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Renata Abreu, José Medeiros, Romário, Sérgio Zveiter e Alvaro Dias, parlamentares do Podemos:  crescimento no Congresso. | Divulgação/ Flickr Podemos
Renata Abreu, José Medeiros, Romário, Sérgio Zveiter e Alvaro Dias, parlamentares do Podemos: crescimento no Congresso.| Foto: Divulgação/ Flickr Podemos

A janela partidária – que levou mais de 15 parlamentares a trocarem de legenda neste início de ano – teve o Podemos como um de seus principais beneficiários. Embora a bancada do partido na Câmara tenha se mantido com 11 deputados, no Senado o Podemos passou de cinco a oito cadeiras. É hoje o terceiro maior partido da Casa, com o mesmo número de senadores do PSDB, atrás apenas de MDB e PSD. À frente, portanto, de gigantes da política nacional como o PT, o PSL de Jair Bolsonaro e o DEM, dos presidentes de Câmara e Senado.

O crescimento do Podemos indica que o partido pode ter superado o fracasso eleitoral do senador Alvaro Dias na corrida pela Presidência da República, no ano passado. Embalado pela boa votação que Dias costuma obter nas disputas locais, a sigla acreditou que o senador poderia se destacar em uma eleição que nasceu com elevado grau de imprevisibilidade, por conta de episódios como a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o atentado contra Bolsonaro.

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Mas a campanha de Dias não chegou a emplacar em nenhum momento e ele teve apenas 0,8% dos votos válidos. Ficou atrás até mesmo do folclórico Cabo Daciolo (Patriota) e, com cerca de 860 mil votos, teve desempenho quase quatro vezes inferior ao de 2014, quando se reelegeu senador pelo Paraná.

“Apesar de o Alvaro Dias não ter ido para o segundo turno, ele conseguiu apresentar propostas positivas para o país, que estão influenciando neste bom momento de agora. Nós defendemos a nova política, somos contra o ‘balcão de negócios’ e temos um compromisso de transparência total”, afirmou o líder do partido na Câmara, José Nelto (GO).

Formação de bancada

Os propósitos, porém, não são os únicos fatores que motivaram a entrada dos senadores no Podemos. Dois dos novos integrantes chegaram à sigla porque identificaram no partido um modo de ter uma atuação mais efetiva no Congresso.

Styvenson Valentim (RN) e Eduardo Girão (CE) se elegeram em 2018, respectivamente, por Rede e PROS. O partido da presidenciável Marina Silva não superou a cláusula de barreira, o que indica que a legenda terá restrições no acesso ao fundo partidário e ao tempo de televisão. Além de Styvenson, a Rede perdeu Alessandro Vieira (SE), que migrou para o PPS.

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Já o PROS conseguiu votação suficiente para não ser penalizado pela cláusula de desempenho. Mas Girão viu no Podemos a possibilidade de estar em um partido mais estruturado e também de liderar a legenda no Ceará – no PROS cearense, ele teria a concorrência de Capitão Wagner, que em outubro foi eleito deputado federal com a maior votação do estado. O senador é integrante do Movimento Brasil Livre (MBL).

O outro senador que optou pelo Podemos foi Lasier Martins (RS). O parlamentar, que está na metade de seu mandato, tem no Podemos o terceiro partido em sua carreira política: ele fora eleito em 2014 pelo PDT e, entre 2017 e 2019, esteve no PSD.

Os demais senadores do Podemos são Elmano Ferrer (PI), Oriovisto Guimarães (PR), Romário (RJ) e Rose de Freitas (ES), além do presidenciável Alvaro Dias.

Diversidade ou confusão?

A presença de parlamentares com histórias de vida e visões políticas distintas é uma das principais características do Podemos. À época da refundação do partido, em 2016, a presidente da legenda, deputada federal Renata Abreu (SP), adotou um discurso presente também em outros grupos políticos, o de “não somos nem de direita e nem de esquerda, somos para a frente”.

O quadro faz com que o Podemos tenha entre seus deputados federais João Carlos Bacelar (BA), que votou contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016 e costuma compartilhar críticas a Jair Bolsonaro em suas redes sociais, e o pastor Marco Feliciano (SP), um dos principais expoentes do núcleo evangélico e conservador da Câmara. Outro foco de divergências está no fato de que o Podemos tem um núcleo para a população LGBT, o Podemos Diversidade, e parlamentares defensores do Estatuto da Família, que é considerado homofóbico por militantes.

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No ano passado, o Podemos ingressou como “amicus curiae” em uma ação contra o aborto que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). O “amicus curiae” indica que o partido pediu para ser considerado parte interessada no caso. Apesar da manifestação formal, a presidente da sigla, Renata Abreu, defendeu à época que a requisição não indicava que aquela era a postura definitiva da legenda sobre o assunto.

“O Podemos tem uma lógica de causas. O movimento de causas pode utilizar do Podemos para levar suas bandeiras, quaisquer que sejam elas, desde que não estejam em conflito com os nossos princípios partidários”, disse ela.

Não é base

O deputado Feliciano foi indicado nesta semana como um dos vice-líderes do governo Bolsonaro no Congresso. A líder, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), disse que o pastor será um dos responsáveis por defender a “pauta conservadora” no Congresso.

Segundo José Nelto, a nomeação de Feliciano para o cargo não representa uma adesão do partido. “Não vamos participar do governo e não somos base do governo. Nossa postura será a de reunir a bancada a cada matéria e deliberar caso a caso”, destacou.

O partido deverá comandar duas comissões permanentes no Congresso: a de Desenvolvimento Urbano da Câmara, ainda sem um nome indicado, e a de Assuntos Sociais do Senado, que já tem Romário como presidente.

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Uma adesão formal ao Planalto, no passado, rendeu um dos episódios mais controversos da história do partido: a expulsão do então deputado federal Alexandre Baldy (GO) em 2017. O à época parlamentar decidiu ingressar no governo de Michel Temer, como ministro das Cidades. A gestão do emedebista ainda vivia os efeitos da delação premiada dos empresários da JBS que quase levou à queda do então presidente. O Podemos, então, se apressou em dizer que Baldy não representava os interesses da sigla e que sua presença no governo motivaria um desligamento, o que acabou ocorrendo.

Para o alto

O Podemos pode crescer ainda mais em 2019. O partido está promovendo uma fusão com o PHS, sigla nanica que não conseguiu superar a cláusula de barreira. A tramitação do processo de incorporação já está em curso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Se o processo for confirmado, o Podemos ganhará três deputados federais, o governo de Tocantins, com Mauro Carlesse, e a prefeitura de Belo Horizonte, com Alexandre Kalil. Hoje, o Podemos não detém nenhum governo de estado e nem prefeitura de capital.

Histórico

A refundação do Podemos, empreendida entre 2016 e 2017, foi sintetizada na mudança de nome da legenda, antes chamada de PTN, sigla para Partido Trabalhista Nacional.

À época da alteração, a deputada Renata Abreu definiu o partido como um “movimento”. “O Movimento Podemos vem para atualizar a democracia e resgatar a esperança dos brasileiros. Vamos impulsionar esse jeito diferente e amplo de fazer política, empoderando e protagonizando a vontade da população”, disse.

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O PTN que originou o Podemos foi fundado em 1995 e sempre figurou entre os menores partidos nacionais. Não contava com políticos de expressão e em sua única candidatura presidencial, em 1998, viu a paulista Thereza Ruiz conseguir apenas 0,25% dos votos.

O nome PTN pertenceu antes ao partido pelo qual o ex-presidente Jânio Quadros foi eleito em 1960. A sigla foi, como as demais da época, extinta durante o regime militar.

Quem são as principais lideranças do Podemos?

Renata Abreu

A presidente do partido tem 36 anos e é deputada federal por São Paulo em segundo mandato. Foi eleita com 86.647 votos e reeleita com 161.239 em 2018. É filha de José de Abreu e sobrinha de Dorival de Abreu, que também presidiram o partido. É uma das únicas quatro mulheres a comandar um partido político no Brasil – as outras são Gleisi Hoffmann (PT), Luciana Santos (PCdoB) e Suêd Haidar Nogueira (PMB).

Alvaro Dias

O candidato a presidente pelo partido em 2018 está em seu quarto mandato como senador. Foi também governador do Paraná, deputado federal, deputado estadual e vereador em Londrina (PR). Passou antes por PMDB, PSDB, PDT e pelo extinto PST. Destacou-se como uma das principais lideranças da oposição aos governos Lula e Dilma. Em 2014, foi o candidato ao Senado que teve a maior votação proporcional em todo o Brasil.

Romário

O senador e ex-jogador é o presidente do Podemos do Rio de Janeiro. Pelo partido foi candidato ao governo do estado em 2018. Após passar grande parte da disputa em segundo lugar, caiu na reta final e acabou o pleito na quarta colocação. Seu colega em campo na conquista da Copa do Mundo pela seleção brasileira em 1994, Bebeto, é também integrante do Podemos, e deputado estadual no Rio.

Mário Covas Neto

Filho do ex-governador paulista Mário Covas, chegou ao Podemos após romper com o PSDB no início de 2018. Entre os motivos que levaram à desfiliação da legenda fundada pelo seu pai está a decisão de não expulsar o deputado federal Aécio Neves (MG), acusado de corrupção. Covas é o presidente do Podemos em São Paulo e vereador na capital paulista. Em 2018, candidatou-se ao Senado. Assim como Romário, foi bem no início da corrida eleitoral mas falhou no fim, sendo apenas o sexto colocado.

Marco Feliciano

Liderança da bancada evangélica e conservadora, o pastor está em seu terceiro mandato. Ganhou notoriedade nacional em 2013, quando foi escolhido o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, até então historicamente comandada pela esquerda. Ele ingressou no Podemos no início de 2018 – à época, almejava a candidatura ao Senado.

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