a grave crise hídrica secou os reservatórios das hidrelétricas, as eólicas superam a energia hídrica e quase empatam com a geração térmica: 28,4% da geração elétrica diária no Nordeste é atendida por eólicas.
Para 2026, a previsão do Plano Decenal de Energia (PDE) é chegar a 25,8 GW de energia eólica na matriz (inclusive geração distribuída), respondendo por 12,5% do total.
O Brasil também assinou compromisso internacional em 2015 para aumentar para 33% o uso de fontes renováveis, além da energia hídrica, na matriz total de energia até 2030, aumentando a parcela de energias renováveis não hidráulicas no fornecimento de energia elétrica para ao menos 23% até 2030, inclusive pelo aumento da participação de eólica, biomassa e solar.
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Atrasos em obra e entraves para o crescimento do mercado livre
Ainda há entraves para a expansão das energias renováveis no Brasil, onde as condições climáticas de ventos e sol são favoráveis, se comparado a outros países que têm maior fatia de energia limpa nas suas matrizes. Tanto a eólica como a solar devem ser apenas complementares em uma matriz com base na geração hidrelétrica e térmica, que podem ser acionadas a qualquer minuto. Afinal, não é possível controlar o sol ou os ventos.
A reforma do setor elétrico, que está sendo concluída pelo Ministério de Minas e Energia e deve ser entregue ao Congresso ainda este mês, considera essa interruptibilidade da energia eólica e solar como desafios para se pensar regras e leis setoriais. Por ter custos de produção e oferta variáveis, o governo está atento a pensar em novos regramentos para a formação de preços no futuro.
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Atrasos nas obras também são um grande problema para a expansão das eólicas, em alguns casos por descasamento entre a data de conclusão da obra da usina e da linha de transmissão que escoaria essa energia.
Segundo levantamento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), de outubro, de 275 parques eólicos previstos para entrar em operação até 2021, 77 (quase 30%) tem baixa viabilidade da implantação e podem nem mesmo sair do papel. Dos 6, 2 mil MW fiscalizados pela agência, 1.767 MW estão nessa situação.
São usinas que estão com suspensão do processo de licenciamento ambiental ou declaração de inviabilidade ambiental, processo de revogação da concessão em análise, demandas judiciais ou graves problemas que impeçam a implantação da usina.
O que vai acontecer quando os subsídios para o setor diminuírem?
Outro desafio para as energias renováveis será a gradual redução dos subsídios. Para estimular sua expansão, o governo veio na última década oferecendo benefícios a essas fontes, seja com contratação de longo prazo como energia de reserva, seja com a concessão de financiamento com juros menores pelo BNDES. Agora, a nova política definida pelo Ministério de Minas e Energia quer reduzir os subsídios e deixar claro o valor da energia.
Se por um lado esses benefícios ajudaram a expansão das renováveis, hoje atrapalham a competição com outras fontes e mascaram os reais custos . Além disso, uma das proteções colocadas para as energias renováveis transformou-se num gargalho para a expansão do mercado livre.
Para migrar para o mercado livre (onde o consumidor escolhe de quem vai comprar energia e contrata a preços negociados entre as partes, sem depender das tarifas das distribuidoras), as empresas com demanda contratada igual ou superior a 500 kW são obrigadas a adquirir energia gerada apenas por fontes renováveis, como as eólicas. Mas a expansão das usinas eólicas atualmente está em ritmo inferior ao interesse dos empresários pelo mercado livre.
“Quem migrou para o mercado livre nos últimos dois anos precisou comprar de fontes renováveis. Mas as fontes não estão crescendo. É um mercado que é livre, está aberto, mas tem um gargalo que está dificultando a entrada”, afirmou Cristopher Vlavianos, presidente da comercializadora Comerc.
Ele explica que é preciso estimular novos agentes no setor de geração de energia renovável e de mais fontes de financiamento. “A expansão da geração para o mercado livre vem ocorrendo muito aquém do que gostaríamos. Boa parte dessa energia renovável acaba sendo direcionada para o mercado regulado. O modelo de expansão da geração tem contratos de longuíssimo prazo, e durante muito tempo tivemos apenas um financiador disso tudo, que era o BNDES. Com a política de leilões feitos pelo governo, acabou se incentivando as fontes renováveis, mas destinando sua energia para as distribuidoras”, explicou o comercializador.
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