As famílias pobres são mais impactadas pela inflação que as ricas. E isso está diretamente relacionado a proporção dos gastos dessas famílias com a diversos itens de consumo, principalmente a comida. Essa é a conclusão de um novo estudo do Ipea, que analisou o impacto da inflação por faixa de renda.Em um período de 11 anos – de julho de 2006 a outubro de 2017 –, a inflação dos mais pobres variou 102%. Ou seja: os preços mais que dobraram. Esse indicador é bastante superior a inflação acumulada para as famílias mais ricas, que ficou em 86%.
Para este novo indicador, os pesquisadores dividiram as famílias de acordo com seis faixas de renda distintas: muita baixa (menos de R$ 900), baixa (entre R$ 950 e R$ 1.350), média-baixa (entre R$ 1.350 e R$ 2.250), média (entre R$ 2.250 e R$ 4.500), média-alta (entre R$ 4.500 e R$ 9.000) e alta (R$ 9.000). Depois, eles fizeram um cruzamento de dados para entender a proporção de gastos com diversos itens cujos preços são pesquisados frequentemente – aí entraram pesquisas que mostram o consumo das famílias e séries históricas que verificam a inflação.
Com isso, foi possível mostrar como a variação do preço dos alimentos é mais dura com as famílias de baixa renda do que com as de altos rendimentos, que ficam mais vulneráveis com as alterações de preço de planos de saúde e educação, por exemplo. “Nos últimos 11 anos, as maiores taxas de crescimento de preços foram observadas nos grupos relacionados à alimentação, com grande peso na cesta de consumo das famílias de menor renda”, explica a nota técnica Inflação por Faixa de Renda, de Maria Andréia Parente Lameiras, Sandro Sacchet de Carvalho e José Ronaldo de Castro Souza Júnior. Ou seja: as altas no preço do tomate impactam muito mais as famílias de renda muito baixa do que as famílias de renda alta.
O que mais pesou
Para se ter ideia, nesse período de 11 anos, a maior inflação acumulada foi no preço das carnes, que chegou a 199%. Mas aves e ovos (156%), cereais, leguminosas e oleaginosas (109%) e leites e derivados (107%) também puxaram a inflação para cima. Entre os maiores índices ainda estão frutas, legumes e farinhas, que compõem um kit básico de alimentação do brasileiro. Já para as famílias mais ricas, foi o custo do plano de saúde que mais variou.
Na outra ponta, os segmentos que tiveram as menores taxas de inflação no período são justamente os que representam uma parcela baixa no consumo das famílias mais pobres: na maioria, são bens que não são de primeira necessidade. Nesses segmentos, aparelhos de TV, som e informática, por exemplo, tiveram deflação de 40% no período. Outros itens foram menos sensíveis à variação da inflação, como os eletrodomésticos e equipamentos (18,5%) e veículo próprio (17%).
Diferenças no consumo
Se no longo prazo, a alta do preço dos alimentos pressionou a inflação das famílias mais pobres, no último ano a situação foi oposta. O indicador do Ipea mostra que nos últimos 12 meses, encerrados em outubro, a inflação acumulada das famílias com renda até R$ 900 foi de 2%, bem abaixo da registrada pelo segmento mais rico, que atingiu 3,5%. “Com a forte desaceleração dos preços dos alimentos, a inflação das famílias de renda mais baixa vem apresentando recuos mais expressivos, tendo em vista que este conjunto de bens constitui o grupo de maior peso no orçamento desta parcela da população”, diz a nota técnica.
Já para as famílias mais ricas, essa deflação no preço de alimentos impacta menos, pois esses itens representam uma parcela menor nos gastos mensais. Por outro lado, elas são mais afetadas pela variação dos preços de serviços. “(...) levando-se em consideração que este segmento de preços aponta desaceleração mais moderada nos últimos meses, o comportamento da inflação das famílias de maior poder aquisitivo tem recuado menos intensamente”.
Além das modificações de gastos entre as faixas de renda, ao longo do tempo os pesquisadores notaram que dentro de uma mesma faixa de renda os hábitos de consumo também mudaram. As famílias mais pobres reduziram um pouco seus gastos com alimentação em domicílio e aluguel e taxas, mas passaram a gastar mais com transporte, medicamentos, recreação e educação. Já entre os mais ricos, houve redução nos gastos com alimentos e bebidas e crescimento da proporção de gastos com alimentação fora do domicílio, plano de saúde, educação e vestuário.
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