Crianças que nascem em famílias brasileiras que pertencem à parcela mais pobre da população têm poucas chances de sair da pobreza. E, mesmo quando isso acontece, leva-se muito tempo. Em média, podem ser necessárias nove gerações para que um descendente de uma família que está entre as 10% mais pobres alcance a renda média do país. Isso é o que mostra estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre mobilidade social.
O desempenho do Brasil é um dos três piores entre os 30 países analisados. O Brasil só perde para a Colômbia, onde são necessárias 11 gerações, em média, para que descendentes nascidos em famílias pobres cheguem à renda média. E o Brasil fica empatado com a África do Sul, em que a mobilidade social também demora nove gerações. O país está atrás, por exemplo, de Chile e Argentina, onde a média é de seis gerações. Já a média dos países pesquisados é de 4,5 gerações.
INFOGRÁFICO: O ranking de mobilidade social dos 30 países analisados pela OCDE
A pesquisa também mostra a tendência de uma criança nascida em família pobre continuar no mesmo nível social. No Brasil, 35% das pessoas com pais entre os 20% mais pobres da população tendem a ficar na mesma posição social. Apenas 7% conseguem alcançar uma renda alta. Já quem nasce em família rica tem o efeito oposto. Quase a metade (43%) das crianças com pais com rendimentos elevados tende a aumentar ainda mais sua renda, enquanto apenas 7% têm chances de cair para a linha dos mais pobres.
Consequências econômicas severas
No relatório, a OCDE destaca consequências sociais e econômicas severas causadas pelo aumento da desigualdade de renda, em especial nos países emergentes (caso do Brasil), e pela paralisia do “elevador” da mobilidade social, ou seja, menos pessoas na base aumentando suas rendas, enquanto as mais ricas mantêm suas fortunas.
“A falta de mobilidade ascendente implica que muitos talentos são perdidos, o que prejudica o crescimento econômico social. Também reduz a satisfação com a vida, o bem-estar e a coesão social. (...) Além disso, existe um risco substancial para os lares de renda média deslizarem para rendas baixas e para a pobreza ao longo do seu ciclo de vida”, diz a OCDE.
A organização internacional também afirma que existem “pisos pegajosos” que impedem que a ascensão social e “tetos pegajosos” que impedem quem está no topo da pirâmide de descer.
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As causas da falta de mobilidade no Brasil
Ao analisar especificamente o Brasil, a OCDE ressaltou que, mesmo após as últimas duas décadas de crescimento econômico que permitiram que milhões de brasileiros mudassem para empregos melhores e alcançassem padrões de vida mais dignos, a desigualdade social continua sendo alta e a baixa mobilidade de renda entre as gerações ainda é um problema persistente.
A principal causa para isso, afirma a OCDE, é a qualidade da educação, que permanece baixa na comparação internacional. “O acesso a creches é difícil, especialmente para as famílias pobres”, diz o relatório. Os outros motivos seriam a baixa qualidade da saúde e os poucos programas de qualificação profissional para camadas baixas da população.
Essas causas também são o que a OCDE chama de “pisos pegajosos”. Ou seja, pessoas que nascem em famílias de baixa renda no Brasil, em geral, têm acesso à educação e à saúde de baixa qualidade. Isso impacta no desenvolvimento dessas pessoas, o que faz com que elas consigam apenas empregos de baixa renda. E a falta de amplos programas de qualificação profissional contribui para a não ascensão social.
Como resolver?
Para diminuir a desigualdade e promover a mobilidade social no Brasil, a OCDE sugere três frentes de ações. A primeira seria melhorar a eficácia do gasto público, transferindo parte dos recursos do ensino superior para os níveis primário e secundário e concentrando os recursos existentes nos tratamentos mais importantes para os necessitados.
A segunda frente de ação seria melhorar o acesso e a qualidade do ensino profissionalizante. A OCDE cita como bom exemplo o Pronatec. O terceiro ponto seria melhorar a distribuição dos recursos resultantes de possíveis reformas tributárias para aumentar os gastos em programas direcionados aos grupos mais vulneráveis, como, por exemplo, o Bolsa Família.