Reajuste no preço dos combustíveis é algo que mexe com o consumidor: basta um anúncio de aumento, ainda que nas refinarias, para os motoristas correrem para o posto mais próximo encher o tanque do carro. Desde o início de julho deste ano, alterações nos preços do diesel e da gasolina estão mais frequentes, reflexo da nova política de preços da Petrobras. No período entre 4 de julho e esta segunda-feira (11), os ajustes nos preços dos dois combustíveis já acumulam quase 20% de variação.
O novo modelo de ajuste de preço pode fazer alterações diárias e busca manter a competitividade frente às variações no mercado internacional. Desde que a medida passou a vigorar, em 3 de julho, a Petrobras já anunciou ao menos 44 alterações nos preços da gasolina e do diesel, tanto para mais quanto para menos. No caso da gasolina, a variação acumulada entre 4 de julho e esta segunda-feira é de 16,3% – foram 23 reajustes para mais, dois dias sem alteração e outros 19 ajustes para menos. Já para o diesel, o acumulado nesse período é de 21%, com 27 aumentos e 17 quedas.
E os ajustes não param por aqui. Na terça-feira (12), os combustíveis vão sofrer novo ajuste no preço. Dessa vez, a gasolina será reduzida em 2,5% e o diesel em 2,4%. No acumulado do período, a variação do preço do diesel é de 18,1% e a gasolina, 13,4%.
INFOGRÁFICO: Veja a variação do preço dos combustíveis desde o início de julho
Nesse mesmo período, entre início de julho e setembro, o valor desses combustíveis na bomba também acompanhou o viés de alta, embora não tenham subido tanto. De acordo com dados da Associação Nacional do Petróleo (ANP), na semana de 2 de julho, o preço médio da gasolina para o consumidor no Brasil era de R$ 3,489. Dois meses depois, o custo da gasolina subiu para R$ 3,778, uma alta de 8,3%. No caso do diesel S10, a variação no período foi de R$ 3,080 para R$ 3,233 – aumento de 5% – e o diesel comum foi de R$ 2,948 para R$ 3,101 – um reajuste de 5,2%.
Para que tanto aumento?
A partir desta terça (11), diesel e gasolina terão reajustes de 0,1% e 3,3%, respectivamente. Dessa vez, o Grupo Executivo de Mercado e Preços (GEMP) da Petrobras autorizou o aumento para adequar um limite estabelecido pela área técnica, de variação de -7% até +7%. Na última semana, os impactos do furacão Harvey na região do Golfo do México causaram variações intensas no preço do petróleo no mercado internacional. Por isso, houve alterações mais pesadas nos preços. A frequência desde agosto tem se mantido a mesma: há reajuste de terça-feira a sábado, praticamente todas as semanas.
“A avaliação dos representantes do GEMP é que a política de preços definida pela Petrobras tem sido capaz de garantir a aderência dos preços praticados pela companhia às volatilidades dos mercados de derivados e ao câmbio”, diz nota da empresa divulgada na segunda-feira (4).
E vale a pena?
Na opinião do professor de finanças da FGV/EASESP Rafael Schiozer, que já atuou no Centro de Estudos do Petróleo, a nova política da Petrobras é acertada, no sentido de que o preço é uma variável que precisa responder a oferta e demanda. “A lógica de seguir os preços do mercado internacional faz sentido. Isso de ser diário, semanal ou quinzenal faz pouca diferença para a Petrobras, mas pode impactar mais o consumidor final”, avalia.
A questão é que tanto sobe e desce com ajustes diários, que em algumas vezes chegam a se anular, pode dar origem a um pouco de ‘esperteza’ de quem está no meio do caminho: distribuidoras e postos de combustíveis podem repassar os aumentos, mas não as quedas. “Com o tempo, os postos vão entender que essa situação será comum e não vão repassar os ajustes muito pequenos”, pondera.
E se você lembrar da época do governo PT, principalmente o de Dilma Rousseff, em que os aumentos eram mais impactantes, é válido lembrar que o reajuste do combustível era ferramenta de controle da inflação. “O governo Dilma tinha uma política bem estranha de repasse de preço, ajuste e reajuste, e isso foi uma das coisas que levou a Petrobras para uma situação financeira bem difícil. Ela tinha custos que se elevavam e não tinha para quem repassar”, avalia.
Outro lado
O Sindicombustíveis-PR se posiciona contra a nova política de preços da Petrobras. Veja a nota da entidade.
“Sobre os aumentos promovidos pela Petrobras:
O Sindicombustíveis-PR não concorda com a nova política de preços da Petrobras.
Entendemos que seria mais apropriado que a Petrobras realizasse alterações de preço com frequência menor, o que traria mais estabilidade ao mercado e melhores condições para o país sair da estagnação. As alterações até diárias, como estão ocorrendo, prejudicam o planejamento e confundem a todos, empresários e consumidores.
Salientamos ainda que, como a materia mostrou, a tendência foi de uma expressiva alta nos últimos meses. Isto veio se somar ao recente aumento da carga dos impostos PIS e Cofins. O resultado é uma elevação muito grande nos combustíveis, o que prejudica a economia como um todo.
Sobre a cadeia de combustíveis – chegada de novos preços às bombas:
Os postos compram os combustíveis das empresas distribuidoras, e não diretamente das refinarias. Deste modo, é importante reforçar que altas e baixas dependem do repasse das companhias de distribuição.
Com a variação mais frequente de preços, tem se agravado uma situação sobre a qual o Sindicombustíveis-PR já fez alerta: em geral as tendências de baixa são repassadas pelas distribuidoras ao postos de forma lenta, em menor escala ou simplesmente não são repassadas.
Por outro lado, quando o viés é de alta, os acréscimos são rapidamente aplicados pelas empresas de distribuição e repassados aos postos. Vale salientar ainda que, diante do cenário recessivo, a maioria dos postos tem trabalhado com estoques baixos e abastecimento diário.”
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