No dia em que a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados escolheu o deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) como relator da denúncia contra o presidente Michel Temer, o procurador Athayde Ribeiro Costa, integrante da força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público Federal do Paraná, demonstrou otimismo de que os deputados vão aprovar a acusação. “Se houver uma leitura séria da denúncia, os deputados terão consciência de que é preciso dar sequência ao processo junto ao Supremo Tribunal Federal”, afirmou Costa, em entrevista à Gazeta do Povo nesta terça-feira (4).
Temer foi denunciado por corrupção passiva no caso envolvendo a JBS. A Procuradoria acusa o presidente de ter recebido R$ 500 mil em propina da empresa. É a primeira vez na história da República que um presidente é denunciado por crime comum no exercício do mandato. Para que Temer seja processado, a acusação precisa passar pela Câmara, com aprovação de dois terços dos 513 deputados. Temer classificou a denúncia de “peça de ficção”. Athayde Costa rebateu a declaração: “o presidente tenta atacar a PGR e a Lava Jato como um todo, mas a denúncia foi baseada em provas robustas e a Câmara deve permitir o prosseguimento do caso”.
Os ataques à Lava Jato não partem apenas do presidente, na opinião de Costa. A recente redução na equipe da Polícia Federal de Curitiba, por exemplo, também preocupa o MPF. O número de delegados caiu de nove para seis. “Nós vemos as mudanças na Polícia Federal como um claro ataque à Lava Jato. É uma situação preocupante, pois pode afetar o andamento dos inquéritos policiais”, disse Costa.
As últimas decisões do próprio STF também preocupam a força-tarefa, como as solturas do ex-ministro José Dirceu e do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures. Os procuradores dizem que “respeitam o STF e aceitam as decisões”, mas segundo Costa, em todos os casos, o Ministério Público tinha certeza de que todos os requisitos para a prisão preventiva estavam “completamente preenchidos”. “Agora temos que continuar e aprimorar o trabalho”, completou.
O que não preocupa a força-tarefa é a mudança na Procuradoria-Geral da República. Em setembro, Rodrigo Janot deixa o posto mais alto da instituição e deve ser substituído por Raquel Dodge, indicada por Temer. Apesar de Raquel ter posturas distintas as de Janot, Athayde Costa não acredita em mudanças na equipe que conduz a Lava Jato em Curitiba. “Ela já disse que não vai mexer no quadro e estamos tranquilos com isso, confiamos e acreditamos no trabalho da Raquel”, afirmou o procurador, aproveitando para negar a possibilidade de renúncia coletiva na força-tarefa se Raquel Dodge for confirmada como nova PGR: “Não houve movimento de renúncia, a escolha dela foi republicana”.