De volta à Curitiba para ser interrogado pela segunda vez pelo juiz federal Sergio Moro nesta quarta-feira (13), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva protagonizou cenas de tensão desde o início da audiência, que começou às 14 horas na Justiça Federal, na capital. Um dos pontos que mais irritou o ex-presidente no interrogatório foi quando o magistrado começou a questioná-lo sobre um apartamento em São Bernardo, que teria sido alugado pelo petista.
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), o apartamento – que é vizinho ao imóvel onde mora Lula – teria sido adquirido pelo ex-presidente em nome de um laranja, o aposentado Glaucos da Costamarques. Em seguida, a ex-primeira dama, Marisa Letícia, teria firmado um contrato de locação fictício com Glaucos. Lula usa o imóvel até hoje, para reuniões políticas.
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Ao ser pressionado por Moro sobre a existência ou não de comprovantes de pagamento do aluguel, Lula acabou se irritando. “Eu se for mexer no baú que está lá em casa posso achar esses documentos. Mas isso deve estar no meu imposto de renda”, respondeu Lula.
O magistrado, porém, insistiu. “Essa acusação contra o senhor foi formulada em novembro do ano passado e também recebida no final do ano passado. Desde então não foi possível levantar [os comprovantes]?”, perguntou Moro.
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Depois de uma intervenção do advogado Cristiano Zanin, Lula voltou a dizer que nunca houve reclamação sobre falta de pagamento do aluguel do imóvel. “Eu estou levantando agora e vou repetir para o senhor. Nunca houve qualquer denúncia que o apartamento não estava sendo pago. Seu Glauco nunca levantou, seu Glauco nunca cobrou, seu Glauco nunca me telefonou. Nem ele, nem ninguém”, disse Lula. O petista disse, ainda, que quem precisa provar que o aluguel não foi pago é o MPF.
Dona Marisa
O ex-presidente disse, ainda, não ter conhecimento sobre a negociação para a locação do imóvel. Quem era responsável tanto pelo contrato quanto pelos pagamentos, segundo Lula, era a ex-primeira dama Marisa Letícia.
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“Deixa eu lhe dizer uma coisa, dr Moro. Eu já disse em outro depoimento. Eu casei em 1974. Em 1975 eu virei presidente do sindicato e aí eu comecei a viajar muito o Brasil. Eu odiava saber que uma mulher tinha que levantar todo dia e pedir R$ 10 para o marido para ir na feira para comprar alguma coisa. Então eu abri, em outubro de 1975, uma conta conjunta com a dona Marisa para deixar a dona Marisa administrar as questões da casa. Eu penso que eu fiquei próximo de 30 anos sem assinar um cheque na minha vida porque a dona Marisa, primeiro, era muito séria no trato de dinheiro, era muito econômica, eu nunca tive medo de deixar um cartão de crédito com ela porque eu tinha a consciência de que a dona Marisa não gastaria nada que não fosse essencial, e a dona Marisa ficou com a responsabilidade de fazer o contrato e acertar aluguel, condomínio, IPTU e outras coisas da casa. Era tudo ela que fazia”, disse o petista.
Cutucada
Lula aproveitou o depoimento à Moro para cutucar o magistrado sobre sua candidatura em 2018. O magistrado perguntou qual é a finalidade do apartamento alugado de Glaucos, e Lula aproveitou a deixa.
“A finalidade é fazer segurança, fazer reuniões políticas, para não ocupar o meu apartamento. Se me permitirem que eu seja candidato em 2018, ele voltará a ter uma função política muito forte”, disse Lula, já nos primeiros minutos do depoimento.
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Moro condenou o petista em julho deste ano a nove anos de prisão no processo do tríplex no Guarujá. Se a sentença for confirmada em segunda instância, o petista vai ficar de fora da corrida presidencial em 2018, por cair na Lei Ficha Limpa.
O processo
O interrogatório de Lula durou cerca de duas horas nesta quarta-feira. Neste processo, o petista é acusado pelo MPF de receber propina por contratos da Odebrecht com a Petrobras através da compra de um terreno em São Paulo que seria usado para a instalação de uma nova sede do Instituto Lula. O valor total de vantagens ilícitas usadas na compra e manutenção do terreno até 2012 chegou a R$ 12,4 milhões, segundo os procuradores. A construção, porém, nunca aconteceu.
O aluguel de um apartamento em São Bernardo também é alvo do processo referente à compra do terreno para o Instituto Lula. Segundo o MPF, R$ 504 mil foram usados para comprar o apartamento vizinho à cobertura do ex-presidente. De acordo com a denúncia, a nova cobertura, que foi utilizada por Lula, foi adquirida no nome de Glaucos da Costamarques – parente do pecuarista e amigo pessoal do ex-presidente José Carlos Bumlai –, que atuou como testa de ferro de Lula.
“Na tentativa de dissimular a real propriedade do apartamento, Marisa Letícia Lula da Silva chegou a assinar contrato fictício de locação com Glaucos da Costamarques, datado de fevereiro de 2011, mas as investigações concluíram que nunca houve o pagamento do aluguel até pelo menos novembro de 2015”, afirmam os procuradores.
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