O ex-ministro do PT Antonio Palocci disse, em depoimento de sua delação premiada à Operação Lava Jato, que o ex-presidente Lula recebeu propina em espécie da empreiteira Odebrecht por diversas vezes, em valores que variavam de R$ 30 mil a R$ 80 mil. Palocci afirmou também que ele próprio chegou a entregar a Lula o dinheiro da propina da Odebrecht em caixas de uísque e de celular. O ex-ministro disse ainda que o ex-presidente pedia a ele para não comentar nada com ninguém sobre os pagamentos da empreiteira e que a verba seria para custear despesas de Lula.
As informações foram publicadas nesta sexta-feira (18) pelo portal de notícias G1 e também pelo site O Antagonista. Os dois veículos de comunicação tiveram acesso a um trecho do depoimento de Palocci à Polícia Federal (PF) de Curitiba em 13 de abril de 2018. Segundo o G1, esse depoimento foi anexado ao inquérito sigiloso da PF que investiga corrupção na construção da Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará – construída pela Odebrecht. O montante total de propina paga pela empreiteira a Lula teria sido de R$ 15 milhões.
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Segundo a reportagem do G1, o próprio Palocci disse ter entregue pessoalmente a Lula valores em espécie. Numa ocasião, em 2010, teriam sido R$ 50 mil em espécie repassados a Lula numa caixa de celular. A entrega teria sido feita no Aeroporto de Brasília, em 2010, durante a campanha presidencial daquele ano – que elegeu Dilma Rousseff (PT).
Outra entrega de Palocci a Lula teria ocorrido no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. “Em São Paulo, [Palocci] recorda-se de episódio de quando levou dinheiro em espécie a Lula dentro de caixa de whisky até o Aeroporto de Congonhas, sendo que no caminho até o local recebeu constantes chamadas telefônicas de Lula cobrando a entrega”, diz um trecho da delação divulgado pelo G1 e pelo O Antagonista. Segundo a delação, o motorista que estava com Palocci até mesmo brincou com o ex-ministro se aquela insistência de Lula era mesmo por causa do uísque ou de dinheiro.
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O depoimento de Palocci afirma ainda que as entregas de propina da Odebrecht a Lula em São Paulo ocorreram diversas vezes.
A reportagem do G1 afirma que a PF ouviu dois ex-motoristas de Palocci, que confirmaram ter presenciado alguns encontros descritos pelo ex-ministro na delação. Um deles confirmou que o ex-ministro saída do carro com caixas e voltava sem nada. Mas disse achar que eram presentes e que não sabia que havia dinheiro dentro delas. Apesar disso, ele também relatou ter visto Palocci com grandes quantidades de dinheiro em outras ocasiões.
Ex-ministro diz que Dilma sabia de propina
A delação de Palocci, segundo o G1, também cita a ex-presidente Dilma Rousseff. Segundo o ex-ministro, Dilma teria tido conhecimento do pagamento de propina da construtora Andrade Gutierrez ao PMDB (atual MDB) quando era candidata a presidente. Nessa ocasião, ela teria autorizado que os pagamentos continuassem a ser feitos, mas que voltou atrás em 2011 – quando já estava na Presidência. A Andrade Gutierrez também participou do consórcio que construiu Belo Monte.
Assessoria de Lula diz que Palocci mentiu para sair da cadeia
Em nota, a assessoria de Lula negou as acusações contra o ex-presidente e alegou que Palocci mentiu para sair da prisão. Veja a íntegra da nota:
“A Lava Jato tem quase 200 delatores beneficiados por reduções de pena. Para todos perguntaram do ex-presidente Lula. Nenhum apresentou prova nenhuma contra o ex-presidente ou disse ter entregue dinheiro para ele. Antônio Palocci, preso, tentou fechar um acordo com o Ministério Público inventando histórias sobre Lula. Até o Ministério Público da Lava Jato rejeitou o acordo por falta de provas e chamou de ‘fim da picada’.
Mas o TRF-4 decidiu validar as falas sem provas de Palocci, que saiu da prisão e foi para a casa, com boa parte de seu patrimônio mantido em troca de mentiras sem provas contra o ex-presidente. O que sobra são historinhas para gerar manchetes caluniosas.
Todos os sigilos fiscais de Lula e sua família foram quebrados sem terem sido encontrados valores irregulares. Há outros motoristas e outros sigilos que deveriam ser analisados pelo Ministério Público, que após anos, segue sem conseguir prova nenhuma contra Lula, condenado por ‘atos indeterminados’. Curiosa a divulgação dessa delação sem provas justo hoje quando outro motorista ocupa o noticiário”.
O advogado de Lula, Cristiano Zanin, também afirmou em nota que Palocci mente: “Palocci produziu mais uma narrativa mentirosa e mirabolante contra Lula em troca de benefícios negociados clandestinamente com agentes do Estado objetivando produzir resultados políticos contra o ex-presidente. É a mesma sistemática denunciada pela defesa de Lula ao Comitê de Direitos Humanos da ONU em 2016 e que aguarda julgamento perante aquela instância internacional. Também é manifestamente ilegal o vazamento desse depoimento prestado à Polícia Federal, situação que deve merecer pronta iniciativa do Diretor-Geral do órgão e do Ministro da Justiça e Segurança Pública para investigação e punição dos envolvidos”.
A assessoria de Dilma Rousseff também emitiu nota: “A propósito das supostas novas declarações do senhor Antônio Palocci, a assessoria de imprensa de Dilma Rousseff registra: mais uma vez, o senhor Antônio Palocci mente em delação premiada, tentando criar uma cortina de fumaça porque não tem provas que comprometam a idoneidade e a honra da presidenta Dilma”.
A Odebrecht informou: “A Odebrecht tem demonstrado que está disposta a colaborar de forma eficaz com as autoridades em busca do pleno esclarecimento dos fatos narrados pela empresa e seus ex-executivos. A Odebrecht já usa as mais recomendadas normas de conformidade em seus processos internos e segue comprometida com uma atuação ética, íntegra e transparente”.
A construtora Andrade Gutierrez também emitiu nota: “A Andrade Gutierrez informa que apoia toda iniciativa de combate à corrupção, e que visa a esclarecer fatos ocorridos no passado. A companhia assumiu esse compromisso público ao pedir desculpas em um manifesto veiculado nos principais jornais do país e segue colaborando com as investigações em curso dentro do acordo de leniência firmado com o Ministério Público Federal. A empresa incorporou diferentes iniciativas nas suas operações para garantir a lisura e a transparência de suas relações comerciais, seja com clientes ou fornecedores, e afirma que tudo aquilo que não seguir rígidos padrões éticos será imediatamente rechaçado pela companhia”.
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