A gasolina vendida pelas refinarias da Petrobras ficará 1,4% mais barata nesta quinta-feira (4), mas o refresco será ínfimo perto do aumento acumulado nos últimos seis meses. Desde que implantou sua nova política de preços, em 4 de julho de 2017, a estatal promoveu nada menos que 121 alterações – duas a cada três dias, em média, e a maioria para cima. Nesse período, a gasolina acumulou alta de 29,5%. E o diesel, de 27%.
Os reajustes quase diários seguem de perto a variação dos preços do petróleo no mercado internacional, que subiram pouco mais de 30% nos mesmos seis meses. Nos contratos futuros do óleo tipo brent, negociados na Bolsa de Londres, a cotação estava pouco abaixo de US$ 50 no início de julho de 2017 e nos últimos dias oscilou acima de US$ 66.
HAJA REAJUSTE: Veja a variação dos preços da gasolina e do diesel
Ainda que acompanhe o que acontece lá fora, a disparada dos preços da gasolina no Brasil deve virar munição para a oposição durante a campanha eleitoral, para atacar o eventual candidato governista e demais concorrentes alinhados à política econômica de Michel Temer. De certa forma, a guerra já começou.
Dias atrás, a senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, compartilhou no Facebook uma imagem que compara os preços da gasolina em 2014 – durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff – e 2017. De acordo com a publicação, em 2014, com o petróleo a US$ 110 por barril, a gasolina era vendida a R$ 3,50 por litro; no fim do ano passado, com o barril a US$ 60, preço do combustível na bomba chegava a R$ 4,90.
“Temer continua subindo o preço da gasolina e prejudicando você”, escreveu a senadora. O post não diz onde o litro da gasolina beira os R$ 5, mas a provável referência são postos da Zona Sul do Rio de Janeiro, mencionados num texto publicado pelo site do PT.
O mesmo texto observa que o atual presidente da Petrobras, Pedro Parente, foi ministro do tucano Fernando Henrique Cardoso. Entre os presidenciáveis que apoiam a agenda econômica de Temer, de orientação liberal, o mais bem posicionado é justamente um filiado ao PSDB, o governador paulista Geraldo Alckmin.
Prejuízos em série
O que nem o post de Gleisi Hoffmann nem o texto do PT mencionam é o outro lado da moeda: o acúmulo de prejuízos e a explosão do endividamento da Petrobras durante o governo de Dilma Rousseff, que usou a estatal como instrumento de controle da inflação.
GRÁFICO: Preços sob controle, prejuízo descontrolado
Ao segurar os preços da gasolina e do diesel numa época em que o barril custava mais de US$ 100 no mercado internacional, a Petrobras perdia dinheiro. Vendia combustível abaixo do custo de importação dos derivados necessários para complementar a produção das refinarias brasileiras, que não supre toda a demanda doméstica.
Os balanços da estatal revelam o resultado dessa política. No primeiro mandato de Dilma, período de controle mais ferrenho dos preços, a área de Abastecimento da Petrobras registrou perdas de R$ 90,5 bilhões.
Parte desse resultado se deve a baixas realizadas em 2014, referentes a “gastos adicionais capitalizados indevidamente” – pagamentos ilícitos descobertos pela Operação Lava Jato – e à construção de refinarias no Maranhão e no Ceará, que foram canceladas. Mesmo excluindo esse impacto das contas, os prejuízos do Abastecimento foram gigantescos: de 2011 a 2013, eles somaram R$ 50,6 bilhões.
As perdas com o controle de preços superam o montante que – segundo a maioria das estimativas – a Petrobras perdeu no esquema de corrupção investigado pela Lava Jato.
A própria companhia deu baixa de R$ 6,2 bilhões no balanço de 2014 por causa dos subornos descobertos durante a investigação. O Ministério Público Federal, por sua vez, estima que a corrupção teria levado cerca de R$ 20 bilhões da estatal. Um laudo de 2015 da Polícia Federal calculou um prejuízo de R$ 43 bilhões. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Fazenda, por fim, estimou em 2015 que as movimentações financeiras “suspeitas” chegaram a R$ 52 bilhões.
Explosão da dívida
Diversos estudos buscaram estimar não só o que a Petrobras perdeu com a prática de preços artificiais, mas também o quanto deixou de ganhar. Um deles, elaborado pelo Grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (GEE/UFRJ), calculou que o represamento dos preços de 2011 a 2013 representou um custo de oportunidade de R$ 104 bilhões.
O trabalho elencou a defasagem como um dos principais responsáveis pela explosão da dívida da estatal. Os planos de investimento da companhia – de dezenas de bilhões de reais por ano – se baseavam em cenários de “preços de mercado”. Como, por ordem do governo, tais preços não eram efetivamente aplicados, a empresa tinha de pegar mais empréstimos do que planejava.
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Com isso, o endividamento líquido saltou de R$ 61 bilhões no fim de 2010 para R$ 282 bilhões em dezembro de 2014, e cresceu mais um bocado no ano seguinte, terminando 2015 em R$ 392 bilhões – o equivalente a mais de cinco anos de geração de caixa da companhia, mais que o dobro do que ela própria considerava adequado.
Com a venda de vários ativos – entre eles, campos do pré-sal – e o alinhamento dos preços domésticos à realidade externa, a nova gestão conseguiu reduzir o endividamento. No balanço mais recente, de setembro de 2017, o valor devido era de R$ 279 bilhões, ou 3,2 vezes a geração de caixa.
O balanço da Petrobras voltou ao azul em 2017, mas com ganhos relativamente tímidos. De janeiro a setembro, a companhia registrou lucro acumulado de R$ 5 bilhões.
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