Um grupo de deputados evangélicos participava do costumeiro culto que ocorre todas as manhãs de quarta-feira num plenário da Câmara. Foi quando chegou a notícia de que o presidente eleito Jair Bolsonaro estava prestes a anunciar o nome do educador Mozart Ramos Neves como seu ministro da Educação.
O culto foi praticamente suspenso e os parlamentares, mesmo sem ter marcado agenda, partiram para o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde funciona o governo de transição, e exigiram uma audiência com o ministro extraordinário Onyx Lorenzoni. Foram lá para tentar barrar a escolha de Mozart, visto por eles como inimigo do projeto Escola Sem Partido.
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Capitaneados pelo deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), um dos líderes da bancada evangélica, o grupo de doze parlamentares não conseguiu ser recebido de imediato. Foi prometido que teriam o desejado encontro com Onyx à tarde. Eles voltaram para a Câmara e ocorreu o que Sóstenes definiu como o "estopim" para derrubar a indicação de Mozart: a provocação de um deputado da oposição, Silvio Costa (Avante-PE).
"O Silvio Costa nos disse, provocando: 'esse Bolsonaro é do ...'. Não vou repetir o palavrão. E continuou. 'Só escolhe nome bom. Escolheu um bom nome para o MEC'. Ouvir isso foi o estopim. E ali definimos barrar o Mozart", contou Sóstenes à Gazeta do Povo.
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Mozart Neves foi reitor da Universidade Federal de Pernambuco e secretário de Educação de Pernambuco. É diretor do Instituto Ayrton Senna e seu nome foi apresentado a Bolsonaro por Viviane Senna, que esteve duas vez com o presidente eleito e chegou a ser cotada para a pasta. "O trabalho que ele fez na universidade mostra seu alinhamento ideológico. Não é o nosso", disse o deputado.
O recuo era questão de tempo
Na volta ao CCBB, ao meio-dia, deu-se o encontro da bancada evangélica com Onyx, que vetaria de vez o nome de Mozart. "Dissemos a ele que fomos surpreendidos. Que estávamos altamente decepcionados. Respeitamos muito a qualidade técnica do Mozart, mas ideologicamente não se afina conosco nem com o que Bolsonaro propôs na campanha. Ele nos garantiu que a escolha não estava definida ainda e que se tratava de especulação. E que levaria nossa posição ao Bolsonaro".
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Quando alguns jornais já confirmavam o nome de Mozart para ministro, surgiram os rumores da pressão evangélica e, uma hora depois, o Instituto Ayrton Senna divulgou uma nota negando o nome de seu dirigente para ministro.
Mozart deverá ser substituído pelo procurador federal Guilherme Schelb, mais alinhado com Sóstenes e seu grupo. "Tem um perfil que se afina com a gente. Mas não o indicamos e nem temos que respaldar fulano ou beltrano", disse Sóstenes, apesar da pressão no governo de transição. "Se formos consultados. Se formos chamados a opinar, é outra coisa. Temos dificuldade em indicar. A frente acha não ser esse seu papel".
A possibilidade de Mozart Neves ser ministro da Educação arrancou elogios até do PSOL, partido de esquerda que faz dura oposição a Bolsonaro. "A ser verdade que ele será ministro, é uma boa notícia. Nem imaginava elogiar algo desse governo. Como disse Millôr Fernandes: ‘ninguém está 100% errado’", disse o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).
Na manhã desta quinta-feira (22), Sóstenes e seus aliados atuavam na comissão especial do Escola Sem Partido, na Câmara, trabalhando para aprovação do projeto.
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