Os chefes de Estado de algumas das nações mais importantes no cenário global, empresários de grande porte e até mesmo celebridades: esse é o tipo de mistura esperada todo mês de janeiro no Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, na Suíça. Embora por vezes o evento seja acusado de ser um grande clube de discussão para ricos e poderosos, o Fórum ainda é simbólico por reunir tantos líderes, promover debates e oferecer oportunidades para aproximações comerciais. Em 2019, com a ausência de líderes mundiais importantes, Jair Bolsonaro (PSL) terá a oportunidade de apresentar seu projeto de Brasil para o resto do mundo. E isso não é pouca coisa.
Bolsonaro será o primeiro presidente a falar na abertura do evento, nesta terça-feira (22). Ele terá 45 minutos para discursar e promete fazer uma fala breve e clara. Essa fala tem seu peso, mas o governo brasileiro está aproveitando para costurar encontros reservados com grandes líderes. Bolsonaro vai se reunir com o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte; com o presidente da Suíça, Ueli Maurer; e também com o primeiro-ministro do Japão, Shiunzu Abe.
A comitiva de ministros também terá agenda cheia. O chanceler Ernesto Araújo vai aproveitar a presença da Comissária de Comércio da União Europeia, Cecilia Malmström, para debater a agenda bilateral entre o Brasil e o bloco europeu. O ministro da economia, Paulo Guedes, vai concentrar as discussões sobre a agenda econômica, tratando inclusive do plano de privatização do governo e da reforma da Previdência. Sergio Moro, ministro da Justiça, participará de um debate sobre crime organizado e vai poder desfiar a experiência acumulada em quatro anos de operação Lava Jato e os planos anticorrupção que pretende levar adiante agora como ministro.
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O peso de Davos para o Brasil e para o mundo
A verdade é que há uma grande curiosidade no exterior sobre o novo governo brasileiro e Davos é a oportunidade de se apresentar para os principais atores econômicos, entre organizações internacionais, lideranças políticas e empresariais e agentes de fomento.
O professor de Direito Internacional da USP Wagner Menezes observa que, além da representatividade, o Fórum tem peso pela abertura de discussão dos caminhos que Estados e agentes privados devem tomar na condução da economia. “Especialmente para o Brasil – que tem economia baseada na atração de investimento externo e uma pauta exportadora principalmente agrícola de manutenção e abertura de novos mercados – estar lá, participar dos debates, interagir com outras lideranças é fundamental para defesa de seus interesses e fortalecimento de sua pauta econômica”, observa.
E a eleição de Bolsonaro traz uma grande ruptura da imagem do Brasil: agora o país vende uma agenda liberal e é isso que interessa aos investidores e líderes estrangeiros conhecer. Para Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, no caso de Bolsonaro, há uma expectativa muito grande em relação à agenda econômica que está sendo proposta. Para ele, o espaço que está sendo oferecido a Bolsonaro é comum a outros líderes que estão em começo de mandato. “É algo que o Brasil nunca teve e pode reconduzir o país ao cenário internacional”, diz.
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Mas a edição de 2019 do Fórum terá algumas baixas importantes. Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, já tinha avisado no início do mês que não iria a Davos por causa da paralisação da administração pública por lá. Emmanuel Macron, presidente da França, sofre com a série de protestos dos “coletes amarelos”. E Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido, está às voltas com o Brexit.
A ausência desses líderes, motivada por problemas internos em seus países, não enfraquece o Fórum. “Mesmo que nesse momento não estejam, o Fórum sempre tem boa representatividade, representantes dos governos e agentes privados que possuem tanta influência e poder decisório quanto tais líderes, daí a importância de o Brasil ocupar espaço nesse foro em um momento que o governo deve dar recado ao mundo sobre o equilíbrio e os rumos de sua economia”, observa Menezes.
Termômetro para a comitiva brasileira
Davos é a oportunidade de ouro para o novo governo apresentar a líderes variados as diretrizes de sua política econômica, da política econômica internacional e buscar parceiros para dinamizar a agenda diplomática econômica. Um exemplo são as declarações de Bolsonaro sobre as medidas que o governo está tomando para tornar o Brasil um país seguro para investimentos e “livre de amarras ideológicas”, em especial no agronegócio.
As declarações constantes de Bolsonaro – e também do chanceler Ernesto Araújo – sobre novas diretrizes diplomáticas livres de amarras ideológicas serão avaliadas pela comunidade internacional. Mas não é só isso: Davos é um termômetro para medir a receptividade a esse tipo de proposta, mas é a postura do governo e suas ações que vão determinar como parceiros internacionais tradicionais e novos parceiros potenciais vão receber essas ideias.
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“O que foi dito até aqui pelo novo governo em investir mais em relações bilaterais menos ideológicas se enquadra perfeitamente na agenda tradicional dos foros econômicos mundiais não tanto preocupado com ideologias, mas com resultados e ganhos. Cabe questionar o que o Brasil tem a oferecer e o que busca receber”, observa Menezes.
O economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, ressalta que o foco de Davos é a apresentação e demonstração de ideias. “Não é num evento dessa magnitude que você vai fazer acordos comerciais de muita relevância em alguns minutos sentado com os representantes de outros países. É o começo da conversa”, diz.
Apesar do protagonismo de Bolsonaro na abertura e do peso das questões econômicas, há uma expectativa grande pela fala de Sergio Moro, como observa Vieira. Na avaliação dele, o ex-juiz será a grande estrela porque há um caráter geopolítico forte em Davos – e o combate à corrupção é uma pauta relevante no Fórum, ainda mais com uma Suíça que há alguns anos está comprometida a combater a lavagem de dinheiro.