O presidente Donald Trump tem seus defensores no Congresso Nacional brasileiro. Esse apoio não se restringe ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), admirador das ideias do líder de direita norte-americano. O episódio da separação e prisão de filhos pequenos de imigrantes ilegais nos Estados Unidos mostrou que existe na Câmara uma "bancada do Trump", formada por parlamentares católicos, pastores evangélicos e deputados da turma da bala. Quase todos apoiadores de Bolsonaro.
Na semana passada, esse grupo evitou que fosse aprovada, no plenário da Casa, uma moção de repúdio à política de imigração de Donald Trump e, em especial, à detenção de crianças e adolescentes. A moção foi proposta pelo PSOL, acompanhada por outros partidos de esquerda, mas não foi votada. Uma moção para ser aprovada requer o apoio unânime,mas quatro deputadas da “bancada do Trump” inviabilizaram. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), desejava votar e aprovar, mas, sem acordo, não levou adiante.
Os "trumpistas" criticam o que chamam de implicância da esquerda com o presidente americano. Dizem que se trata de perseguição e acusam os esquerdistas de tolerar o presidente Nicolás Maduro, da Venezuela. O deputado e pastor da Assembleia de Deus Marco Feliciano (PODE-SP) se apresenta como um "entusiasta" do governo Trump e disse que, no caso das crianças presas, o presidente "apenas cumpriu a lei". Feliciano é candidato à reeleição.
“As pessoas que estão sendo separadas não são só imigrantes; são imigrantes ilegais, presos instantaneamente. Não existe nos Estados Unidos uma lei que diga que a criança pode ficar presa junto com o pai e a mãe no mesmo lugar. Então, aqui está a mentira que a esquerda diz. A esquerda dissimula e estimula a mentira”, disse Feliciano, que já foi presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, onde teve gestão marcada por enfrentamentos contra militantes de movimentos LGBT.
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O deputado Arolde de Oliveira (PSD-RJ), autor de um projeto para impedir casamento entre homossexuais, também defendeu Trump e disse que a esquerda não aceita o "sucesso" de Donald Trump.
"Esse debate é um absurdo. É claro que toda a esquerda do mundo inteiro não aceita o sucesso do presidente dos Estados Unidos e fica apelando para os direitos humanos. Essa é uma lei antiga (de separar filhos dos pais presos). É do tempo do Clinton e foi aplicada pelo Obama, pelos democratas de lá, que são parceiros da esquerda daqui. No entanto, eles não falam isso", disse Oliveira, que anunciou que Trump irá revogar a lei.
Integrante da chamada “bancada da bala” e filiado ao partido de Bolsonaro, o deputado Major Olimpio (PSL-SP) afirmou que não há como manter as crianças presas junto com os pais. É uma imposição da lei, sustenta. E acha que os políticos brasileiros não deveriam se envolver nessa história. "Não vamos fazer disso um braço-de-ferro aqui. Com toda a sensibilidade humana, peço licença: vamos cuidar do nosso quintal neste momento, que este já está muito sujo e precisa ser cuidado", disse Olimpio.
Também pastor evangélico, o deputado Ezequiel Teixeira (Pode-RJ) defende Trump. Ele foi exonerado da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do governo do Rio, em 2016, por defender a chamada “cura gay”. Na Câmara, apresentou projeto nesse sentido. Ele defendeu que, na moção do PSOL, fosse incluída também uma citação a Nicolás Maduro.
"Gostaríamos de incluir nessa moção de repúdio, o Maduro também. Eles se esqueceram de colocar o Maduro. O Maduro oprime não só crianças, mas também adolescentes, jovens e pessoas de terceira idade. Na realidade, é um absurdo! Este é o nosso protesto: inclua também nessa moção o Maduro, que a esquerda nunca inclui", discursou Teixeira.
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A moção contra Trump foi apresentada pelo líder do PSOL, deputado Chico Alencar (RJ), e acompanhada por líderes do PT, MDB, PSDB, PCdoB e PPS. Deputados defensores da moção a Trump reagiram aos "aliados" de Trump.
"O orador que me antecedeu (Marco Feliciano) fez um discurso, para mim, surpreendente. Um elogio a Donald Trump. No mundo inteiro, todos fazem chacota de uma liderança que não honra o que existe de tradição democrática nos Estados Unidos.Gostaria que ele me explicasse como pode ser tão cruel Donald Trump, que separa crianças dos seus pais, refugiados em uma situação-limite. É muita crueldade", disse o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP).
O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) disse ser um absurdo a Câmara não aprovar uma moção e culpou a "manobra" da “bancada do Trump”. "É um absurdo que o plenário do Parlamento brasileiro se negue a votar uma matéria como esta, exatamente no momento em que temos, de maneira flagrante, o rompimento dos direitos básicos, principalmente, de crianças nos Estados Unidos", disse Braga.
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