Apesar da resistência da ala jovem, o PSDB decidiu na noite desta segunda-feira (12) que vai permanecer na base aliada do presidente de Michel Temer, após adiar esta decisão por pelo menos duas semanas. Os tucanos acreditam que desembarcar do governo agora prejudicaria a aprovação das reformas da Previdência e trabalhista. Além disso, preferem observar os desdobramentos da crise política na expectativa da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente.
A absolvição da chapa Dilma-Temer na última sexta-feira (9) pelo Tribunal Superior Eleitoral fortaleceu o argumento daqueles que queriam a permanência do PSDB na base de apoio ao governo. Deputados tucanos afirmaram nos bastidores que é necessário aguardar a denúncia contra Temer por suspeita de corrupção que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve enviar neste mês.
Os tucanos só devem mudar de ideia se surgir um fato novo que piore ainda mais crise, como, por exemplo, novas revelações de crimes que podem aparecer em delações que estão sendo negociadas com a Justiça. “Se os fatos mudarem, terão outras análises”, disse o senador José Serra (SP), ex-ministro das Relações Exteriores, ao anunciar a decisão do partido à imprensa.
O PSDB está rachado em dois principais grupos. De um lado estão os “cabeças-pretas”, como são chamados os membros mais novos no partido, que defendem o rompimento da sigla com Temer. Diante de tantas suspeitas de corrupção envolvendo integrantes do governo e o próprio presidente Temer, os tucanos mais novos temem que a crise política e as denúncias atrapalhem o desempenho da legenda no pleito do ano que vem.
Do outro lado, “os cabeças-brancas”, membros mais velhos, sustentam que ainda é cedo para deixar o governo antes que as reformas em tramitação no Congresso sejam concluídas. Eles também não querem liberar os cargos ocupam no governo. O partido tem quatro ministros na Esplanada.
Participaram do encontro o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE); quatro governadores – Geraldo Alckmin (SP), Beto Richa (PR), Marconi Perillo (GO) e Simão Jatene (PA); dois prefeitos de capital – João Doria (SP) e Arthur Virgílio Neto (Manaus); os ministros Bruno Araújo (Cidades), Aloysio Nunes (Relações Exteriores), Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Luislinda Valois (Direitos Humanos), além de deputados e senadores tucanos.
Duas importantes lideranças do partido não compareceram à reunião: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador afastado Aécio Neves (MG).
Sem PSDB, Temer perderia governabilidade
O adiamento da decisão sobre a permanência ou não do PSDB na base do presidente Michel Temer era esperada diante do esforço do governo em manter seu principal aliado. Sem o apoio dos tucanos, Temer perderia também governabilidade e diminuiria as chances de conseguir barrar o avanço da denúncia contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF). Isto porque o PSDB é o maior partido de sustentação do presidente depois do PMDB e Temer depende dessa maioria que ainda mantém no Legislativo para continuar no Palácio do Planalto e aprovar as reformas.
Na Câmara, o governo ainda preserva uma maioria. De acordo com a consultoria política Arko Advice, a base aliada conta com 347 deputados e, com uma eventual saída do PSDB, manteria cerca de 300 deputados. O problema é que, nesse cenário, o Planalto dependeria de partidos como PP, PR, PSD, PRB e PTB, ex-integrantes do antigo “Centrão”, que somam 163 cadeiras na Casa. O “Centrão” já foi uma força na Câmara que contribuiu para o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Com a delação da JBS e as denúncias contra Temer, o governo perdeu o apoio de PPS, PSB, PODEMOS e PHS, que, juntos, representam 64 deputados.
Para barrar a denúncia de Janot, Temer precisa de 142 votos, número que é factível dentro da base atual. O procurador-geral deve apresentar até o final de junho uma denúncia contra o presidente por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça. Janot usa como base a delação de Joesley Batista, dono da JBS, que gravou uma conversa comprometedora com Temer. Essa denúncia só avançará no STF se 342 deputados – dois terços da Câmara – autorizarem a Corte a seguir com o processo. Se a Câmara autorizar o processo e o plenário do STF aceitar a denúncia da PGR, Temer se tornará réu.
Base no Senado
Para a Arko Advice, o cenário de apoio ao presidente no Senado Federal é semelhante ao da Câmara. Atualmente, governo conta com 58 senadores, ou seja, mais de 71% da Casa. Mas sem o PSDB, o governo ficaria refém de PP, PSD e PR. Essas legendas somam 16 senadores. Após as denúncias da JBS, o Planalto perdeu o apoio de nove senadores com o desembarque de PPS, PSB e PODEMOS.
Se o PSDB deixa o governo, além de não poder contabilizar seus votos, pode perder ainda aliados, pois o rompimento poderia incentivar outros partidos a desembarcarem da base aliada como PP, PSD e PR. Por isso, nos bastidores, Temer evitou ao máximo a debandada dos tucanos.
Com ou sem Temer, o PSDB tem um problema interno: as suspeitas de corrupção do senador afastado Aécio Neves (MG), que foi flagrado pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista. O parlamentar afastado ocupava o cargo de presidente da sigla até as revelações da delação de JBS. E ele é um dos defensores da manutenção dos tucanos na base aliada.
Eleição antecipada
No discurso na reunião de segunda, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, propôs antecipar a eleição para escolher novos membros da executiva nacional, entre eles, o substituto definitivo de Aécio. A eleição do novo comando do PSDB está prevista para maio do próximo ano, mas senadores e deputados querem antecipar o pleito para o segundo semestre deste ano. A estratégia é tirar o tucano mineiro do foco político para que a legenda possa tentar “renovar” sua imagem para as eleições de 2018.
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