O juiz Sergio Moro retoma nesta quinta-feira (04) os últimos interrogatórios do processo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva envolvendo um tríplex no Guarujá. O juiz vai ouvir, a partir das 14 horas, o presidente do Instituto Lula Paulo Okamotto, também réu na ação penal. O depoimento do executivo da OAS, Agenor Medeiros, também foi remarcado para essa quinta-feira.
Apesar de ser réu no mesmo processo, Okamotto não tem ligação com a denúncia específica do tríplex no Guarujá, litoral norte de São Paulo. Ele é acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de ajudar na lavagem de R$ 1,3 milhão através de um contrato fictício de armazenagem de materiais de escritório e mobiliário corporativo da OAS.
Segundo a denúncia, o contrato servia para o armazenamento de bens pessoais de Lula firmado com a empresa Granero. Segundo o MPF, a Granero foi responsável por armazenar parte do acervo presidencial de Lula quando ele deixou o Palácio do Planalto. Paulo Okamotto é acusado por ter feito as tratativas com a Granero para a armazenagem dos bens, além de ter pedido para que a OAS pagasse pelo contrato como forma de “apoio” ao ex-presidente, já que o Instituto Lula não possuía recursos para o pagamento.
O caso foi inserido pelo MPF na mesma denúncia envolvendo o tríplex por ter ligação com as condutas da empreiteira OAS.
O faz-tudo de Lula
Paulo Okamotto é ligado à militância sindical desde a década de 1980, quando conheceu o ex-presidente Lula no Sindicato dos Metalúrgicos no ABC Paulista. Ele chegou a assumir cargos de direção – e até a presidência – do sindicato. Em 1989 fez parte da coordenação da primeira campanha de Lula à Presidência da República.
Por sua proximidade com o ex-presidente Lula, várias denúncias respingaram perto de Okamotto ao longo dos anos. Ele chegou a ser alvo da CPI dos Bingos no Congresso, que investigava a origem de R$ 30 mil pagos por Okamotto em despesas pessoais de Lula.
Operador do Mensalão, o publicitário Marcos Valério chegou a dizer que foi ameaçado de morte por Okamotto para não revelar o que sabia sobre o esquema. Okamotto nega que tenha feito qualquer ameaça ao publicitário. Valério contou que em uma conversa o presidente do Instituto Lula disse que pessoas no PT achavam que o publicitário merecia morrer.
Quando Lula deixou a Presidência da República, Paulo Okamotto tornou-se presidente do Instituto Lula – cargo que ainda exerce atualmente. Ele é visto como uma pessoa próxima ao ex-presidente, mas nega que tenha algum controle das finanças de Lula, por exemplo.
Em depoimento em colaboração premiada, o executivo da Odebrecht Alexandrino Alencar contou que tinha relação estreita com Okamotto, a quem chegou a pagar uma “mesada” de cerca de R$ 10 mil durante um período. O presidente do Instituto Lula nega que tenha recebido recursos da empreiteira.
Alencar também contou que foi com Okamotto que se reuniu para elaborar um plano de palestras a serem proferidas por Lula no exterior, quando ele deixou a Presidência. As palestras de Lula também são alvo de investigações na Lava Jato, desde a deflagração da 24ª fase da operação, em março do ano passado, que teve o ex-presidente como alvo.
Entenda o caso
Okamotto e Agenor Medeiros vão depor nesta quinta-feira (04) no primeiro processo contra Lula aberto na Justiça Federal de Curitiba. Segundo a denúncia, Lula teria recebido “benesses” da empreiteira OAS – uma das líderes do cartel que pagava propinas na Petrobras - em obras de reforma no apartamento 164-A do Edifício Solaris. O prédio foi construído pela Bancoop (cooperativa habitacional do sindicato dos bancários). O imóvel foi adquirido pela OAS e recebeu benfeitorias da empreiteira. Os procuradores da Lava Jato acusam Lula de ser o verdadeiro dono do tríplex que estava em reforma.
O ex-presidente seria ouvido nesta quarta-feira (03), mas o depoimento dele foi adiado depois de um pedido da Polícia Federal (PF), que alegou que precisava de mais tempo para organizar a segurança – apesar do interrogatório ter sido marcado com 60 dias de antecedência por Moro. A nova data prevista para o depoimento de Lula é semana que vem, no dia 10.
Grupos pró e contra Lula já se movimentam para acompanhar o depoimento em frente à Justiça Federal de Curitiba. Será a primeira vez que Lula e Moro ficam frente à frente no processo. No ano passado, Lula chegou a ser ouvido pelo juiz como testemunha de defesa do ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mas o depoimento foi por videoconferência com São Paulo.