Em carta, ex-presidente da estatal aconselha presidente a não interferir politicamente na empresa| Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A demissão de Pedro Parente da presidência da Petrobras encerra um ciclo de dois anos sem interferência política na gestão da estatal. Durante o tempo em que esteve à frente da companhia, Parente estabeleceu uma nova política de preços dos combustíveis, diferente do que ocorria nos governos petistas. Como resultado, conseguiu recuperar parte do prejuízo que a Petrobras acumulava desde 2014, quando a operação Lava Jato começou a arranhar a reputação da estatal.

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Leia a íntegra da carta de demissão de Pedro Parente

A greve dos caminhoneiros, que durou 11 dias, acabou atrapalhando os planos de Pedro Parente para a Petrobras e culminou na sua carta de demissão. Ao deixar o cargo, o ex-presidente da estatal driblou a falta de apoio do presidente da República e preservou seu legado à frente da estatal.

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“Ele sentiu que se ele continuasse [na Petrobras], continuaria começando a ter que ceder a influências políticas e isso traria reflexos aos números dele como presidente da estatal. Se ele continuasse presidente, com a pressão política os números da estatal piorariam o legado dele à frente da gestão da Petrobras”, analisa o cientista político Marcio Coimbra.

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Em sua carta de demissão, inclusive, Parente fez questão de destacar seu legado. “A Petrobras é hoje uma empresa com reputação recuperada, indicadores de segurança em linha com as melhores empresas do setor, resultados financeiros muito positivos, como demonstrado pelo último resultado divulgado, dívida em franca trajetória de redução e um planejamento estratégico que tem se mostrado capaz de fazer a empresa investir de forma responsável e duradoura, gerando empregos e riqueza para o nosso país”, disse.

Parente também fez questão de deixar um recado para o presidente Michel Temer: não deixar que haja interferência política dentro da Petrobras. Uma espécie de “eu avisei” antecipado. “Permita-me, Sr. Presidente, registrar a minha sugestão de que, para continuar com essa histórica contribuição para a empresa — que foi nesse período gerida sem qualquer interferência política — Vossa Excelência se apoie nas regras corporativas, que tanto foram aperfeiçoadas nesses dois anos, e na contribuição do Conselho de Administração para a escolha do novo presidente da Petrobras”, disse Parente na carta de demissão.

Durante a greve dos caminhoneiros, Parente chegou a anunciar uma redução de 10% no preço do diesel por 15 dias. Ele chamou a medida de “gesto de boa vontade” com o governo federal. Para Coimbra, a saída de Parente do cargo ocorreu, principalmente, por que ele percebeu que não teria respaldo político para continuar sua gestão.

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“Pedro Parente começou com a ideia de não ingerência politica. Quando enxerga que não tem mais o respaldo do presidente, no sentido de não ceder a política, ou sente que o presidente está prestes a ceder à pressão da politica, ele toma o rumo dele”, explica o cientista político. “Ele se preservou diante de um governo fraco”, analisa.

Para o professor do curso de Ciências Econômicas da PUCPR, Wilhelm Meiners, não houve competência por parte do governo federal para manter Parente no cargo. “Ele dependeria de um respaldo de um presidente forte, que bancasse o Pedro Parente, mas é o contrário do que nós temos. Nós temos um presidente muito fraco, rendido ao eleitorado, rendido a baixíssima popularidade e rendido aos caminhoneiros”, analisa.

Ainda nesta sexta-feira (01), o presidente Michel Temer anunciou Ivan Monteiro como novo presidente da Petrobras. Ele já havia sido escolhido como interino pelo Conselho de Administração da estatal. Em seu pronunciamento, Temer garantiu que não haverá interferência do governo na política de preços da Petrobras.

*** Leia a íntegra da carta de demissão de Pedro Parente:

“Excelentíssimo Senhor Presidente da República,

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Quando Vossa Excelência me estendeu o honroso convite para ser presidente da Petrobras, conversamos longamente sobre a minha visão de como poderia trabalhar para recuperar a empresa, que passava por graves dificuldades, sem aportes de capital do Tesouro, que na ocasião se mencionava ser indispensável e da ordem de dezenas de bilhões de reais. Vossa Excelência concordou inteiramente com a minha visão e me concedeu a autonomia necessária para levar a cabo tão difícil missão.

Durante o período em que fui presidente da empresa, contei com o pleno apoio de seu Conselho. A trajetória da Petrobras nesse período foi acompanhada de perto pela imprensa, pela opinião pública, e por seus investidores e acionistas. Os resultados obtidos revelam o acerto do conjunto das medidas que adotamos, que vão muito além da política de preços.

Faço um julgamento sereno de meu desempenho, e me sinto autorizado a dizer que o que prometi foi entregue, graças ao trabalho abnegado de um time de executivos, gerentes e o apoio de uma grande parte da força de trabalho da empresa, sempre, repito, com o decidido apoio de seu Conselho.

A Petrobras é hoje uma empresa com reputação recuperada, indicadores de segurança em linha com as melhores empresas do setor, resultados financeiros muito positivos, como demonstrado pelo último resultado divulgado, dívida em franca trajetória de redução e um planejamento estratégico que tem se mostrado capaz de fazer a empresa investir de forma responsável e duradoura, gerando empregos e riqueza para o nosso país. E isso tudo sem qualquer aporte de capital do Tesouro Nacional, conforme nossa conversa inicial. Me parece, assim, que as bases de uma trajetória virtuosa para a Petrobras estão lançadas.

A greve dos caminhoneiros e suas graves consequências para a vida do País desencadearam um intenso e por vezes emocional debate sobre as origens dessa crise e colocaram a política de preços da Petrobras sob intenso questionamento. Poucos conseguem enxergar que ela reflete choques que alcançaram a economia global, com seus efeitos no País. Movimentos na cotação do petróleo e do câmbio elevaram os preços dos derivados, magnificaram as distorções de tributação no setor e levaram o governo a buscar alternativas para a solução da greve, definindo-se pela concessão de subvenção ao consumidor de diesel.

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Tenho refletido muito sobre tudo o que aconteceu. Está claro, Sr. Presidente, que novas discussões serão necessárias. E, diante deste quadro fica claro que a minha permanência na presidência da Petrobras deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das alternativas que o governo tem pela frente. Sempre procurei demonstrar, em minha trajetória na vida pública que, acima de tudo, meu compromisso é com o bem público. Não tenho qualquer apego a cargos ou posições e não serei um empecilho para que essas alternativas sejam discutidas.

Sendo assim, por meio desta carta, apresento meu pedido de demissão do cargo de Presidente da Petrobras, em caráter irrevogável e irretratável. Coloco-me à disposição para fazer a transição pelo período necessário para aquele que vier a me substituir.

Vossa Excelência tem sido impecável na visão de gestão profissional da Petrobras. Permita-me, Sr. Presidente, registrar a minha sugestão de que, para continuar com essa histórica contribuição para a empresa — que foi nesse período gerida sem qualquer interferência política — Vossa Excelência se apoie nas regras corporativas, que tanto foram aperfeiçoadas nesses dois anos, e na contribuição do Conselho de Administração para a escolha do novo presidente da Petrobras.

A poucos brasileiros foi dada a honra de presidir a Petrobras. Tenho plena consciência disso e sou muito grato a que, por um período de dois anos, essa honra única me tenha sido conferida por Vossa Excelência.

Quero finalmente registrar o meu agradecimento ao Conselho de Administração, meus colegas da Diretoria Executiva, minha equipe de apoio direto, os demais gestores da empresa e toda força de trabalho que fazem a Petrobras ser a grande empresa que é, orgulho de todos os brasileiros.

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Respeitosamente,

Pedro Parente”