Poucas horas antes de o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, entregar a denúncia que será avaliada pelo Congresso, o presidente Michel Temer deu o tom de como vai atuar em sua defesa. “Nada nos destruirá”, disse, em uma primeira pessoa do plural que incluiu seus ministros, oito deles também investigados por corrupção. Temer se prepara para uma defesa que usará todas as armas e que custará caro. Mas quem liga para o preço das coisas quando pode passar o custo para todos os brasileiros?
Há três prejuízos econômicos que veremos na defesa de Temer. Um direto, na forma de dinheiro para os deputados da base. Um indireto, na forma da continuidade provável da corrupção. E o terceiro conjuntural, que é a forma como a crise política muda fatores como confiança, taxa de investimento e o consumo.
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A primeira linha de batalha para a sustentação do governo envolve uma negociação nome a nome no Congresso. Não é preciso muito para enterrar as denúncias da PGR: só o apoio de 171 parlamentares, que não precisariam nem ir até a Câmara defender o presidente. Mesmo isso tem seu preço na forma de emendas, negociação de pequenos investimentos em currais eleitorais e proteção de indicados em cargos comissionados.
O Congresso está olhando para 2018 e para muitos deputados é melhor ter certeza de que o mandato irá até o fim e que até lá eles contarão com uma mão amiga no Planalto. Uma eleição indireta teria de ser rápida e controlada, fruto de um consenso que não se obteve no último mês, ou seja, um risco para quem está na base. Na mão de Temer, ainda há a possibilidade de ele apoiar a criação do superfundo partidário com R$ 3,5 bilhões para custear as eleições no ano que vem. Com dinheiro na mão, muita gente no Congresso não vai se incomodar com a impopularidade e a limitação moral do presidente.
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O segundo fator econômico complementa o primeiro. Temer é fruto de um sistema político carcomido pela corrupção. Indicou um auxiliar seu para uma negociação financeira mesmo sabendo do apoio que o combate aos desvios éticos tem no Brasil. Pego, resistiu em assumir seu erro e tenta sustentar a tese de perseguição. É pouco provável, portanto, que as perdas que o país tem com a corrupção vão diminuir durante esse governo. Embora seja uma variável impossível de medir, é um fator que reduz nossa produtividade e torna o Brasil mais pobre.
Apesar de a crise política não ter detonado uma catástrofe econômica, ela já influencia a confiança de empresários e consumidores, que tendem a investir e gastar menos. Ela também engessa decisões importantes, como o andamento de concessões e a aprovação de reformas – pouca gente hoje acredita que a reforma da Previdência será votada com propõe o governo. Muitos analistas já estão revisando para baixo suas previsões para o crescimento neste ano e em 2018. A retomada pode ficar mais lenta, distante e com mais desemprego por mais tempo.
Temer ainda não pode ter certeza de que tem poder de fogo suficiente para se sustentar, mesmo com a máquina pública trabalhando a seu favor. Seus dois maiores riscos hoje são a debandada do PSDB, mais provável, e a disseminação de protestos pelo país, que seria uma surpresa depois de um mês de apatia. Se uma dessas coisas acontecerem, Temer passará seus últimos dias como a ex-presidente Dilma Rousseff – tentando comprar apoio em um quarto do hotel e levando em troca traições em plenário.
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