O ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT) falou, ao longo da campanha eleitoral, em se aposentar caso Jair Bolsonaro (PSL) vencesse o pleito. Mas, ao que parece, seus planos envolvem não apenas liderar a oposição ao novo governo como também se opor ao PT nesse jogo de forças. O PDT tenta se unir ao PSB e PCdoB em um bloco de oposição a Bolsonaro. Os três partidos, juntos, têm 69 deputados. O PT, que ambiciona liderar a oposição, tem 56.
No domingo (28), Ciro disse que "nunca mais fará campanha para o PT". Em entrevista à “Folha de S.Paulo” na quarta (31), completou: "Quero fundar um novo campo, onde para ser de esquerda não tem de tapar o nariz com ladroeira, corrupção, falta de escrúpulo, oportunismo. Isso não é esquerda. É o velho caudilhismo populista sul-americano".
O PT esperava um gesto de Ciro em favor de Fernando Haddad (PT), mesmo que nos últimos minutos do segundo turno. Contava que, com isso, o petista conseguiria capitalizar em torno de 3% a 5% dos votos válidos no placar de domingo – Jair Bolsonaro (PSL) venceu Haddad por 10 pontos porcentuais de diferença.
A recusa de Ciro de fazer um gesto direto de apoio irritou o ex-presidente Lula, segundo contam petistas. "Ele já está pensando na eleição de 2022. Mas está comentendo um erro por puro orgulho", teria afirmado no fim de semana o ex-presidente ao comentar o assunto.
Ciro diz que foi traído por Lula quando este articulou para impedir o PSB de apoiar o pedetista. Os petistas, enquanto isso, seguem com a avaliação de que um gesto do ex-governador do Ceará seria "um bem maior pelo país".
PCdoB reclama de “falta de respeito” do PT
Os ressentimentos não param por aí. Um outro antigo aliado petista, o PCdoB de Manuela D'Ávila, a vice da chapa petista, também tem reclamações. O sentimento, dessa vez entre os comunistas, é que a deputada foi "abandonada, escanteada, jogada para segundo plano, sub-aproveitada". "Fomos tratados com falta de respeito do início ao fim, embora tenhamos aberto mão do nosso projeto para apoiar o PT", afirmou a presidente da legenda, Luciana Santos.
Nos bastidores da campanha presidencial do PT, o que se conta é que Haddad fazia sempre questão de ter Manuela por perto. Mesma tentativa fazia Ana Estela, a primeira-dama. Mas não o PT e os estrategistas, que preferiram exaltar o casal Fernando e Ana para tentar se contrapor às ideias de família que o adversário do PSL usava em sua campanha.
Apesar de ter eleito somente nove deputados, o PCdoB, aliado histórico do PT, tem planos de caminhar longe do partido no início do governo Bolsonaro e se abrigar sob o guarda-chuva do PDT de Ciro e essa nova frente de oposição.
Do lado do Senado, esse mesmo movimento de oposição do PT também se repete. E por lá, com uma bancada que definhou de 13 para seis senadores, os petistas podem ter mais dificuldade. Mas prometem se fazer ouvir com as vozes de nomes experientes na legenda como Jaques Wagner (BA) e Humberto Costa (PE).
PT quer liderar oposição, mas têm problemas internos a resolver
Liderar a oposição é, nesse momento, um papel-chave para o PT. É a ordem do ex-presidente Lula, que assiste a toda essa movimentação da sala em que está preso desde abril na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Derrotado nas urnas, o partido precisa mostrar que está de pé e unido em torno de um único discurso. Lula quer que, no Congresso, Jaques Wagner lidere esse movimento. Mas admite a importância de ter, por fora, Fernando Haddad falando pelo partido também, após o surpreendente desempenho na campanha.
Acontece que, aí já começam as disparidades internas. A atual senadora Gleisi Hoffmann (PR), que preside a legenda, elegeu-se deputada federal, e já deu início a um movimento para presidir a Câmara no ano que vem. Ela quer ter uma voz de comando e de protagonismo, mesmo contra as ordens e desejos de Lula, e não só dele.
Gleisi vem perdendo espaço no partido ao longo deste ano. Em embates constantes com correligionários, tentando impor ideias radicais, há quem fale que a senadora não deve seguir na presidência do PT no ano que vem, quando ocorre mais uma eleição interna.
Há ainda outros nomes para acomodar e acalmar, como José Dirceu, que, na avaliação de Lula, prejudicou muito a campanha petista em um momento crucial. Cerca de dez dias antes do primeiro turno, disse que o PT retomaria o poder mesmo que não vencesse a eleição. Fez ainda críticas ao Ministério Público e à Lava Jato. Para o ex-presidente, conforme interlocutores, essa afirmação intensificou o antipetismo às vésperas da votação.
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