A economia brasileira voltou a crescer após oito trimestres consecutivos de baixa. Nos três primeiros meses deste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 1% sobre o último trimestre de 2016, informou nesta quinta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na comparação com o início do ano passado, no entanto, o PIB recuou 0,4%. No acumulado de quatro trimestres, que indica o comportamento anual do indicador, a retração foi de 2,3%. Uma queda ainda forte, mas mais suave que as anteriores.
O crescimento “na margem” – que ocorre sobre uma base extremamente frágil, uma vez que no fim do ano passado a atividade econômica atingiu seu ponto mais baixo em pouco mais de seis anos – era largamente esperado por analistas que acompanham as contas nacionais.
Agronegócio e exportação
Como previsto, o crescimento econômico do início do ano foi puxado pela atividade agropecuária, que avançou 13,4% sobre o último trimestre do ano passado. A indústria cresceu 0,9% e os serviços apresentaram estabilidade (0% de variação), segundo o IBGE.
Na análise do PIB sob a ótica do consumo, apenas as exportações contribuíram para o avanço da economia, com expansão de 4,8%, superior ao avanço de 1,8% das importações, que são descontadas do PIB.
A despesa de consumo das famílias diminuiu 0,1% sobre o último trimestre de 2014. Os gastos do governo encolheram 0,6%. Ainda mais forte foi a queda dos investimentos produtivos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que baixaram 1,6%.
Sinais de estagnação
A dúvida é sobre a continuidade do crescimento do PIB e o fim definitivo da recessão que – segundo o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos da FGV – começou há três anos, no segundo trimestre de 2014.
Os dados setoriais deixam claro que só o agronegócio tem desempenho consistente. Uma retomada mais sustentável da economia depende de bons resultados nos demais setores.
Os indicadores conhecidos do segundo trimestre sugerem que a economia voltou a patinar. Economistas que já arriscam palpites esperam crescimento microscópico em relação ao primeiro trimestre, ou mesmo crescimento nenhum.
A incerteza em relação à segunda metade do ano é ainda maior, devido à fragilidade política do governo Temer. Mesmo que o presidente se segure no cargo, o andamento das reformas e a melhora das contas públicas estão ameaçados.
Juro cai menos
Os reflexos da turbulência na política já aparecem. Nesta quarta (31), o Banco Central optou por cortar a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto porcentual, e não em 1,25 ponto, como se cogitava antes da revelação dos grampos da JBS.
O Comitê de Política Monetária (Copom) também indicou que vai reduzir os juros ainda menos na próxima reunião, levando economistas a apostar numa baixa de 0,75 ponto. Se a Selic – que serve de referência para boa parte dos empréstimos – cair mais devagar, é natural que a economia se recupere ainda mais lentamente.
O comunicado divulgado ao fim da reunião do Copom traz cinco vezes a palavra “incerteza”. Em um trecho, afirma que os indicadores mostram estabilização da economia, mas que por outro lado os “níveis de incerteza elevados” sobre a evolução das reformas e ajustes “podem ter impacto negativo sobre a atividade econômica”.
Esse aumento da incerteza, sinalizaram os diretores do BC, dificulta a queda mais rápida das estimativas da “taxa de juros estrutural”, também conhecida como “taxa neutra”, aquela que não prejudica o crescimento nem abre portas para o aumento da inflação.
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