• Carregando...
O senador do PT Jaques Wagner e o ex-candidato a presidente do PSOL, Guilherme Boulos: críticas mútuas ficaram no passado. | Ricardo Stuckert/Fotos Públicas
O senador do PT Jaques Wagner e o ex-candidato a presidente do PSOL, Guilherme Boulos: críticas mútuas ficaram no passado.| Foto: Ricardo Stuckert/Fotos Públicas

Em janeiro de 2005, durante um ato no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido por militantes do PSOL com gritos de “Lula, não sou otário, seu patrão é o Fundo Monetário” e “você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão”.

Já em abril de 2018, o PSOL divulgou uma resolução política que diz, entre outros pontos, que “Lula Livre é também uma das bandeiras” do partido.

Os mais de 13 anos que separam os dois eventos evidenciam a diferença de “temperatura” na relação entre petistas e psolistas. Nos seus primeiros anos de existência, o PSOL, originário de uma dissidência do PT, fazia questão de se ser visto como uma das siglas mais ativas de oposição ao governo Lula. Críticas mútuas entre os membros das duas legendas eram constantes. Hoje, PT e PSOL têm mostrado grande sintonia, e o início da atual legislatura na Câmara dos Deputados reforça o quadro.

LEIA TAMBÉM: Derrota da Lava Jato: Justiça Eleitoral vai julgar crime comum associado a caixa 2

O PT apoiou formalmente a candidatura de Marcelo Freixo (PSOL-RJ) à presidência da Câmara, em movimentação que contrariou o maior parceiro histórico do partido, o PCdoB. Os integrantes das duas legendas têm participado em conjunto de atos de crítica ao governo de Jair Bolsonaro (PSL), em especial à reforma da previdência, e de tributo à vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018.

Deputados de PT e PSOL têm até sentado próximos no plenário da Câmara, em espaço oposto ao o PSL. “Tem ocorrido realmente um esforço de aproximação entre nós e o PT. A aliança para a eleição da Mesa Diretora foi um grande gesto neste processo”, destacou a deputada federal Áurea Carolina (PSOL-MG).

“Bem maior”

A análise comum dos membros de duas siglas é que a oposição que querem empreender ao governo Bolsonaro precisa da união entre os membros da esquerda – para tanto, divergências “menores” precisam ser desconsideradas.

“Havia uma grande barreira entre o PT e o PSOL, mas ela foi superada. Hoje, o que existe é um entendimento da importância de se construir uma frente única de esquerda”, disse o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP). “O PSOL tem sido um grande parceiro. E a prioridade nossa é a de garantir a unidade da oposição aqui dentro”, acrescentou o também deputado federal José Guimarães (PT-CE).

LEIA TAMBÉM: MPF denuncia ex-ministros petistas por rombo de R$ 1,86 bilhão no BNDES

O parlamentar do Ceará define como “defesa da democracia” a postura similar de PSOL e PT nas homenagens a Marielle Franco e na bandeira “Lula Livre”. “Participar desses atos não é defender partidos, e sim estar do lado da democracia, da transparência”, destacou.

Membro do PSOL desde 2015, o deputado Glauber Braga (RJ) vai na mesma linha: “a frente de oposição é necessária no momento em que estamos vivendo. Nós precisamos de articulação para combater a agenda do governo Bolsonaro. É hora de construir pontes. Quem adotar uma posição muito sectária vai ser atropelado”.

Radicais

O sectarismo criticado hoje por Braga foi uma das principais características do início do PSOL. O partido nasceu após a expulsão de antigos membros do PT – a então senadora Heloísa Helena e os ex-deputados federais João Fontes (SE), Luciana Genro (RS) e Babá (PA) – que foram caracterizados como radicais por contestarem alianças firmadas pelo PT com partidos tidos como de centro e de direita.

Eles também se posicionaram contra decisões do governo Lula – curiosamente, uma delas foi a reforma da previdência implantada no primeiro ano da gestão petista, em 2003.

O PSOL obteve seu registro definitivo em 2005. No mesmo ano, explodiu o escândalo do mensalão, o principal do primeiro mandato de Lula. O episódio foi marcado por CPIs e discussões inflamadas entre governistas e oposicionistas. À época, o PSOL, principalmente com Heloísa Helena e Luciana Genro, esteve entre os maiores adversários do PT.

LEIA TAMBÉM: O que é o projeto que virou obsessão de Paulo Guedes. E por que pode não funcionar

Já em 2011, no início do primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, o PSOL assinou uma CPI para investigar acusações de corrupção no governo federal. O ato motivou críticas inflamadas do PT, que acusou o PSOL de estar “fazendo o jogo” da oposição da época, liderada por PSDB, DEM e PPS.

PSOL e PT também viveram grande antagonismo durante as eleições presidenciais de 2006 e 2010. Os candidatos do PSOL na disputa foram, respectivamente, Heloísa Helena e o ex-deputado paulista Plínio de Arruda Sampaio. Os dois presidenciáveis do PSOL subiram bastante o tom contra os nomes do PT – Lula e Dilma – e, nos segundos turnos da disputa, o partido anunciou neutralidade.

Outro momento de troca de críticas entre PT e PSOL se deu durante a onda de protestos de 2013 e 2014. Como um dos alvos das manifestações era a Copa do Mundo que se realizaria no Brasil, integrantes do PT acusaram o PSOL de tentar desestabilizar o governo Dilma. O PSOL foi apontado como apoiador dos “black blocs”, manifestantes que utilizavam da violência como forma de protesto.

Já nas eleições presidenciais de 2014, o PSOL adotou postura diferente em relação ao PT. Embora a candidata do partido, Luciana Genro, tenha apresentado críticas à gestão de Dilma Rousseff, seus embates com Aécio Neves (PSDB) se tornaram mais célebres. E, no segundo turno, lideranças do partido, como Jean Wyllys e Marcelo Freixo, declararam apoio à petista.

LEIA TAMBÉM: OAB vai ao STF contra MP de Bolsonaro sobre contribuição sindical

A eleição de 2018 foi a comprovação do novo momento entre os dois partidos. O ato de lançamento da pré-candidatura de Guilherme Boulos pelo PSOL, em março, contou com um vídeo enviado pelo ex-presidente Lula. Na peça, o petista agradecia o apoio que vinha recebendo de Boulos. No mês seguinte, no ato que Lula promoveu em São Bernardo do Campo (SP) antes de ser preso, estavam presentes expoentes do PSOL como Boulos, o deputado federal Ivan Valente (SP) e o presidente nacional do partido, Juliano Medeiros.

O PSOL foi, ainda, o primeiro partido a apoiar Fernando Haddad (PT) no segundo turno da disputa presidencial, na qual o petista acabaria derrotado por Bolsonaro.

Impeachment

Mas, anos antes da eleição, o impeachment da ex-presidente Dilma foi o que determinou a “virada” na relação entre PT e PSOL. Os integrantes do PSOL no Congresso estiveram entre os mais aguerridos defensores da ex-presidente. Um ato que simbolizou o processo foi a cusparada que Jean Wyllys deu em Jair Bolsonaro, à época deputado federal, no dia da votação na Câmara.

“Ali se deu realmente uma grande transformação. Eles se posicionaram com muita convicção contra o golpe”, disse Paulo Teixeira.

Futuro

Como o governo Bolsonaro ainda está em seu início e temas de relevo para o Planalto, como a reforma da Previdência e o pacote antiviolência do ministro da Justiça, Sergio Moro, estão com a tramitação em fase embrionária no Congresso, a tendência é que a parceria entre PT e PSOL permaneça sólida.

Para os deputados petistas Teixeira e Guimarães, a aproximação pode até desembocar em coligações formais nas próximas eleições..

Já a deputada Áurea Carolina disse que “ainda não é o momento para esse tipo de discussão”. “Isso é algo que precisaria de uma construção grande, complexa. É algo que não está no nosso radar agora”, apontou.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]