Um incêndio de grandes proporções no centro de São Paulo, próximos à Avenida Rio Branco, causou o desabamento de um prédio de 24 andares na madrugada desta terça-feira (1). O prédio é uma antiga sede da Polícia Federal no largo do Paissandu. Ao menos um homem que era resgatado quando o prédio desabou e uma mulher e suas duas filhas gêmeas estão desaparecidos e os bombeiros fazem buscas entre os escombros com o auxílio de cães farejadores.
Durante a madrugada, o incêndio atingiu outros prédios no entorno da antiga sede da Polícia Federal. Entre eles, a Igreja Martin Luther teve sua estrutura danificada. O templo é a primeira paróquia evangélica luterana da capital, inaugurada em 1908.
O pastor Frederico Carlos Ludwig avalia que ao menos 90% da igreja tenha sido destruída pelo desabamento. “Sobraram apenas a torre e parte do altar”, afirma Ludwig. “Há tempos já tínhamos notado que o prédio parecia se inclinar em direção a rua, o desabamento parecia iminente. Tentamos denunciar a situação aos órgãos competentes, mas sem sucesso”, conta ele, que foi avisado do incêndio esta madrugada por sua zeladora, que habitava uma edícula nos fundos do prédio. “Cheguei aqui 1h30 e assisti a tudo. Uma desolação para as famílias, em primeiro lugar, mas também para a cidade, que perde um pouco da sua história”, diz.
O pastor afirma que o prejuízo da igreja é “incalculável”. “Vitrais, móveis de madeira de lei, nosso órgão centenário... Tudo se foi”, lamenta o religioso.
Primeiro templo em estilo neogótico construído na cidade - e igualmente a primeira paróquia luterana -, a igreja foi tombada em 2012 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), sob proteção de nível 1, que exige a preservação integral. Há dois anos, o local teve sua parte interna reformada.
Por volta das 9h da manhã, um incêndio voltou a consumir o topo de outro prédio no largo.
VÍDEO: Veja o exato momento em que o prédio desaba
Moradores do prédio que desabou afirmam que o incêndio começou por volta da 1h30 após uma explosão no quinto andar. Eles desconfiam que se trate de um botijão de gás. Após a explosão, houve fogo e fumaça pelo prédio. A costureira Iraci Alves diz que estava no prédio quando o fogo começou. “Foi uma explosão muito forte. Saí só com a minha roupa”, diz. Ela afirmou que parte interna do prédio era de madeira e, por isso, o fogo se alastrou muito rápido.
De acordo com a área de comunicação da Prefeitura de São Paulo, a Defesa Civil está no local para verificar possíveis danos nos prédios vizinhos e a CET está organizando bloqueios na região. A SMADS (Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social) está providenciando abrigamento para as famílias.
Condições precárias
Moradores da região relatam que o prédio que desabou era uma instalação desativada da Polícia Federal e que estava ocupada irregularmente. O outro, ainda em chamas, era um edifício comercial.
“Estava assistindo televisão em um hotel próximo quando ouvi uma gritaria. Pensei no começo que era uma briga, mas logo depois ouvi as pessoas gritando para descer e aí vi o incêndio”, relata Antônio Carlos Saraiva, que é recepcionista no hotel São Jorge, vizinho ao local da tragédia. O hotel foi interditado preventivamente pela Defesa Civil.
Presente ao local, o governador de São Paulo, Márcio França (PSB) disse que as famílias desabrigadas serão cadastradas e levadas para abrigos, e também podem se candidatar a receber aluguel social para procurarem um novo lugar para viver. Ele também chamou o caso de “tragédia anunciada”.
“Não tem a menor condição de morar lá dentro. As pessoas habitam ali, desesperadas. Volto a repetir que essa era uma tragédia anunciada”, continuou. De acordo com o governador, são pelo menos 150 imóveis ocupados irregularmente no centro de São Paulo, a maioria deles de particulares.
França também citou dificuldade em desocupar prédios por conta de liminares. “Essa subabitação não tem solução, essas pessoas precisam ser tiradas daí. É preciso boa vontade e compreensão do Ministério Público e da magistratura para não dar liminares. Porque quando dão liminares, as pessoas vão ficando lá e quando acontece uma tragédia dessas todo mundo fica triste. Vamos torcer para que tenha alguém ainda vivo ali embaixo”.
Famílias evacuadas
Moradores da ocupação tiveram que deixar para atrás documentos, eletrodomésticos e animais de estimação quando o incêndio começou. A dona de casa Deise Silva, 31, mãe de sete filhos, conta que a família estava dormindo quando o fogo teve início. Moravam no prédio havia um mês. “Escutei gritos, achei que tinha gente brigando”, diz ela, que mora com cinco filhos, a mais nova de um ano. “Quando falaram que tinha fogo, acordei as crianças e saí correndo.”
“O prédio desceu, parecia um tsunami”, lembra a dona de casa Maria Aparecida de Souza, 58, que morava no quarto andar havia quatro anos. “Não deu para tirar nada.” O aposentado Miguel Angelo se machucou na mão com estilhaços de vidro da janela. “Acordei e a energia tinha acabado. Foi uma gritaria, uma correria”, lembra.
Cerca de 80 pessoas viviam no lugar, segundo moradores. Cada família tinha um quarto e os banheiros ficavam no corredor. As famílias pagariam uma taxa de R$ 160 por mês à coordenadora da ocupação para ter direito a um quarto no prédio, segundo uma moradora que não quis ser identificada.
O ferreiro Carlos Augusto Soares, 46, espera que a prefeitura ofereça abrigo para as famílias. Morador do lugar há quatro anos, conta que não conseguiu sequer salvar a sua gata de estimação durante a fuga. Uma assistente social que atua na região e preferiu não ser identificada contou que ocorriam desentendimentos entre os moradores e os líderes da ocupação.
Desaparecido
O Corpo de Bombeiros confirma que uma pessoa está desaparecida em decorrência do incêndio. Segundo testemunhas, trata-se de um homem chamado Ricardo, que trabalha como carregador na Rua 25 de Março. Os relatos dão conta de que ele saiu do edifício, mas voltou para ajudar outros moradores a saírem do local.
O porta-voz dos bombeiros informou que a corporação trabalha com a perspectiva mínima de uma semana para fazer o trabalho de rescaldo no local do incêndio. “São dois ou três dias de trabalho manual, resfriamento e retirada dos escombros, trabalhando com possíveis vítimas, para depois trabalhar com o maquinário pesado”, disse.
No momento em que o prédio em chamas desmoronou, os bombeiros tentavam resgatar um homem. Este homem é a única vítima oficialmente contabilizada como desaparecida pelos bombeiros, embora moradores ainda relatem que uma mãe com dois filhos também esteja desaparecida.
Segundo os bombeiros, uma equipe estava no alto de um prédios na rua Antônio de Godói, ao lado do edifício já em chamas ocupado por sem-tetos. Os bombeiros chegaram a lançar uma corda com um cinturão para um homem que se pendurava do lado de fora de uma das janelas.
Ainda segundo os bombeiros, o homem tentava se prender à corda quando o prédio em chamas ruiu e o homem caiu junto com os escombros. Imagens da TV Globo flagraram a tentativa de resgate.
Temer é hostilizado e deixa às pressas local de desabamento em SP
O presidente Michel Temer (MDB) foi ao largo do Paissandu, onde o prédio desabou nesta terça-feira. Hostilizado e deixou o local rapidamente. O carro em que estava o presidente foi chutado e atingido por objetos arremessados por moradores e deixou o local às pressas. “Não poderia deixar de vir, sem embargo dessas manifestações, a final estava em São Paulo e ficaria muito mal não comparecer”, disse Temer, sob gritos de golpista.
Segundo o presidente, as cerca de 150 famílias sem-teto que moravam no prédio receberão ajuda .”Serão tomadas providências para dar assistência não só aqueles que perderam seus entes queridos, mas também a quem perdeu sua residência”, afirmou ele, que ficou cerca de cinco minutos no local.
Hostilizado, Temer deixou o local às pressas e na saída dos dois carros da comitiva do presidente uma jornalista chegou ser prensada entre os veículos. Ela, porém, não se machucou.
Durante a manhã, o prefeito Bruno Covas disse à imprensa que já estava em tratativas com a União para tomar conta do lugar. “A prefeitura agiu no limite de sua função. Cadastramos as famílias e já estávamos buscando receber esse prédio.”
“A Prefeitura não pode ser acusada de se furtar à responsabilidade. Só neste ano, desde fevereiro, fizemos seis reuniões com os moradores. O núcleo de intermediação com áreas invadidas fez seis reuniões com eles alertando destes riscos”, disse Covas. O prefeito afirmou que como a Prefeitura não tem a posse do imóvel não poderia ter entrado com pedido de reintegração.
O prefeito disse que agora a prioridade é prestar auxílio aos atingidos. Segundo ele, 191 pessoas foram atendidas nos abrigos da capital. Cerca de 150 famílias que moravam no prédio que caiu foram cadastradas pela secretaria de habitação. Destas, 25% eram de estrangeiros.
Bruno Covas não soube dizer quantos prédios estão invadidos na capital. “Sabemos que oito prédios do entorno estão na mesma situação deste que pegou fogo”, afirmou o prefeito.
Inquérito
A Promotoria de Habitação e Urbanismo do Ministério Público de São Paulo decidiu reabrir nessa terça-feira um inquérito arquivado em março que apurava eventuais riscos de segurança no prédio que desabou. A nota publicada pelo órgão confirma que as investigações foram reabertas devido ao desabamento do prédio.
A investigação foi arquivada em março deste ano sem chegar a nenhuma conclusão nem determinar medidas para melhorar a segurança do local.
O inquérito civil havia sido aberto após uma representação feita ao MPE com base em informações colhidas junto à Ouvidoria Geral do Município e Prefeitura Regional da Sé em agosto de 2015. A representação foi assinada por um morador vizinho do prédio, Rogério Baleki. “Da minha janela, era possível ver uma fenda de 40 centímetros no prédio que desabou hoje”, disse ele ao jornal O Estado de S. Paulo. “O que eu vejo aqui é uma tragédia anunciada. Isso não é um acidente, é um crime”, disse. A investigação também apurou que o local já havia sido alvo de uma ação de despejo, movida pela União, mas foi reocupado após a primeira reintegração de posse.
Ainda em 2015, o MPE requisitou informações à Prefeitura e pediu que o Corpo de Bombeiros fizesse uma vistoria “com o objetivo de verificar as condições de segurança e se realmente existia algum risco para quem mora no local ou o frequenta, inclusive a possibilidade de desabamento”.
A investigação teve seu prazo de conclusão prorrogado por quatro vezes, trocou de promotor e foi finalizada apenas em março deste ano, sem nenhuma conclusão. A recomendação foi pelo arquivamento. Atualmente, o processo está no Conselho Superior do MP, que pode aceitar o arquivamento ou devolver o processo para a promotoria de Habitação.
Repercussão internacional
O incêndio está ganhando repercussão internacional. O The New York Times fala sobre a dimensão do alcance do fogo e de suas possíveis vítimas, ainda não confirmadas. O jornal chamou o edifício de “arranha céu”. A rede CNN diz que o prédio foi “engolido” pelas chamas e considerou “dramática” a situação das possíveis vítimas e das dificuldades que os bombeiros estavam encontrando no local.
A BBC relata o que provocou o incêndio - a explosão de um botijão de gás - e também cita depoimentos dados por moradores a jornais brasileiros. O The Sun classificou como “um inferno em chamas” e apontou a situação “desesperadora” de quem estava no local e tentava escapar do fogo.
Incêndio atinge galpão na zona norte da cidade do Rio
Um incêndio de grandes proporções atinge na manhã desta terça-feira (1º) um galpão da Drogaria Pacheco, na Rodovia Presidente Dutra, na altura da Pavuna, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Segundo o Corpo de Bombeiros, o quartel de São João de Meriti foi acionado por volta das 8 horas.
Ainda de acordo com os bombeiros, ainda não há informações sobre feridos até o momento. Quartéis do entorno ajudam os militares de São João de Meriti no combate ao fogo. A Polícia Rodoviária Federal interditou a pista lateral da Via Dutra, na altura do quilômetro, no sentido Rio de Janeiro, às 8h25.
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