O perito Ricardo Molina, contratado pela defesa do presidente Michel Temer, questionou a atitude da Procuradoria-Geral da República (PGR) e rebateu trechos divulgados pela PGR sobre o diálogo entre Temer e o executivo da JBS Joesley Batista. Molina disse que é preciso responder a razão da PGR ter se apressado na divulgação do áudio, que classificou como "imprestável". "A pergunta que fica é por que a Procuradoria se apressou a divulgar uma gravação tão nitidamente corrompida?", indagou o perito.
Em mais um momento de claro embate com a PGR, Molina contestou um dos trechos constatados pela procuradoria. Segundo ele, a que expressão "todo mês" na verdade é "tô no meio". "E no trecho seguinte não se escuta nada. Não há sequência lógica na conversa", afirmou Molina, em uma coletiva de imprensa, ao lado do advogado Gustavo Guedes.
Segundo o MPF, em encontro com Joesley, Temer deu aval para que ele continuasse a pagar uma espécie de mesada ao ex-deputado Eduardo Cunha e ao doleiro Lúcio Funaro, ambos presos, para que continuassem em silêncio. O áudio da conversa, gravada por Joesley, foi tornado público na última quinta-feira (18).
O advogado afirmou que a coletiva com Molina seria apenas técnica e não jurídica. Segundo Guedes, o perito faria uma apresentação para mostrar que há "trechos omissos" no áudio em que o presidente é flagrado com o executivo da JBS, Joesley Batista. Guedes explicou que o laudo foi contratado pelo advogado de Temer, Antonio Mariz, e que a contratação se deveu a informações de que teriam cortes na gravação. Segundo ele, é preciso esclarecer ao País essa situação "envolvendo a gravação e os trechos omissos". Guedes disse ainda que Molina falará na coletiva de hoje e que, se for o caso, amanh
Molina disse que, se a gravação não tivesse problemas, não estaria sendo discutida. "Os problemas são detectados até pelos leigos", afirmou. O perito disse ainda que "causa estranheza" a gravação ter sido feita com gravador "tão vagabundo" e que, apesar de não querer entrar em teorias conspiratórias, a gravação está "inteiramente contaminada". "Em processo normal, essa gravação sequer seria considerada como prova", disse, ressaltando que o áudio está contaminado "por interrupções e mascarado por ruídos".
Molina disse ainda que não existe prova mais ou menos boa. "Ela deveria ter sido considerada imprestável desde o primeiro momento", afirmou. Segundo o perito, não é possível provar nada, porque a "prova é imprestável".
Molina criticou também o que chamou de "profusão caótica de opiniões". "Todo mundo virou perito no País", disse.
O professor da Universidade Federal de Alagoas, George Sanguinetti, e o perito forense e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Nelson Massini, contestaram o parecer da defesa do presidente Michel Temer e avaliam que o áudio da gravação feita pelo empresário Joesley Batista do diálogo no porão do Palácio do Jaburu tem ruídos e interferências, mas pode ser usado como prova em qualquer julgamento.
Sanguinetti foi além e analisou ponto a ponto as explicações do perito Ricardo Molina. Ele lamentou que o colega não tenha feito uma análise técnica da gravação e disse que refez seus próprios testes após a entrevista da defesa do presidente. Fica evidente, segundo ele, que não há edições.
"Eu entendo que o senhor assistente técnico de defesa, na ânsia de ajudar, tenha esquecido a metodologia e a boa técnica pericial. Um perito não pode citar 'provavelmente', 'possivelmente'. Ele tem que ser afirmativo", disse Sanguinetti.
Segundo ele, Molina mostra, ao longo de sua análise, apenas dúvidas, mas não prova nada.
"Ele diz que, analisando o perfil das ondas, há indicação de que a gravação poderia ter sido manipulada. 'Poderia' não tem validade. Ou ele declara que é ou que não é. Diz que 'o mais provável é que houve extração de trechos da conversa'. Ou a conversa aconteceu e foram omitidos alguns trechos ou não. Como perito forense, tem que ser exato. Dizer que é mais provável que houve edição é uma ilação, isso não é uma perícia”, argumentou o professor. "A fita (o áudio) é boa e serve como prova", disse Sanguinetti.
Para Massini, não há qualquer adulteração da gravação. Ele manteve esse entendimento mesmo após assistir à entrevista em que Molina aponta inconsistências no áudio.
"Gravações desse tipo não são descartáveis. Só são descartadas quando elas são ilícitas. A prova não tem edição. O que tem de audível já dá um profundo mergulho no Código Penal", disse.
Uma análise da rádio CBN, porém, aponta uma diferença de 6 minutos e 21 segundos entre o áudio da conversa de Temer com Joesley Batista, na noite de 7 de março. A gravação entregue por Batista à PGR tem 38 minutos e 48 segundos. A programação, registrada na chegada e na saída do empresário ao Palácio do Jaburu para a conversa com o presidente, teve duração de 45 minutos e 9 segundos.
Joesley chegou ao Jaburu às 22h31 ouvindo o programa Repórter CBN. Depois da conversa com Temer, em que descreveu uma série de crimes, ele deixa o palácio às 23h15, quando já estava no ar o quadro Nos Acréscimos.
O GLOBO questionou o advogado Francisco de Assis e Silva, responsável pela delação de Batista, sobre essa diferença. Ele disse que teria de ouvir novamente a gravação para, a partir daí, tentar ver o que aconteceu. Ele reafirmou, no entanto, que não há qualquer alteração na gravação: "Entregamos um áudio real e integral.”
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