Petistas e outros apoiadores do ex-presidente Lula estão usando parte de um sermão do papa Francisco para reforçar a ideia de que o Brasil sofre um golpe, que começou com o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e continua agora com a condenação e prisão de Lula na Lava Jato, impedindo que ele seja candidato nas eleições de outubro deste ano.
Em uma homilia nesta quinta-feira (17), Francisco criticou o papel da mídia em difamar pessoas públicas a ponto de levar a um “golpe de Estado”. O papa citou o exemplo de Jesus, que no Domingo de Ramos foi recebido em Jerusalém com aclamações de “Bendito o que vem em nome do Senhor”, mas, na sexta-feira seguinte, as mesmas pessoas gritaram “Crucifiquem-no”.
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“Essa instrumentalização do povo é também um desprezo pelo povo, porque o transforma em massa. É um elemento que se repete com frequência, desde os primeiros tempos até hoje”, disse o pontífice, segundo o Vatican News. “Criam-se condições obscuras para condenar uma pessoa”, disse o papa, ainda segundo o Vatican News, acrescentando que esse método é muito usado hoje também “na vida civil, na vida política, quando se quer fazer um golpe de Estado”.
“A mídia começa a falar mal das pessoas, dos dirigentes, e com a calúnia e a difamação essas pessoas ficam manchadas”. Depois chega a justiça, “as condena e, no final, se faz um golpe de Estado”. Francisco comparou essa ação à perseguição nas arenas, quando a multidão gritava para ver lutas entre mártires ou gladiadores.
A fala do papa – apesar de não fazer qualquer menção ao Brasil – foi o suficiente para atiçar as redes sociais e grupos de WhatsApp. Lideranças e militantes de esquerda afirmam que o sermão de Francisco foi sim direcionada ao atual momento político brasileiro, cuja crise iniciada após a reeleição de Dilma Rousseff para Presidência da República, em 2014, persiste até hoje.
Dilma teve o mandato cassado após um processo de impeachment por crime de responsabilidade iniciado em abril de 2016 pela Câmara dos Deputados e concluído quatro meses depois pelo Senado Federal. O PT acusa o PMDB de conspirar com a mídia, empresários e partidos da oposição para assumir o poder a fim de impedir o avanço das investigações da Operação Lava Jato, que atingiram políticos do mais alto escalão de Brasília e de diversos partidos, além de empresários poderosos.
Entre eles, o ex-presidente Lula, que foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro no processo do tríplex – primeiro pelo juiz federal Sergio Moro e depois pelo Tribunal Regional federal da 4ª Região. Esta última condenação enquadrou o petista na Lei da Ficha Limpa, o que o impede de se candidatar nas eleições de outubro.
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