Trafegar pela Rodovia PR-473 exige atenção redobrada. A pista simples ladeada em sua maior parte por mato alto e árvores está por vezes ocupada por indígenas da Aldeia Rio das Cobras. Muitos são os jovens da etnia Guarani e Kaingang que usam as margens e o asfalto para brincadeiras e como ponto de encontro para bate-papos; alguns pedem esmola, outros vendem artesanato. Na terça-feira (27), no entanto, a chuva, que desde o fim de semana era ininterrupta, fizera a maioria deles se abrigar na aldeia. Ninguém viu, no fim da tarde, a longa caravana passar por ali em uma velocidade maior do que a costumeira. Estava atrasada.
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Cerca de 70 quilômetros, com duas cidades no meio, separam Quedas do Iguaçu de Laranjeiras do Sul. E foi nesse trajeto – mesmo que a polícia nem ninguém saiba exatamente em que altura –, que teriam sido disparados ao menos três tiros contra dois dos três ônibus da caravana de Lula que levavam jornalistas que cobrem a viagem pelo Sul do país e convidados.
É também a ausência da informação sobre o ponto específico em que os disparos teriam acontecido, além da falta de testemunhas, que dificultam a investigação policial. O trecho do Paraná foi o único em que a caravana não foi escoltada por policiais militares. No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, os ônibus foram acompanhados pela polícia militar estadual e pela Polícia Rodoviária Federal. Até agora, ninguém foi preso.
Na quinta-feira, dia 29, equipes da Delegacia de Laranjeiras, onde foi instaurado o inquérito para apurar o caso, estiveram na PR-473. Na altura da ponte sobre o Rio Despedida, tentaram encontrar algum rastro do crime, mas saíram de mãos vazias. As buscas se concentraram onde os passageiros de um dos ônibus estimaram que o ataque teria acontecido: cerca de dez minutos depois que o comboio deixou Quedas do Iguaçu. O estampido baixo se assemelharia ao choque de uma pedra contra a lataria, coisa que a caravana já havia enfrentado pelo trajeto. A polícia pediu ainda as imagens do pedágio situado na BR-277, onde também trafegou a caravana. E ainda espera o resultado da perícia, prevista para sair nesta semana.
Cidade pacífica
Tanto moradores de Quedas como de Laranjeiras definem as cidades em que vivem como pacíficas. A polícia confirma: os chamados para a 2.ª Companhia, do 16.º Batalhão da PM, em Laranjeiras são mais comuns para briga entre vizinhos por causa de som alto e para casos da Lei Maria da Penha. No ano, aconteceu um homicídio, que os investigadores suspeitam ter sido um latrocínio. Os flagrantes de tráfico de drogas são feitos mais frequentemente pela Polícia Rodoviária Federal, que prende na estrada e encaminha para as celas da delegacia, que tem uma centena de detentos, a maioria por tráfico.
“Ataque não representa sentimento predominante da população local”
Na sexta-feira (30), Pedro Campos, de 61 anos, passeava com um amigo na praça da cidade. Para ele, o ataque que teria ocorrido à caravana não representa o sentimento predominante na população local. “Lamento o que aconteceu porque aqui há muita gente que gosta dele”, disse, para ser complementado pelo amigo, o aposentado Jorge Freitas, de 75: “Foi o melhor presidente. Deus ajude para que eu possa votar nele de novo, e vou votar de consciência tranquila”.
A região abriga grandes assentamentos de sem-terra, como o Celso Furtado, onde 1.098 famílias ganharam o título de propriedade em 2004. Quem está à frente dele é o vereador pelo PT Claudelei Lima, de 39 anos. Mais do que ser o vereador mais votado da história de Quedas do Iguaçu, Lima se tornou conhecido ao ser empossado no interior da Penitenciária Industrial de Cascavel.
Ele é investigado pela Operação Castra, da Polícia Civil, sob acusação de furto, roubo, invasão de propriedade, cárcere privado e porte ilegal de arma na invasão de uma fazenda.
Lima foi solto em maio passado e responde agora ao processo em liberdade. Na varanda de sua casa, logo na entrada do assentamento, ele tem um panfleto de campanha onde se lê: “Tô com Lula”.
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