O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (MDB), tentou transparecer em entrevista no Palácio do Planalto, nesta sexta-feira (16), uma normalidade que não combina com a situação de intervenção federal na segurança pública no seu estado, que retira do governador todas as prerrogativas de comando da área. Pezão nem mesmo admite ter alguma responsabilidade pelo grave problema financeiro do seu estado e o credita, com naturalidade, à queda do preço do petróleo e à crise econômica do país.
“Não (me sinto responsável). Não sou culpado de ter chegado em abril (de 2014) com US$ 115 o barril do petróleo e governar um ano e dois meses com preço do barril do petróleo a US$ 28, e mais um ano a US$ 32 o barril. O Rio tem uma dependência muito forte do petróleo, os royalties do petróleo é que capitalizam a previdência publica, e foi uma tempestade perfeita. E a Petrobras, que é o carro chefe do Rio de Janeiro, se ela é importante para o país, imagina para o estado”, disse o governador.
Pezão participou da cerimônia de assinatura do decreto que institui a intervenção federal no estado do Rio e aprofunda o controle federal na segurança do estado, que já conta com operações militares. Com tranquilidade, disse não encarar a adoção da intervenção como uma demonstração da falência do governo estadual.
“Eu vejo como uma parceria”, disse o governador ao final do evento. “Não temos essa falência (do controle do governo do estado). Tivemos e temos problemas financeiros graves. Nós temos mais de 60% da nossa frota paralisada. Atrasos de salários que agora nos regularizamos, hoje até com aumento para a área de segurança, foi um quadro muito difícil para nossa área de segurança trabalhar. É um momento de ampliarmos essa parceria”, afirmou.
Leia também: Intervenção por decreto é usada pela primeira vez desde a Constituição de 1988
Ao explicar porque a intervenção ocorre somente agora, depois da morte de 142 policiais, Pezão diz que o presidente Michel Temer é quem demorou a aceitar realizar essa “parceria” com o estado. “Eu sempre pedi essa parceria maior. Isso não é fácil para as forças armadas também, daqui a pouco pode ser demandado para todo o país, está sendo uma experiência nova e o presidente agora assumiu”, disse.
Ele emenda sua explicação listando ações de seu governo, como a compra de mil carros para as polícias e criação de um fundo com royalties do petróleo. “É uma fonte segura”, diz, apesar de ter afirmado minutos antes que foi por causa da queda do preço do barril da commodity no mercado que o estado entrou em apuro financeiro.
Segundo ele, essa “cooperação” entre o Rio e o governo federal se tornou necessária agora com um recrudescimento da violência, resultando na morte de mais de uma centena de policiais no estado, que já chega a 142 mortos. Neste ano já foram apreendidos 62 fuzis, disse o governador. Por ser uma arma de guerra, é preciso que militares atuem, explica o governador, de dentro do Palácio do Planalto, em Brasília.
Leia também: Quem é o general que vai comandar a intervenção federal no Rio de Janeiro
Pezão concedeu entrevista de cerca de dez minutos, negando responsabilidades sobre o problema da segurança e apontando para outros estados, como ao dizer que o Rio de Janeiro não é a capital mais violenta do país e que pelo menos outros 22 estados têm capitais com problemas de segurança pública.
“A segurança publica é uma chaga hoje no país”, disse, afirmando que o assunto terá de ser debatido nas eleições e por outros estados.
Corrupção?
Mesmo ao ser questionado sobre os reflexos da corrupção em seu estado – que resultaram na prisão do ex-prefeito Sérgio Cabral, Pezão acaba por tergiversar e termina listando feitos de sua gestão, mencionando que as obras realizadas por ele são mais baratas do que as de outros estados. Diz estar tranquilo e que ele mesmo pediu inspeção federal nos órgãos de controle do estado.
“Eu tenho tranquilidade. A corrupção tem de ser combatida e está sendo”, disse.