O juiz federal Sergio Moro e o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, voltaram a discutir nos dois depoimentos realizados nesta quarta-feira (24), em Curitiba. O ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e o ex-gerente executivo da estatal, Pedro Barusco, foram ouvidos pelo magistrado.
Martins voltou a perguntar aos dois delatores sobre um possível acordo feito com autoridades dos Estados Unidos. A pedido dos advogados das testemunhas, Moro indeferiu as questões e pediu ao advogado que pulasse as questões sobre o tema para ganhar tempo. A discussão iniciou na primeira audiência da tarde, com Pedro Barusco.
“Doutor, todas essas perguntas relativas a essa questão do acordo, pelas questões que foram colocadas, elas estão indeferidas, então, se nós pudermos ganhar tempo e ir para outras, o Juízo agradeceria”, disse Moro.
“Para a defesa, esse ganhar tempo implica em prejuízo. Então, sem prejuízo dessa posição de Vossa Excelência, como a prova não é apenas para Vossa Excelência, mas é para os autos, eu gostaria de registrar as questões que eu gostaria que fossem respondidas pela testemunha”, respondeu Martins.
Moro, então, perguntou se o advogado tinha alguma outra pergunta e Martins iniciou outra questão sobre as tratativas. “Essas tratativas, ou essas negociações...”, iniciou Zanin. “Está indeferida também essa questão”, interrompeu Moro. “Qual questão, Excelência?”, respondeu o advogado. “Se é sobre acordo lá de fora, está indeferida, doutor”, disse Moro. “Vossa Excelência está indeferindo essa questão antes de ouvir?”, perguntou Martins. “Ah, doutor, é uma brincadeira”, disse Moro
Os dois, então, iniciaram uma discussão. Segundo Moro, as perguntas feitas sobre o tema seriam uma perda de tempo para o processo por serem irrelevantes para o processo. Zanin acusou o juiz de desrespeitar a defesa de Lula.
“O advogado desrespeita a todos nessa audiência, doutor, insistindo nessas questões. Todos estamos aqui perdendo tempo por conta de um capricho da defesa. Não tem graça isso, doutor”, disse Moro. “Vossa excelência é sempre muito gentil com a defesa do ex-presidente Lula”, disse Zanin. “Não tem graça”, continuou Moro. “Eu não estou aqui querendo fazer graça. Eu encaro o trabalho com a maior seriedade”, afirmou o advogado de Lula.
Na segunda audiência, Moro e Zanin voltaram a discutir sobre a questão e o juiz afirmou que, caso o advogado quisesse deixar registrada as questões, protocolasse um documento por escrito no processo.
Nos depoimentos, Barusco e Paulo Roberto Costa ratificaram os depoimentos que prestaram no processo em que o ex-presidente é investigado pela propriedade e melhorias de um tríplex no Guarujá (SP). Ao invés de repetir as perguntas, Moro vem adotando a prática de apenas perguntar se as testemunhas gostariam de retificar algum dos depoimentos já prestados.
No processo, Lula convocou 87 testemunhas. Moro, então, decidiu que, como a defesa gostaria de ouvir tantas testemunhas, o ex-presidente Lula deveria estar presente em todas as audiências. A decisão de Moro foi derrubada no Tribunal Regional Federal.
Outro lado
Em nota, os advogados de Lula lamentaram as interrupções feita pelo juiz.
“Lamenta-se que o Juízo da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba mais uma vez tenha impedido, de forma autoritária, até mesmo a formulação e o registro de perguntas sobre as negociações e colaborações que estão ocorrendo no exterior com a participação da Petrobras e do Ministério Público”, afirmaram os advogados.
Ouça a primeira discussão entre o juiz a defesa no depoimento de Pedro Barusco:
Seu browser não suporte este formato de áudio.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”