Michel Temer subiu a rampa do Planalto na caçamba de um projeto de poder que apodreceu tudo o que se conhecia como política no Brasil. Não nos enganemos, o PT de Lula e Dilma Rousseff só fez o que fez porque teve a cobertura de muita gente interessada em se dar bem. E quem por mais de uma década sustentou esse modelo foi o PMDB.
Temer era para ser uma lufada de esperança pós-traumática do impeachment. Afinal, queira ou não, tratava-se de um sujeito com habilidade para dialogar com o Legislativo e um constitucionalista respeitado pelo Judiciário. Montou um time forte na economia, sugeriu reformas necessárias, mas nunca conseguiu se desvencilhar do que realmente é: uma engrenagem central do sistema que afundou o país.
Após a delação da JBS, Temer não deixará de ser um subproduto dos escândalos revelados pela Lava Jato. Alguém que aceitou se tornar refém de um presidiário mantido em Curitiba dificilmente vai conseguir governar um país até o final de 2018. É terrível ver que Eduardo Cunha manda no Brasil, mas há um lado bom: se Temer cair, não é o fim do mundo.
Sobrevivemos à morte de Tancredo Neves e às quedas de Fernando Collor e Dilma porque as instituições foram respeitadas. Só há a saída de respeitar a Constituição. E, com a queda iminente, eleger indiretamente um sucessor até as eleições do ano que vem.
Instituições democráticas são pensadas exatamente para servir como amortecedores em casos extremos. Caiam presidente e vice, é preciso ter sangue-frio para evitar populismos. Temer está com os dois pés fora do Planalto, seja pelo julgamento da chapa com Dilma no TSE, seja por renúncia ou impeachment, mas isso não coloca o restante do país no cadafalso.
O Brasil respira quando respeita as próprias regras. Sufoca quando cai no jogo de quem não se dá o respeito.
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