A divulgação dos áudios gravados por Joesley Batista, dono do grupo JBS, jogou nova luz sobre as informações iniciais, divulgadas na quarta-feira (18) em torno do suposto pedido do presidente Michel Temer (PMDB) para a compra do silêncio ex-presidente da Câmara Federal Eduardo Cunha (PMDB), preso pela Operação Lava Jato.
Por um lado, a acusação de que o Temer promoveu obstrução da Justiça perdeu força. O trecho que embasava essa possibilidade era o da frase “Tem que manter isso, viu?”, sobre o relacionamento de Batista com o ex-deputado Eduardo Cunha. A frase de Temer não parece guardar relação com o pagamento de uma “mesada” a Cunha.
De outro lado, porém, ganha força a tese de que o presidente cometeu o crime de prevaricação, ao aceitar que Batista tenha buscado influenciar e cooptar procuradores e juízes – o pagamento de uma mesada de R$ 50 mil a um procurador da República, em troca de informações sigilosas da investigação da qual é alvo na Operação Greenfield, que apura rombo bilionário nos maiores fundos de pensão do país. As gravações mostram Temer dizendo “ótimo” quando o interlocutor fala sobre o tema.
Na mesma linha entram a anuência às pressões sobre o ministro Henrique Meirelles (Fazenda), para retomar a benevolência do BNDES que marcou os governos do PT, e também sobre o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), intermediada pelo deputado paranaense Rodrigo Rocha Loures (PMDB), braço direito de Temer. A ideia, neste caso, era destravar projetos de interesse do grupo comandado por Batista.
Diante de especulações sobre sua permanência no cargo, o presidente precisou fazer no meio da tarde um pronunciamento público ao país para afirmar que não vai renunciar. “Não renunciarei. Repito: não renunciarei”, disse, exaltado. Temer negou envolvimento em uma trama para “comprar” o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que cumpre prisão preventiva na região de Curitiba. “Não comprei o silêncio de ninguém.” O governo também viveu a ameaça de debandada na base aliada, que foi contida num primeiro momento pelo Planalto.
Os principais partidos condicionaram a saída da base de apoio a uma avaliação do conteúdo do áudio gravado por Joesley. Somente o PPS e o Podemos (antigo PTN) anunciaram o rompimento. No PPS, Roberto Freire decidiu deixar o Ministério da Cultura.