O nome do futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), consta em uma planilha entregue por delatores da JBS à Procuradoria-Geral da República (PGR) como destinatário de uma segunda doação eleitoral via caixa 2, por ele não admitida até agora. No ano passado, o congressista confessou ter obtido da empresa, para a campanha de 2014, R$ 100 mil não declarados à Justiça Eleitoral.
O documento, revelado pela Folha de S. Paulo, mostra que Onyx recebeu outros R$ 100 mil em 2012. O pagamento a “Onyx-DEM” foi feito em 30 de agosto daquele ano, em meio às eleições municipais. Segundo os colaboradores, o dinheiro foi repassado em espécie.
Na época, o deputado não concorreu a cargos eletivos, mas era presidente do DEM no RS e apoiou vários candidatos. Nos registros do Tribunal Superior Eleitoral, não consta doação oficial da JBS ou da J&F – holding que a controla – para a sigla naquelas eleições. Os executivos da JBS relataram esquemas de caixa 2 de 2006 a 2014.
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Os dois pagamentos estão sendo investigados pela Procuradoria desde agosto, por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin. A pedido da PGR, ele determinou a instauração de uma petição autônoma – espécie de apuração preliminar – sobre as suspeitas de contribuições ilegais a Onyx e mais 35 políticos.
Em 3 de maio do ano passado, o ex-diretor de Relações Institucionais da J&F Ricardo Saud entregou à PGR anexo de sua colaboração informando que a JBS doou via caixa 2 R$ 200 mil a Onyx em 2014.
Foi após o caso ser divulgado que o deputado admitiu ter recebido R$ 100 mil da empresa. Ele não mencionou pagamento em 2012. Afirmou que o dinheiro foi usado para quitar gastos eleitorais e concordou que deveria “pagar pelo erro”.
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As informações sobre a doação em 2012 foram detalhadas pelos delatores depois disso. Elas constam de anexos complementares entregues por Joesley Batista, dono da J&F, Saud e Demilton Castro, responsável por pagamentos ilegais, em agosto do ano passado, ainda no prazo previsto nos acordos de colaboração. A planilha “Doações-2012”, com os registros de caixa 2, foi entregue para corroborar as acusações.
Questionado sobre a situação de Onyx, o juiz Sergio Moro, futuro ministro da Justiça, disse ter admiração por ele pela defesa que o deputado fez, no Congresso, das medidas anticorrupção, e lembrou que o deputado pediu desculpas.
Onyx ataca jornal, nega caixa 2 e diz não temer ninguém
Onyx Lorenzoni reagiu da seguinte maneira à reportagem publicada pela Folha de S.Paulo de que teria recebido R$ 100 mil a mais de caixa 2 em 2012, do grupo JBS, “Jair Bolsonaro, Sérgio Moro e Onyx Lorenzoni são combatentes contra a corrupção, não me incluam nessa lama petista”, disse Lorenzoni.
Ao chegar ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde funciona o governo de transição, ele fez um pronunciamento demonstrando irritação. Ele afirmou que recebeu “molotovs” (bomba caseira), de seus adversários petistas, pediu “trégua” à imprensa e disse que o novo governo “não tem paz para se organizar e trabalhar”.
“Há tempos tentam destruir Bolsonaro e agora tentam fragilizá-lo. Eu não temo ninguém, tenho a verdade comigo”, disse. “Vamos parar com o terceiro turno em respeito à decisão das urnas”, emendou.
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Lorenzoni afirmou desconhecer a pessoa que fez a delação à PGR e voltou a afirmar que a planilha apresentada por executivos do grupo JBS aos procuradores é falsa. Ele fez diversas críticas à Folha de S.Paulo, acusando o jornal de defender o PT.
Lorenzoni começou seu discurso se defendendo de acusações de 2005, quando, segundo ele, o PT tentou caçar seu mandato na Câmara, falsificando uma assinatura, do então ministro Tarso Genro. Ele também se defendeu sobre o caso envolvendo a Odebrecht. “Eu provei que aquela denúncia era mentira e aquela denúncia era falsa”, disse. Lorenzoni não quis responder as perguntas feitas pelos jornalistas nesta quarta.
Bolsonaro diz que ministros com acusações contundentes deverão deixar governo
O presidente eleito Jair Bolsonaro comentou na manhã desta quarta-feira (14), em entrevista à TV Record, a acusação de que Onyx Lorenzoni poderia ter recebido dinheiro não declarado em campanha eleitoral de 2014. “Tudo nos preocupa. Uma denúncia tornando-se robusta, transformando-se aquela pessoa em réu, nós vamos tomar alguma providência. O Onyx é ciente disso.”
Bolsonaro afirmou que tem conversado com ministeriáveis sobre corrupção, mas declarou que é difícil ter uma equipe isenta de denúncias. “É muito difícil hoje em dia você pegar alguém que não tenha alguns problemas, por menores que sejam. Os menores, logicamente, nós vamos ter que absorver. Se o problema ficar vultoso, você tem que tomar uma providência”.
A providência de Bolsonaro, segundo ele, seria o desligamento de acusados com denúncias contundentes.
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