Na primeira semana de trabalho após divulgação dos investigados citados pelos delatores da Odebrecht, o governo de Michel Temer, com parte de sua base no Congresso, quer dar ares de normalidade na sua agenda. O entendimento é que mostrar serviço é a saída para tentar abafar os efeitos do estrago feito pelo conteúdo das delações, que atingiu deputados, senadores e ministros de Temer. O primeiro teste desse empenho se dará na manhã desta terça-feira (18). O presidente busca reunir o maior número de deputados para um café da manhã no Palácio do Alvorada no qual será apresentado texto final da reforma da Previdência. O objetivo é iniciar a leitura do texto à tarde, no plenário da comissão especial.
O governo pretende levar até o Alvorada pelo menos 200 deputados de sua base. Acredita que esse número dará uma demonstração de força e será o sinal de que as revelações da Lava-Jato não irão parar o Congresso. A oposição quer impedir a iniciativa do governo e entende que não há clima, depois dos fatos que vieram a público semana passada, para se votar qualquer reforma vital para o país.
“O governo quer mostrar uma normalidade que não existe. A Casa foi atingida com as delações e esse Congresso não tem credibilidade para votar reformas que mexem profundamente na vida dos brasileiros. E nem esse governo está também com crédito para isso. Vamos fazer o que estiver ao nosso alcance para evitar essas manobras” disse o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ).
O líder do PSDB, Ricardo Trípoli (SP), entende que as votações não podem parar. Parlamentares e lideranças nacionais de seu partido – casos do governador Geraldo Alckmin e dos senadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP) – foram alcançados pelas acusações e veem seus planos políticos, nesse momento, comprometidos. “O fim do sigilo das investigações permitirá que os citados exerçam plenamente o direito de defesa e que a verdade, enfim, prevaleça. É fundamental que o trabalho das instituições não paralise o país.”, disse Trípoli.
O presidente da comissão da Reforma da Previdência, Carlos Marun (PMDB-MS), afirmou que o texto do relator Arthur Maia (PPS-BA) começará ser lido na terça, mas que a votação, no colegiado, só se dará na próxima semana.
“Amanhã [terça] será importante para sentirmos a temperatura da oposição. Estou muito entusiasmado. O texto avançou, e as linhas principais estão mantidas. Acabou esse negócio de 49 anos (tempo de serviço para se aposentar na primeira versão do texto), o trabalhador rural, o professor e o policial terão uma idade diferenciada para se aposentar, está bem perto de 60 anos, e o BPC continuará em no mínimo um salário-mínimo”, disse Marun, que fala em pelo menos 350 votos no plenário para aprovação da reforma. São necessários 308.
O deputado do PMDB afirmou que não recebeu telefonema de nenhum dos 39 deputados investigados no STF, a partir da delação da Odebrecht, solicitando que atrase ou segure a tramitação da reforma. Ele afirmou que, se seu nome tivesse na lista, além de se defender, irá buscar trabalhar normalmente. “Se meu nome tivesse lá, ia tocar meu trabalho normalmente. Quem quiser parar, vai estar concordando com as acusações. E não podemos continuar recebendo salário e não fazer nada”, afirmou Marun à Gazeta do Povo.
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