A Justiça do Rio de Janeiro aceitou a denúncia contra o policial reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz, acusados de matar a vereadora Marielle Franco em março do ano passado. Com isso, os dois se tornaram réus e responderão por duplo homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emboscada e recurso que dificultou a defesa da vítima).
Os suspeitos estão presos desde terça-feira (12) na Delegacia de Homicídios, com a deflagração da operação Lume. Na decisão, o juiz Gustavo Kalil, do 4° Tribunal do Júri do Rio, autorizou em caráter urgente e liminar a transferência dos acusados para estabelecimento penal federal de segurança máxima, a ser indicado pelo Depen (Departamento Penitenciário Nacional).
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O juiz entendeu que a transferência é necessária para a garantia da segurança pública do Estado do Rio, evitando o cometimento de novos crimes, já que, de acordo com o Ministério Público, os acusados teriam ligações com uma milícia composta por policiais militares da ativa.
Os dois também responderão por tentativa de homicídio contra a assessora de Marielle que sobreviveu e por crime de receptação.
A Justiça determinou, ainda, o bloqueio de todos os bens móveis e imóveis dos acusados, com o objetivo de ressarcir as vítimas. Segundo a denúncia, Lessa seria proprietário de diversas armas e dois automóveis, um deles no valor de R$ 150 mil. Seu local de residência, um condomínio na praia da Barra da Tijuca, zona oeste, seria incompatível com sua renda como policial militar reformado.
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Depósito suspeito
Um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) apontou um depósito em dinheiro na conta de Lessa, na boca do caixa, no valor de R$ 100 mil, em outubro do ano passado. Segundo a Polícia Civil, o depósito foi realizado por ele próprio.
Chamados a depor em janeiro deste ano, Lessa e Queiroz, de acordo com a denúncia, se encontraram pouco antes em um restaurante para combinar as versões e dificultar as investigações.
Denúncia anônima
A Polícia Civil começou a investigar Ronnie Lessa depois do recebimento de uma denúncia anônima em outubro de 2018. De acordo com esta denúncia, o assassinato de Marielle teria sido encomendado por R$ 200 mil.
Segundo a investigação, Lessa fazia, desde 2017, uma série de pesquisas direcionados a políticos e partidos da esquerda, como “morte ao PSOL”, “morte de Marcelo Freixo”, “Marcelo Freixo enforcado”, “Lula enforcado” e “Dilma Rousseff morta”.
A partir de fevereiro de 2018, o policial reformado iniciou buscas para identificar parlamentares que votaram contra a intervenção federal no Rio. Marielle era relatora de comissão instalada na Câmara para acompanhar a intervenção, a qual criticava publicamente em seus discursos.
A próxima fase da investigação terá como objetivo apontar possíveis mandantes e motivações para o crime, que completou um ano nesta quinta-feira (14).