Braço direito da procuradora-geral Raquel Dodge, o secretário-geral da PGR Alexandre Camanho atuou junto a Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor de Michel Temer, para se aproximar do presidente e comemorou a indicação de Sarney Filho (PV) para o Ministério do Meio Ambiente antes mesmo de Dilma Rousseff (PT) sofrer impeachment.
Os diálogos entre Camanho e Rocha Loures estão descritos no relatório da Polícia Federal sobre o inquérito dos portos, no qual Temer e outras dez pessoas, incluindo seu ex-assessor, foram indiciados por corrupção, entre outros crimes. O ex-assessor de Temer foi filmado em abril do ano passado recebendo uma mala com R$ 500 mil de um executivo da J&F, que controla a JBS.
As conversas mostram que a relação entre eles era próxima e que Camanho tentou emplacar um nome para o Ministério da Justiça e pediu reunião fora do Planalto, para evitar exposição. Os diálogos ocorreram antes da gestão de Dodge na PGR. Em 16 de abril de 2016, o procurador afirmou que tinha “coisas importantes para dizer” a Rocha Loures.
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Os investigadores destacam um diálogo entre eles datado de 29 de abril de 2016 no qual “Camanho demonstra para Rocha Loures contentamento na indicação de Sarney Filho para Ministério do Meio Ambiente”. “No dialogo, Camanho ainda fala que Sarney Filho e ‘um bom amigo e verdadeiramente engajado’“, informa o relatório. Segundo a PF, Camanho e Rocha Loures trataram também sobre uma indicação para o Ministério da Justiça em um governo Temer também antes do afastamento de Dilma.
Em 5 de maio de 2016, Camanho se colocou à disposição para uma “sondagem preliminar” com o “indicado” por ele para o Ministério da Justiça, afirmam os investigadores. “Da conversa de ontem pensei: pq não chamar Francisco Rezek para a Justiça? Duas vezes ministro do STF, presidente do TSE, juiz da Corte da Haia, ministro das Relações Exteriores, doutor pela Sorbonne, procurador da República”, escreveu Camanho.
“Se o presidente quiser, posso fazer uma sondagem preliminar, para que ele não corra riscos. Fui assessor dele no STF e somos amigos pessoais”, acrescentou o procurador. “Ótima sugestão! Falarei com ele e te aviso apôs almoço. Favor aguardar”, respondeu Rocha Loures.
“Estou com os meninos da Lava Jato”
As conversas mostram ainda que em 11 de maio de 2016 Camanho tentou intermediar uma reunião entre os procuradores da Lava Jato e o presidente Temer em Brasília. “Estou com os meninos da Lava Jato. O presidente quereria vê-los?”, escreveu Camanho. Os procuradores não se encontraram com Temer, mas Rocha Loures foi ao encontro do grupo.
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No dia seguinte, Camanho e o atual presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), José Robalinho, foram a uma reunião com Temer no Palácio do Jaburu. “Segundo informações veiculadas na mídia, Alexandre Camanho teria encontrado com Michel Temer para tratar de assuntos relacionados à sucessão na Procuradoria-Geral da República”, diz o documento.
Naquela época, Dilma ainda não havia sido afastada pelo Senado, o que só ocorreu em 12 de maio de 2016. Sarney Filho assumiu o Meio Ambiente e Temer nomeou Alexandre de Moraes para a Justiça.
Com Temer na presidência
A PF destaca dois diálogos de Camanho com Rocha Loures depois que Temer assumiu a Presidência. Em 25 de maio de 2016, Camanho “aparenta urgência em falar com o presidente ao final do dia”, diz a Rocha Loures que estava indo conversar com Zequinha e que teria “muitas coisas que precisa levar ao conhecimento do presidente”.
Naquele dia, o ministro Teori Zavascki, então relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) homologou a delação de Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro, que “envolvia membros do antigo PMDB, inclusive conversas do ex-senador José Sarney – pai de Zequinha Sarney”.
Machado entregou à PGR uma planilha com valores e datas na qual aponta irregularidades por parte de parlamentares, incluindo Sarney Filho. Segundo Machado, ele teria recebido R$ 400 mil como “vantagens ilícitas em doações oficiais” no ano de 2010.
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“Após 5 (cinco) dias da conversa anterior, em 30/05/2016, Alexandre Camanho volta a dizer que tem urgência em falar assunto importante com Rocha Loures, mas pede para o encontro ocorrer fora do Palácio do Planalto, pois alega que se fosse no Palácio ‘seria muito expositivo’“, informa o documento.
“Resta frisar que somente a partir dos diálogos tratados não é possível chegar a qualquer conclusão sobre o resultado dos encontros entre Rocha Loures e o procurador regional Alexandre Camanho, bem como eventuais temas tratados”, ressaltam os investigadores.
Ex-presidente da ANPR
No relatório, a PF informa que ainda no fim do primeiro governo de Dilma Rousseff, Camanho, que estava à frente da ANPR, já se referia ao então Michel Temer como “presidente”. “Estimado amigo, posso ver o presidente na semana que vem?”, escreveu Camanho a Rocha Loures em fevereiro de 2014. Nesta troca de mensagens não há resposta, e em março, Camanho envia: “Estimado amigo, alguma perspectiva?”, ao que Rocha Loures responde “Alexandre confirmo horário até amanhã Abs.”.
Dois anos depois e após ter deixado suas funções na ANPR, Camanho continuou as tratativas com Rocha Loures, segundo a PF. Camanho foi presidente da ANPR entre 2011 e 2015 e assumiu o cargo de secretário da PGR na gestão Raquel Dodge, em setembro de 2017.
De acordo com a assessoria da PGR, Camanho informou que estabeleceu um contato com o então vice-presidente enquanto presidia a ANPR por questões típicas da associação e suas pautas corporativas. O diálogo continuou mesmo depois que ele deixou a associação e as conversas relatadas são absolutamente normais, informou a PGR.
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