O presidente Michel Temer convidou o economista Paulo Rabello Castro, atualmente presidente do IBGE, para substituir Maria Silvia Bastos no comando do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que entregou o cargo na tarde desta sexta-feira (26). Castro aceitou o convite e começará seu trabalho na instituição já na próxima semana. Silvia alegou motivos pessoais para entregar o cargo e a decisão teria pegado o presidente Michel Temer de surpresa.
Interlocutores do Planalto reconheceram que, em meio à crise política, era preciso escolher um sucessor o mais rápido possível para evitar um desgaste com o mercado financeiro. Auxiliares de Temer admitem que a saída da presidente do BNDES neste momento “é uma baixa importante”. Logo após o anúncio da demissão, Temer reuniu-se com os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Dyogo Oliveira.
No Planalto, assessores do presidente ressaltam que Maria Silvia “já fez o trabalho mais pesado” no BNDES, reorganizando o banco desde que assumiu o cargo, há um ano. Neste momento, o Planalto salienta que o norte dado ao BNDES não mudará. “A linha do BNDES está dada. O movimento mais difícil já foi feito e todos os outros braços econômicos importantes continuam trabalhando”, justificou um auxiliar do presidente.
Além de o impacto na demissão de Maria Silvia, a notícia de que a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a perspectiva do rating do Brasil de estável para negativa abateu o governo, que tentava emplacar uma agenda positiva, apostando as fichas que na semana que vem conseguiria retomar a confiança do mercado durante o Fórum de Investimentos Brasil 2017, em São Paulo. A presidente do BNDES seria uma das palestrantes e, até o momento, o Planalto diz que ainda não sabe quem vai substitui-la no painel. Mas assegura que há “gente graúda” do mercado confirmando presença e há 1.400 inscritos para participar do encontro.
Questionado pela reportagem se comentaria o rebaixamento da perspectiva do Brasil, a assessoria de imprensa do Planalto informou que “o posicionamento do governo foi feito pelo Ministério da Fazenda por meio de nota”.
Moreira Franco nega que governo queria demissão de Maria Silvia
Nos últimos dias a informação de bastidores era que o secretário geral da Presidência, Moreira Franco, buscava um nome para substitui-la no mercado. E isso a teria irritado. Franco negava de forma peremptória que o governo trabalhava para defenestrar Maria Silvia Bastos Marques. No auge das especulações sobre a saída da então presidente do BNDES, o secretário geral chegou a conversar com a executiva pessoalmente e a convidá-la, em tom de brincadeira, para “dançarem juntos na Estudantina”, tradicional reduto do samba no Centro do Rio de Janeiro.
Tudo para mostrar que estavam alinhados e que o governo sequer pensava em tirar a executiva do cargo, como pediam de forma sistemática empresários, frustrados com a contenção na liberação de financiamentos do banco. “Você sabe que eu convidei a Maria Silvia para dançarmos juntos na Estudantina (risos). Não deu para colocar em prática o plano porque tínhamos muito trabalho”, contou Moreira.
Nos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a JBS, que ameaçou a continuidade no cargo de Michel Temer com as revelações feitas em delações, se tornou a maior empresa de carnes do mundo com o apoio do BNDES. O faturamento da companhia saltou de R$ 4 bilhões para R$ 170 bilhões entre 2006 e 2016, impulsionado por aquisições, como a compra do frigorífico Bertin e das empresas americanas Swift e Pilgrim’s Pride, tudo financiado pelo BNDES.
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