“Polícia Federal - A Lei é para Todos”: filme sobre a Lava Jato incomoda o PT| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

O filme “Polícia Federal – A Lei é para Todos”, que conta os bastidores da operação Lava Jato, tem incomodado integrantes do Partido dos Trabalhadores (PT). A legenda, uma das mais atingidas pelas investigações até o momento, vem demonstrando preocupação com o longa de Marcelo Antunez, que deve ser lançado em todo país no fim de agosto.

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Os deputados Paulo Pimenta (PT-RS), Wadih Damous (PT-RJ) e Paulo Teixeira (PT-SP) protocolaram na última quinta-feira (6) no Ministério Público Federal (MPF) em Brasília um pedido de investigação de possíveis irregularidades cometidas pela Polícia Federal (PF). Os parlamentares acusaram os policiais de praticarem crimes de improbidade administrativa, peculato, abuso de autoridade e prevaricação por conta da ligação com o filme.

“As informações que temos é de que a Polícia Federal ofereceu viaturas, equipamentos para a filmagem. E que teve toda uma logística com gastos de recursos públicos que nós queremos saber qual a autorização legal para a realização dessa logística”, disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP). “Segundo consta que a PF teria ajudado na captação de anunciantes. Baseado em qual autorização legal?”, questiona o parlamentar.

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Essa não é a primeira investida contra o longa metragem. Os advogados do ex-presidente Lula já chegaram a pedir que Moro proibisse o uso de imagens feitas pela Polícia Federal (PF) no dia 4 de março do ano passado, dia em que Lula foi conduzido coercitivamente na 24ª fase da Operação Lava Jato. A PF, porém, negou ter cedido as imagens à produção do filme.

A preocupação do PT faz sentido?

A preocupação do partido tem razão de ser. O próprio produtor do filme, Tomislav Blazic, confirma que a condução coercitiva de Lula está entre as cenas que serão recriadas pelos atores. “Não é que seja a principal cena, porque tem o pessoal da Petrobras, os empreiteiros. Evidente que quando se fala de um ex-presidente sempre tem uma repercussão maior nesse aspecto, mas [o filme] não retratará como ponto principal [a condução coercitiva]”, garante Blazic.

O produtor, porém, garante que o filme será imparcial e sem viés político. “O filme tem todo um equilíbrio, uma história. O filme é apartidário, vem num viés de investigação”, promete. Blazic também nega que a PF tenha cedido imagens da 24ª fase para serem usadas no filme. “O que existe é teoria da conspiração”, disse.

Para o especialista em marketing político Marcos Zablonsky, diz que o filme pode influenciar na campanha presidencial do ano que vem. “Essa dinâmica da campanha eleitoral já começou. O filme é uma narrativa lúdica, audiovisual, que vai dar certa dinâmica das atividades desenvolvidas pela Polícia Federal”, explica. “Incomoda [ao PT] porque de alguma forma é uma narrativa que tem a presença de um personagem importante e que é candidato à Presidência em 2018”, completa o especialista.

“O problema não é a realização de um filme. Não podemos querer, nem é nosso desejo, restringir a liberdade de expressão. O problema é a participação da polícia em um caso que ainda está sendo objeto de julgamento”, diz Paulo Teixeira. “O que ela [PF] está querendo? Influenciar o julgamento?”, questiona o parlamentar. “Na verdade, quer fazer a cabeça da população porque não conseguiu provas”, completa o petista.

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Zablonsky lembra, ainda, da importância do cinema como influenciador da sociedade. “Hitler usou o cinema, Hollywood se utilizou”, explica. Ele lembra que o cinema foi usado ativamente para comunicar a sociedade americana sobre as guerras, além de incentivar jovens a se alistarem no exército norte-americano. “O cinema é uma ferramenta fantástica para mobilização de pessoas da massa. Não dá para subestimar o valor do filme”, alerta o especialista.

Trilogia

A pretensão é que o filme se torne uma trilogia para contar a história da Operação Lava Jato. O primeiro longa metragem vai terminar com a condução coercitiva de Lula, na 24ª fase. Até agora, já foram deflagradas 39 fases da Lava Jato pela força-tarefa de Curitiba.

“O primeiro filme começa no início [do caso] mesmo, na questão do Banestado, chegando a mostrar como surgiu a Lava Jato e a gente para na 24ª operação”, explica o produtor. “O segundo filme dá continuidade”, explica.

Blazic diz que além do PT, outros partidos investigados devem começar a aparecer já no primeiro filme. “Depois da 20ª, 24ª fase já começam a sinalizar outros partidos. Eles vão ficar mais fortes no segundo filme, mas já aparecem no primeiro”, diz.

O primeiro filme, que terá duração de cerca de 2 horas e dez minutos, está orçado em cerca de R$ 15 milhões e não tem verba pública, mas os investidores são mantidos em segredo.

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Colaboração da PF

A produção do filme conta com a colaboração da própria Polícia Federal. Segundo Blazic, os atores estiveram em Curitiba para se familiarizarem com a rotina dos investigadores. “A gente precisava que cada um dos atores conversassem com os delegados para entender como cada uma dessas pessoas trabalham”, explica o produtor.

Parte das cenas, inclusive, foram gravadas durante um fim de semana na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, e durante uma sexta-feira em que não houve expediente por conta de uma dedetização, segundo a corporação. A Colônia Witmarsum também foi palco de gravação de parte das cenas do longa.

A Gazeta do Povo tentou entrar em contato com a Polícia Federal (PF) sobre o assunto, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.