| Foto: Evaristo Sa/AFP

Privatização é uma palavra feia para os políticos. Para vender uma estatal ou reduzir o controle da União nas que têm capital aberto, é preciso tirar aliados de cargos, pisar no pé de sindicatos e cortar excessos nas relações com fornecedores e parceiros das empresas. Por isso mesmo, o prazo para o governo Michel Temer vender empresas públicas está acabando e, a partir de abril, dificilmente se conseguirá tocar no assunto. 

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Técnicos do governo que trabalham em processos de desestatização estão preocupados. Quanto mais tempo passa, mais difícil fica vender ativos públicos. Processos complexos, como o de privatização da Eletrobras, podem ser congelados por causa de pressões políticas. Alas favoráveis ao processo de diluição da participação da União no capital da estatal temem que o presidente desista da privatização para agradar aos parlamentares que mantêm cargos na empresa ou são pressionados por grupos econômicos contrários à privatização. 

Seis meses antes das eleições, os ministros do governo terão de deixar os cargos se quiserem concorrerem em outubro de 2018. O Congresso também deverá abandonar qualquer intenção do governo em medidas de ajuste fiscal, corte de gastos e redução do Estado, e deverá focar em pautas como segurança pública, de grande apelo

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A Infraero, do ramo aeroportuário, já mostra os efeitos desse recuo. O Aeroporto de Congonhas (SP) não deve mais ser vendido, após pressão política. A estatal é comandada pelo PR, do mensaleiro Valdemar Costa Neto, que tem 37 deputados federais e quatro senadores. A notícia de que ficou mais difícil vender Congonhas foi motivo de comemoração entre funcionários da Infraero, preocupados com cargos e rumos da empresa. Sem o terminal aéreo, uma das áreas lucrativas da empresa, a Infraero precisaria ser ajudada pelo governo (que não tem dinheiro) ou ser completamente fatiada e vendida. 

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Juliano Griebeler, diretor de Relações Governamentais da Barral M Jorge Consultoria, avalia que apesar de o mercado financeiro ser favorável às privatizações, existem diversas questões que dependerão do Congresso para concretizá-las. Em muitos casos, há áreas nebulosas e para as quais o governo ainda não tem uma proposta, como no caso de Itaipu – que não pode ser privatizada por ser uma empresa binacional – e da Eletronuclear. 

“Eles estão ignorando a complexidade dessa privatização da Eletrobras. Para você conseguir cumprir com todos os requisitos tem uma série de etapas burocráticas. Vai ser difícil avançar com a pauta [de privatizações], até porque ministros devem se desincompatibilizar em abril. E daí como ficam?”, analisa Griebeler. 

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Denúncias contra Temer ajudaram a pôr em risco as privatizações 

A chegada de duas denúncias criminais contra Temer na Câmara dos Deputados este ano fez emperrarem os planos do governo de reformas econômicas e também colocou os planos de privatização em uma situação difícil, com menor tempo para os complexos processos de desestatização. Lutando para manter Temer no cargo e com o Congresso a reboque das denúncias, a pauta do Programa de Parcerias em Investimentos (PPI), que reúne os projetos de privatização, ficou atrasada. 

Além das dificuldades em tocar os projetos, que são morosos e burocráticos e acabaram ficando ainda mais lentos com o governo trabalhando para se livrar das duas denúncias do Ministério Público, o ministro responsável pela área, Wellington Moreira Franco, também precisou focar energias na sua própria sobrevivência no cargo.

Ele foi denunciado junto com Temer pelo crime de organização criminosa. Desde o início deste ano, o Palácio do Planalto trabalhou para dar status de ministro a Moreira Franco (antes, sua pasta era somente uma Secretaria, o que não lhe concedida o direito a ser julgado em foro privilegiado e poderia colocá-lo na justiça comum a qualquer minuto). 

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Tanto é que o PPI está incorporando cada vez mais leilões de petróleo e de transmissão de energia elétrica ao seu portfólio, por serem projetos novos e que não carregam o peso das privatizações. No dia 19 de outubro, foram incluídos ao PPI o segundo leilão de transmissão de energia elétrica de 2017, realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a concessão da Usina Hidrelétrica Jaguara, e as seguintes licitações de blocos de petróleo: 3ª e 4ª rodada do pré-sal; 15ª rodada de concessão de blocos no pós sal e em terra e a 5ª rodadinha de campos marginais. 

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Todos esses são projetos realizados pelo Ministério de Minas e Energia frequentemente e não precisariam de ajuda do PPI. Ao contrário: para os ministérios responsáveis por projetos de infraestrutura, concessões e privatizações, a inclusão de projetos no PPI geralmente não é comemorada. Em muitos casos, quando já se tem a tradição da realização desses leilões, a assinatura do PPI acaba burocratizando o processo e colocando camadas de articulação política que seriam puladas sem o PPI. 

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Venda da Caixa foi sonho que fica impossível 

A venda da Caixa, que chegou a ser objeto de um balão de ensaio de setores econômicos, é impossível em um cenário eleitoral tão próximo. O banco tem em suas diretorias e quadros um grande número de indicados políticos (o presidente é o ex-ministro do governo do PT Gilberto Occhi, ligado ao PR). 

O banco constitui um importante ativo político. Ele é a interface com o cidadão para programas de governo como a gestão do FGTS e do PIS/Pasep; tem a maior carteira de financiamento habitacional e de contas de poupança do país. Com isso, cabe à Caixa a gestão dos recursos do FGTS que são destinados ao financiamento de projetos de infraestrutura e são concedidos a empreiteiras, por exemplo.