As horas de reunião para solucionar a greve quase se igualaram ao tempo que os caminhoneiros permanecem parados. Prestes a se encaminhar para o oitavo dia, a paralisação já é considerada a maior e com as mais graves consequências da história.
Publicamente, o governo joga a responsabilidade pela extensão que o movimento ganhou para as empresas, acusadas de locaute -- ou seja, de sustentar o movimento, o que é considerado crime. A Polícia Federal investiga quase 40 empresários.
Longe dos microfones, contudo, ministros que participaram desde a semana passada do gabinete de crise montado no Palácio do Planalto para resolver a questão admitem: “erramos e não foi só uma vez”.
Várias medidas para desobstruir estradas e garantir a entrega de produtos essenciais que começaram a faltar em todo o país foram adotadas. Um acordo, firmado e anunciado como a solução e o ponta pé para o fim da greve na quinta-feira (24), não prosperou.
FIM DA GREVE?: Veja as medidas anunciadas por Temer em favor dos caminhoneiros
E as paralisações persistiram. Depois da autorização de uso das forças federais e do decreto, assinado no sábado (26), possibilitando a requisição de bens - permite, por exemplo, o emprego de caminhões particulares para levar os suprimentos -, muitos pontos de bloqueios nas estradas foram liberados.
O problema, no entanto, é que os profissionais seguem de braços cruzados. “Agora as vias até estão liberadas, mas eles seguem sem trabalhar. E as coisas não chegam onde deveriam”, explicou um ministro de Temer.
O presidente Michel Temer (MDB) passou boa parte do dia reunido com ministros neste domingo (27). E, já à noite, na tentativa de se corrigir, anunciou uma série de medidas reivindicadas pelos caminhoneiros.
O primeiro erro foi a falta de diálogo anterior com a categoria, que já vinha desde o ano passado demonstrando insatisfação com a política de preços adotada sobre os combustíveis. Por isso, no sábado, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, repetiu diversas vezes que o “canal de diálogo” segue aberto, “apesar de o acordo não ter sido cumprido”.
Mais que isso. Com as paralisações iniciadas, minimizou-se seus efeitos. “Ninguém acreditou, no início da semana, que as coisas poderiam chegar até aqui”, disse um interlocutor do Palácio do Planalto.
Por fim, e o que tem sido considerado mais grave: negociou-se com as pessoas erradas. Na quinta-feira, o governo anunciou um termo de acordo, também assinado por representantes de entidades dos caminhoneiros.
A classe, porém, é de maioria autônoma e diz não se sentir representada pelos termos propostos. O mesmo ocorreu com a Associação Brasileiras de Caminhoneiros (Abcam), que representa 700 mil profissionais, 600 sindicatos e sete federações. O presidente da entidade, José da Fonseca, considerado um dos líderes mais influentes do movimento, abandonou a mesa de negociações. E seguiu afirmando: “Só vamos desmobilizar quando houver o cumprimento preto no branco das propostas. Não dá pra acreditar nesse governo”.
Nesse cenário, o clima no Palácio do Planalto neste domingo foi de tensão e reclusão. A primeira reunião começou às 9h. Outra teve início às 11h e acabou quase 22h. A área econômica foi chamada. E também outros representantes da classe.
No fim das contas, o governo acabou cedendo. Em pronunciamento, Michel Temer anunciou a redução de R$ 0,46 no preço do litro do diesel por 60 dias.
Falou ainda da edição de três Medidas Provisórias -- tipo de decreto em que as propostas começam a valer de imediato e passam por análise do Congresso em seguida. Estabeleceu uma tabela mínima de frete, isentou caminhões com eixos suspensos de fretes em todas as estradas do país e, por fim, garante aos profissionais autônomos 30% dos fretes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
“Venho assim manifestar a confiança num espírito natural de responsabilidade, solidariedade e patriotismo desses caminhoneiros que servem ao nosso país”, afirmou Temer, referindo-se ao acordo de fim imediato da greve.
Ninguém fala a mesma língua
O governo assumiu, com as decisões tomadas na noite deste domingo, uma série de compromissos fiscais que vai precisar compensar com outras fontes. O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, afirmou que haverá um remanejamento de despesas. A princípio, sairão cerca de R$ 10 bilhões do Tesouro Nacional para isso. Mas há expectativa de conseguir outras fontes de receita.
No fim das contas, não vai bastar determinações numa única mão. O Planalto vai precisar do Congresso. Primeiro porque é de lá que vai sair a contrapartida para cobrir a perda de receita com as isenções desejadas pela classe.
O que se verá no Parlamento esta semana é uma tentativa de deputados e senadores de apresentar soluções -- recados ao Planalto, pela “ineficiência demonstrada” até aqui, mas também um aceno aos eleitores que vão às urnas em outubro.
A principal atenção estará na reoneração da folha de pagamento aprovada semana passada pela Câmara. É uma das medidas com as quais o governo conta para compensar as perdas de arrecadação que sofrerá com as concessões de domingo.
A tendência é que o projeto seja modificado no Senado, com a retirada de um trecho, acrescentado sob articulação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que isentou o diesel dos impostos PIS/Cofins. Há um embate com o Palácio do Planalto sobre esse trecho e o impacto fiscal recorrente, que vai de R$ 11 bilhões a R$ 16 bilhões.
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