O espaço que se abre na política para que pessoas de fora – os “outsiders” – se candidatem é visto como oportunidade para os policiais federais. Eles estão armados, mas não querem mais ser relacionados à “bancada da bala”, grupo de parlamentares que apoiam a indústria de arma. Eles desejam ser lembrados como combatentes contra a corrupção, defensores da população.
Nas organizações de servidores e agentes da Polícia Federal (PF) já são dadas como certas as candidaturas de alguns agentes e delegados à Câmara dos Deputados, em 2018.
Será central no discurso de campanha o raciocínio de que o policial não é um “político profissional”, alinhado com o argumento de outros grupos que vieram de fora da política, como os empresários e artistas, e que levou João Doria (PSDB) à prefeitura de São Paulo. No caso dos policiais, eles exaltam que seu ganha-pão é ser investigador e seu compromisso não será com a reeleição ou com a próxima disputa eleitoral.
Dentro da PF, se tem como ideal a candidatura de ao menos um policial em cada unidade da federação. Os agentes famosos são cotados, como Lucas Valença, o “Hipster da Federal”, que conduziu Eduardo Cunha quando o ex-deputado foi preso, e pode ser candidato pelo estado de Goiás.
Outros cotados internamente nas associações para representar essa nova cara que a PF pretende levar à Câmara dos Deputados são Flávio Werneck (DF), Cláudio Prates (MG), Sandro Araújo (RJ) e André Salineiro (MS). Werneck disputou o cargo de deputado federal pelo Distrito Federal em 2016, pelo PDT, obtendo apenas 0,64% dos votos válidos (9.327 votos). Prates, Araújo e Salineiro foram eleitos vereadores em 2016.
Mais nomes ainda deverão surgir e estão em análise pelas federações da carreira, além da candidatura à reeleição dos deputados federais Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) e Aluisio Mendes (PODE-MA). No Paraná, uma das apostas é o deputado estadual Márcio Pacheco (PPL). Não há um alinhamento partidário único, e as legendas são diversas.
Lava Jato ajudou a criar boa imagem da PF
Na onda criada pela operação Lava Jato, eles tentam se descolar da figura do policial truculento, militar e fardado, que defende os interesses da indústria bélica e contra o desarmamento, para se apresentarem como defensores da população, ligados a causas sociais e à prevenção ao crime.
Segundo Werneck, ter na Câmara dos Deputados representantes da PF como Eduardo Bolsonaro ou Aluisio Mendes tem ajudado a encaminhar projetos junto ao Poder Executivo e Legislativo para permitir “a modernização da atuação policial” e buscar uma polícia mais “cidadã”, próxima da população.
No Legislativo, os policiais poderão, na visão de Werneck, desenvolverem projetos para fortalecer a prevenção do crime nas fronteiras. Uma das ideias que podem ser importadas de outros países é a criação de área especializada dentro da PF para atuação nas fronteiras, ou até mesmo a alocação das forças militares nessa atividade.
Pautas pró-corporação podem ajudar na campanha
Apesar de negarem a pauta em prol da corporação, o apoio dos próprios policiais será essencial para eleger nomes de dentro da PF e pelo menos durante a campanha e pré-campanha esses interesses ganharão espaço.
A defesa dos interesses dos policiais federais será importante ferramenta de campanha para esses prováveis candidatos, mesmo estando longe do discurso central. Entre esses pontos estão, por exemplo, a guerra contra a Reforma da Previdência, que, caso aprovada, aumentará em até 13 anos o tempo de serviço dos agentes.
Em sua atuação como representante sindical, Werneck se opõe à reforma e pede apuração da arrecadação previdenciária. O policial e possível candidato participou de reunião da CPI da Previdência, onde sugeriu a colaboração de policiais aposentados nas investigações sobre o tema.
Na eleição passada, seis agentes federais foram eleitos prefeitos, e treze, vereadores, de acordo com a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef).
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