Dizem em Brasília – e isso não foi desmentido por políticos do círculo de Eduardo Cunha (PMDB) – que o ex-presidente da Câmara dos Deputados, hoje preso pela Lava Jato, teria disparado a aliados uma frase de efeito no ano passado: “Ficarei conhecido por derrubar dois presidentes do Brasil”.
Frase dita ou não, o fato é que a polêmica figura do ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro, que já foi algoz do impeachment de Dilma Rousseff (PT), agora se torna, ainda que indiretamente, o pivô da maior crise já enfrentada até aqui pelo atual presidente da República, Michel Temer (PMDB).
No diálogo entre Joesley Batista, dono da JBS, e o presidente Temer, Cunha surge como alguém que estaria recebendo dinheiro do empresário, uma espécie de mesada, para ficar em silêncio. Diante da informação, Temer teria incentivado o empresário: “Tem que manter isso, viu?”. O diálogo, gravado por Joesley Batista, foi entregue pelo empresário aos investigadores da Lava Jato no âmbito das negociações para se fechar um acordo de colaboração premiada, de acordo com o jornal O Globo.
Em setembro de 2016, antes mesmo de sua prisão na Lava Jato, Cunha reclamava da postura de aliados em Brasília, que passaram a se distanciar ainda às vésperas da cassação do seu mandato, pelo plenário da Câmara dos Deputados, com o aval de 450 dos 513 parlamentares. Após ser preso, em outubro, Cunha passou a dar sinais diretos para o Planalto, sugerindo que poderia dar publicidade a fatos comprometedores sobre o correligionário Temer.
Perguntas estranhas
Em uma das situações, ao arrolar o chefe do Executivo como sua testemunha de defesa, Cunha listou perguntas estranhas ao processo para o presidente Temer. Quase metade das questões acabou vetada pelo juiz federal Sergio Moro, responsável pelos julgamentos dos processos da Lava Jato no primeiro grau.
“Não se pode permitir que o processo judicial seja utilizado para essa finalidade, ou seja, para que parte transmita ameaças, recados ou chantagens a autoridades ou a testemunhas de fora do processo”, registrou Moro em um dos seus despachos. Na época, auxiliares do presidente Temer minimizavam as ameaças. O chefe do Executivo não estava preocupado, repetiram.
Cunha foi o responsável direto por deflagar o impeachment
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